Depois de quatro anos de solavancos, a recuperação da economia americana parece finalmente estar num caminho menos árido.
Muitos economistas agora preveem que 2014 será o melhor ano para o crescimento desde 2005, com a taxa de desemprego estimada para o próximo ano abaixo de 7% pela primeira vez desde 2008. As vendas no mercado imobiliário foram retomadas, o setor petrolífero está crescendo e os empregos, apesar de não abundantes, estão sendo criados em ritmo constante. Na quarta-feira passada, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, também elevou sua estimativa de expansão para o próximo ano.
Já ocorreram ondas anteriores de otimismo quanto à crença de que a economia americana estava pronta para apresentar um crescimento melhor. E a turbulência no mercado financeiro na semana passada foi um lembrete de que muita coisa ainda pode dar errado.
Notícias de que o Fed poderia começar a reduzir as medidas de estímulo no fim deste ano fizeram com que a Média Industrial Dow Jones encerrasse a semana com queda de 1,8%, para 14.799,40 pontos na sexta-feira. Ontem, os mercados continuaram em terreno negativo, com a Dow perdendo 0,94%, para 14.659,56 pontos.
O declínio persistente na cotação de ações ou aumentos além do esperado nos juros das hipotecas e outras taxas de juro de longo prazo podem retardar a recuperação americana, que começou em junho de 2009 e tem sido dolorosamente lenta. O emprego, a renda média familiar, a produção industrial e os preços dos imóveis ainda não voltaram aos níveis anteriores à recessão.
Mas apesar do fraco ritmo de crescimento geral, a recuperação tem se mostrado surpreendentemente resistente. A economia dos EUA tem absorvido uma série de choques, de aumentos de impostos a um tsunami no Japão, sem se deixar abater ou cair numa nova recessão. E, o que é crucial, a inflação permanece baixa.
"A boa notícia é que se [a recuperação] continuar tomando forma gradualmente", a economia poderia ver um crescimento forte e persistente, diz Nariman Behravesh, economista-chefe do IHS Global Insight.
Será preciso uma alta prolongada para recuperar o terreno perdido ao longo da recessão, que se estendeu de dezembro de 2007 a junho de 2009. O desemprego de longo prazo, um indicativo do estrago causado pela recessão, permanece em níveis historicamente elevados. A economia tem crescido, mas a um ritmo anual de 2,2%, abaixo da média de 3,3% registrada em décadas recentes. O aperto do cinto do governo federal pesou na recuperação, mas agora esse impacto está se dissipando.
A pesquisa mensal mais recente realizada pelo The Wall Street Journal com economistas indica que eles esperam que o produto interno bruto dos EUA cresça a uma taxa de 2,3% neste ano e 2,8% no próximo. O Fed elevou sua previsão de crescimento para uma taxa entre 3% e 3,5%. Em março, a estimativa era entre 2,9% e 3,4%.
Tal otimismo em relação à recuperação parece justificável graças, em parte, ao forte crescimento no setor petrolífero e à restauração, ainda que frágil, do mercado imobiliário. Espera-se que a contribuição do segmento imobiliário no segundo semestre seja um ponto essencial, diz Joseph LaVorgna, economista-chefe do Deutsche Bank DBK.XE +1.26% nos EUA.
Mas há quem prefira controlar o otimismo. "Estamos extremamente cautelosos e não estamos esperando um crescimento drástico", diz Mike DePasquale, diretor-presidente da BIO-key International, BKYI +1.28% Inc., empresa que desenvolve software de segurança.
Dúvidas são inevitáveis em meio a uma recuperação que tem desafiado os contornos e o ritmo de recuperações anteriores. O mercado de trabalho permanece tenso, apesar de a taxa de desemprego, que chegou a dois dígitos, ter recuado para 7,6%. Os EUA têm hoje 2,4 milhões de empregos a menos do que tinha no início da recessão. Levando em conta o crescimento da população e o ritmo atual de contratações, levará mais de nove anos para o nível de emprego voltar ao patamar anterior à recessão, segundo estimativas da Brookings Institution.
O lento ritmo das contratações e da alta dos salários tem feito com que alguns não vejam diferença entre a recessão e a recuperação. Segundo a mais recente pesquisa WSJ/NBC News, 58% dos americanos acreditam que o país está em recessão.
Ainda assim, a confiança do consumidor hoje está no nível mais alto dos últimos cinco anos. As famílias que contraíram muitos empréstimos antes da recessão reduziram suas dívidas. E agora estão começando a gastar novamente.
Entre esses consumidores está Abbie Batia, da Flórida, cuja família comprou um novo carro no ano passado. Ela trabalha meio período como professora assistente e seu marido, em uma empresa de gestão de construção. "Definitivamente, há quatro anos estávamos contando os tostões, muito mais do que hoje", diz ela.
Muitos economistas dizem que são os consumidores que darão impulso à atual recuperação, já que as empresas continuam relutantes em investir.
A debilidade da economia no mercado externo também permanece sendo um desafio para a recuperação. Se a recessão na zona do euro piorar e a desaceleração na China e em outros lugares persistir, isso poderia afetar o bom momento vivido pelos EUA. Há também riscos dentro do próprio país. As disputas fiscais em Washington poderiam pressionar ainda mais consumidores e empresas. Até agora, o governo americano cortou 4,5% dos seus gastos desde junho de 2009 ante um aumento médio de gastos de 6,3% nos períodos de recuperação da economia desde 1970.
Fonte: The Wall Street Journal
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