Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Disparada de juros nos EUA pode ameaçar recuperação

Aumentos acentuados nos juros de longo prazo dos Estados Unidos, provocados por declarações do banco central americano, ameaçam as vendas de casas, carros e outros produtos de valor elevado que vêm ajudando a economia do país a se recuperar.

O aumento dos juros em setores sensíveis provavelmente não é grave a ponto de tirar a recuperação do rumo, dizem economistas. Mas eles ocorrem justamente quando o crescimento vagaroso da economia tinha dado sinais de melhora, deixando preocupados consumidores e líderes empresariais.
"Isso me torna um pouco mais cauteloso", disse Ron DeFeo, diretor-presidente da Terex Corp., TEX -1.50% uma firma do Estado de Connecticut que fabrica guindastes, equipamentos para pavimentação e outras máquinas para construção, um setor sensível às oscilações nos juros. "Estou hesitante porque realmente não acredito que a economia americana esteja numa fase de forte crescimento."

O juro das hipotecas convencionais de 30 anos estava em 4,71% ao ano ontem, acima dos 3,88% de um mês atrás, segundo a Bankrate.com. Já o juro sobre títulos de dívida corporativa com grau de investimento subiu de 2,86% para 3,42% ao ano, segundo o Barclays, BARC.LN -2.72% e o juro das notas do Tesouro dos EUA chegaram a 2,48% ao ano ontem, contra 2,13% um mês antes.

A economia dos EUA cresceu a uma taxa anualizada de 1,8% no primeiro trimestre, depois de ter crescimento quase nulo no quarto trimestre de 2012, informou o Departamento de Comércio. Boa parte do crescimento foi gerada por gastos com bens de consumo de alto valor e construção civil, dois setores sensíveis aos juros. Excluindo esses dois setores, a economia cresceu a uma taxa anêmica (anualizada) de 0,9% no primeiro trimestre e se contraiu nos últimos três meses de 2012.

As vendas de carros e caminhonetes, por exemplo, devem superar 15 milhões de unidades este ano, uma alta em relação aos 10,4 milhões de 2009. Embora concessionárias e economistas não vejam perigo no momento, há preocupação com a escalada dos juros.
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"Hoje, o mercado de carros no geral está saudável, mas ao mesmo tempo é muito frágil", disse William C. Fox, dono de quatro concessionárias de veículos novos e usados no interior do Estado de Nova York. "Somos afetados imediatamente se alguma coisa der errado."

Os juros devem subir em paralelo à aceleração do crescimento, o que pode representar uma tendência de boas notícias econômicas. Juros mais altos têm seus benefícios, como melhor rendimento na poupança.

Mesmo assim, as autoridades do Federal Reserve, o BC americano, ficaram surpresas com a velocidade e a dimensão com que os mercados aumentaram os juros após suas declarações de semana passada. Os juros vinham subindo desde o início de maio, mas dispararam após a entrevista coletiva do presidente do Fed, Ben Bernanke, em 19 de junho, quando ele disse que o banco pode decidir encerrar em meados de 2014 seu programa de compra de US$ 85 milhões mensais em títulos de dívida se a economia continuar melhorando. O programa foi iniciado ano passado para manter os juros de longo prazo baixos e elevar os preços de ativos como casas e ações. Ele também disse que o Fed abandonaria o plano de suspender as compras de títulos se o desempenho da economia for fraco.

"É muito cedo para formar uma opinião sobre o ritmo da reversão [do programa]", disse o presidente do Fed regional de Dallas, Richard Fisher. "Os mercados ainda estão processando os sinais que estão recebendo."

Economistas do Goldman Sachs GS -1.39% estimam que a combinação de aumento nos juros e baixa nas ações pode cortar 0,4 ponto percentual do crescimento do país nos próximos 12 meses.

Os juros mais altos reduzem a atração do refinanciamento das hipotecas, que ajuda as famílias a baixar as prestações mensais. A Mortgage Bankers Association, que representa o setor de financiamento imobiliário, informou na quarta-feira que os pedidos de refinanciamento diminuíram na semana passada para o seu nível mais baixo desde novembro de 2011.

Economistas do Bank of America BAC -1.07% Merrill Lynch projetam que um aumento de um só ponto percentual nas taxas de juros dos financiamentos, de 3,5% para 4,5% ao ano, elevou de US$ 80 para US$ 100 a prestação mensal de uma hipoteca de US$ 160.000.

Michelle Meyer, economista do Merrill, disse que o acesso à casa própria continua em níveis historicamente altos devido ao juro baixo e à queda no preço dos imóveis desde a crise financeira. Ela espera que a demanda por imóveis residenciais continue, em parte por causa da propensão a comprar que as pessoas já desenvolveram. "Creio que a economia conseguirá lidar com o aumento dos juros", disse Meyer.

As ações das construtoras caíram após as declarações do Fed, refletindo o temor de que o juro mais alto possa reduzir a demanda.

Mas Frederick N. Cooper, vice-presidente de finanças, desenvolvimento internacional e relações com investidores da Toll Brothers Inc., TOL -1.56% da Pensilvânia, tem uma visão mais otimista. O juro está subindo, disse ele, porque a economia está forte e o mercado de trabalho está melhorando. "São esses os fatores realmente importantes que beneficiam o setor imobiliário, e creio que superam em muito o impacto dos juros, considerando as taxas atuais", disse ele.

Há também uma demanda reprimida por compradores forçados a ficar à margem do mercado desde a recessão, disse ele. No fim de abril, a carteira de encomendas da empresa para casas em construção e sob contrato estava 52% maior em unidades e 69% maior em valor financeiro, comparado com um ano antes.

A Toll Brothers, porém, talvez não sinta o efeito da alta dos juros tanto quanto outras construtoras porque muitos clientes dos seus imóveis de luxo podem tranquilamente arcar com o custo, disse.

Fonte: The Wall Street Journal

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