Num ambiente tão volátil, torna-se duvidosa a eficácia da medida tomada na semana passada de zeragem do IOF.
A ameaça da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) de rebaixar o rating brasileiro se junta à deterioração dos fundamentos das áreas externa e fiscal e ao movimento de saída de capitais aplicados em países emergentes para compor um quadro propício à intensa volatilidade em um dos preços mais cruciais da economia: a taxa de câmbio.
Entre a mínima (R$ 2,1285) e a máxima (R$ 2,1540), o dólar oscilou na sexta-feira 1,2%. Fechou com valorização de 0,47%, a R$ 2,1330. Num ambiente tão volátil, torna-se duvidosa a eficácia da medida tomada na semana passada de zeragem da tributação incidente sobre a entrada de capitais externos de renda fixa como forma de atrair os investidores de fora.
Os analistas começam a acreditar que outra medida que poderia ser tomada nesse mesmo sentido - e que representaria a radicalização da tática de sedução dos hedge funds globais - também não seria vitoriosa. Trata-se da eliminação do IOF de 1% hoje cobrado sobre o aumento das posições "vendidas" em dólar.
Há três tipos de capitais estrangeiros. O mais sólido é o investimento direto estrangeiro (IED). Destina-se ao investimento produtivo que permanece no país por décadas. Ele está em queda. De janeiro a abril, o saldo líquido é positivo em US$ 18,98 bilhões, ante US$ 20,19 bilhões em igual período de 2012. De menor qualidade que o IED, mas mesmo assim longe de configurar aplicação especulativa, vem depois o investimento estrangeiro em carteira.
São aplicações que grandes fundos globais fazem em renda fixa e em ações no Brasil. E o saldo até cresceu, passando de US$ 8,6 bilhões nos primeiros quatro meses do ano passado para US$ 10,62 bilhões em idêntico período de 2013. O capital de pior qualidade é o que vem por meio das operações de "carry trade".
Trata-se da arbitragem entre moedas cujo lucro advém da diferença entre as taxas de juros. Uma operação muito comum feita até 2010 consistia em tomar dinheiro emprestado em ienes, com taxa de juros negativa, e posterior aplicação em reais.
O especulador ganhava nas duas pontas. O rendimento vinha não só da elevada taxa básica brasileira como também da apreciação do real. O volume de carry trade era tão gigantesco que se transformou no principal fator de valorização da taxa de câmbio. Foi para impossibilitar a operação que a Fazenda passou a cobrar o IOF de 1% em julho de 2011. E o negócio morreu. Dá para ressuscitá-lo agora quando o país está precisando de ajuda externa para evitar que a alta do dólar provoque mais inflação? O mercado tem suas dúvidas.
Em primeiro lugar, porque o juro real brasileiro já não é mais tão expressivo quanto antigamente. O juro para 360 dias do swap pré/DI está em 8,95%, o que descontando a inflação de 5,8% projetada para o mesmo período rende 3% reais. Em segundo porque se pipocam de todos os lados pressões para a valorização do dólar, o risco é de a variação cambial engolir o rendimento. Por sua natureza arisca, esse capital mais especulativo pode até testar uma ou outra operação, mas os volumes não devem ser significativos como antigamente.
A volatilidade não se restringe ao mercado de câmbio. O de juros futuros sofreu intensas oscilações. E as taxas subiram em linha. Manteve-se a contradição: a projeção para o contrato mais curto (o referente a janeiro de 2014 avançou de 8,57% para 8,58%) subiu com menor intensidade do que a taxa dos contratos com vencimentos mais distantes. Para janeiro de 2017, ela passou de 9,93% para 10,03%.
Quando o BC está no meio de um ciclo de austeridade monetária, o voto de confiança indicaria a necessidade de derrubada do juro longo. Normalmente, o mercado supõe que o Banco Central terá êxito na empreitada. Não se trata agora de falta de credibilidade na autoridade monetária em si. O temor é que o dólar suba tanto que seja politicamente inviável promover choque de juros. Restaria a opção de abrir mão do trunfo eleitoral decorrente da inflação baixa para preservar outro: a taxa de desemprego em nível historicamente reduzido.
O medo de uma alta ainda mais intensa do dólar é verdadeiro ou fruto de imaginações excitadas pela especulação? Unânime, o mercado faz coro à declaração feita na semana passada pelo diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes: "É inevitável". É claro que Mendes se referia simplesmente a um movimento de alta do dólar, não a uma disparada. Mas a maioria das projeções colhidas no mercado é bem pessimista. Fala-se em dólar acima de R$ 2,30 como ponto de partida assim que o Federal Reserve (Fed) anunciar a retirada dos auxílios à liquidez nos Estados Unidos. E os mercados tentam decifrar em que momento isso acontecerá a partir dos sinais enviados pelos indicadores. Na sexta-feira foi divulgado um dos mais relevantes: o relatório do mercado de trabalho americano.
O dado de maio não veio tão bom quanto esperavam as instituições. O número de novas vagas de emprego, 175 mil, superou as previsões, de 165 mil. Mas a taxa de desemprego subiu de 7,5% para 7,6%. E o mercado se lembrou da meta de emprego perseguida pelo Fed, banco central que, além da inflação, mira as suas armas monetárias também no mercado de trabalho. Enquanto o índice não baixar para 6,5% não haverá alívio monetário. O estrategista de renda variável do HSBC Brasil, Carlos Nunes, não acredita que a taxa tenha que baixar tanto assim para o Fed retirar o pé ainda pousado sobre o acelerador.
"Se os EUA continuarem gerando novos empregos numa faixa acima de 150 mil ao mês, o Fed já vai afrouxar o pé", diz. Enquanto o BC americano estiver injetando mensalmente US$ 85 bilhões na economia, estará com o acelerador pressionado. A diminuição na oferta de dinheiro significará o alívio gradual da aceleração, mas ainda não será entendida como uma pisada no freio. Mas tão-somente a desaceleração já será suficiente para os mercados globais voltarem a investir nos EUA, retirando recursos hoje aplicados nos países emergentes.
O Itaú antecipou sua expectativa de início da redução de compras de ativos pelo Fed de dezembro para setembro. A maioria dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) - órgão americano equivalente ao Copom brasileiro - já percebeu uma melhora na perspectiva para o mercado de trabalho. Mas espera agora resultados mais animadores na confiança de empresários e consumidores.
"Se a economia dos EUA sustentar o ritmo de expansão de 2% e a média de criação mensal de empregos alcançar pelo menos 175.000 (abaixo da média móvel dos últimos seis meses), o Fed estaria disposto a começar a reduzir o ritmo do QE em setembro", diz relatório do banco. QE é a sigla em inglês para afrouxamento quantitativo. Como o mercado vive de expectativas, até lá a volatilidade não deverá dar tréguas.
Fonte: Brasil Econômico
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