Aumentos acentuados nos juros de longo prazo dos Estados Unidos, provocados por declarações do banco central americano, ameaçam as vendas de casas, carros e outros produtos de valor elevado que vêm ajudando a economia do país a se recuperar.
O aumento dos juros em setores sensíveis provavelmente não é grave a ponto de tirar a recuperação do rumo, dizem economistas. Mas eles ocorrem justamente quando o crescimento vagaroso da economia tinha dado sinais de melhora, deixando preocupados consumidores e líderes empresariais.
"Isso me torna um pouco mais cauteloso", disse Ron DeFeo, diretor-presidente da Terex Corp., TEX -1.50% uma firma do Estado de Connecticut que fabrica guindastes, equipamentos para pavimentação e outras máquinas para construção, um setor sensível às oscilações nos juros. "Estou hesitante porque realmente não acredito que a economia americana esteja numa fase de forte crescimento."
O juro das hipotecas convencionais de 30 anos estava em 4,71% ao ano ontem, acima dos 3,88% de um mês atrás, segundo a Bankrate.com. Já o juro sobre títulos de dívida corporativa com grau de investimento subiu de 2,86% para 3,42% ao ano, segundo o Barclays, BARC.LN -2.72% e o juro das notas do Tesouro dos EUA chegaram a 2,48% ao ano ontem, contra 2,13% um mês antes.
A economia dos EUA cresceu a uma taxa anualizada de 1,8% no primeiro trimestre, depois de ter crescimento quase nulo no quarto trimestre de 2012, informou o Departamento de Comércio. Boa parte do crescimento foi gerada por gastos com bens de consumo de alto valor e construção civil, dois setores sensíveis aos juros. Excluindo esses dois setores, a economia cresceu a uma taxa anêmica (anualizada) de 0,9% no primeiro trimestre e se contraiu nos últimos três meses de 2012.
As vendas de carros e caminhonetes, por exemplo, devem superar 15 milhões de unidades este ano, uma alta em relação aos 10,4 milhões de 2009. Embora concessionárias e economistas não vejam perigo no momento, há preocupação com a escalada dos juros.
"Hoje, o mercado de carros no geral está saudável, mas ao mesmo tempo é muito frágil", disse William C. Fox, dono de quatro concessionárias de veículos novos e usados no interior do Estado de Nova York. "Somos afetados imediatamente se alguma coisa der errado."
Os juros devem subir em paralelo à aceleração do crescimento, o que pode representar uma tendência de boas notícias econômicas. Juros mais altos têm seus benefícios, como melhor rendimento na poupança.
Mesmo assim, as autoridades do Federal Reserve, o BC americano, ficaram surpresas com a velocidade e a dimensão com que os mercados aumentaram os juros após suas declarações de semana passada. Os juros vinham subindo desde o início de maio, mas dispararam após a entrevista coletiva do presidente do Fed, Ben Bernanke, em 19 de junho, quando ele disse que o banco pode decidir encerrar em meados de 2014 seu programa de compra de US$ 85 milhões mensais em títulos de dívida se a economia continuar melhorando. O programa foi iniciado ano passado para manter os juros de longo prazo baixos e elevar os preços de ativos como casas e ações. Ele também disse que o Fed abandonaria o plano de suspender as compras de títulos se o desempenho da economia for fraco.
"É muito cedo para formar uma opinião sobre o ritmo da reversão [do programa]", disse o presidente do Fed regional de Dallas, Richard Fisher. "Os mercados ainda estão processando os sinais que estão recebendo."
Economistas do Goldman Sachs GS -1.39% estimam que a combinação de aumento nos juros e baixa nas ações pode cortar 0,4 ponto percentual do crescimento do país nos próximos 12 meses.
Os juros mais altos reduzem a atração do refinanciamento das hipotecas, que ajuda as famílias a baixar as prestações mensais. A Mortgage Bankers Association, que representa o setor de financiamento imobiliário, informou na quarta-feira que os pedidos de refinanciamento diminuíram na semana passada para o seu nível mais baixo desde novembro de 2011.
Economistas do Bank of America BAC -1.07% Merrill Lynch projetam que um aumento de um só ponto percentual nas taxas de juros dos financiamentos, de 3,5% para 4,5% ao ano, elevou de US$ 80 para US$ 100 a prestação mensal de uma hipoteca de US$ 160.000.
Michelle Meyer, economista do Merrill, disse que o acesso à casa própria continua em níveis historicamente altos devido ao juro baixo e à queda no preço dos imóveis desde a crise financeira. Ela espera que a demanda por imóveis residenciais continue, em parte por causa da propensão a comprar que as pessoas já desenvolveram. "Creio que a economia conseguirá lidar com o aumento dos juros", disse Meyer.
As ações das construtoras caíram após as declarações do Fed, refletindo o temor de que o juro mais alto possa reduzir a demanda.
Mas Frederick N. Cooper, vice-presidente de finanças, desenvolvimento internacional e relações com investidores da Toll Brothers Inc., TOL -1.56% da Pensilvânia, tem uma visão mais otimista. O juro está subindo, disse ele, porque a economia está forte e o mercado de trabalho está melhorando. "São esses os fatores realmente importantes que beneficiam o setor imobiliário, e creio que superam em muito o impacto dos juros, considerando as taxas atuais", disse ele.
Há também uma demanda reprimida por compradores forçados a ficar à margem do mercado desde a recessão, disse ele. No fim de abril, a carteira de encomendas da empresa para casas em construção e sob contrato estava 52% maior em unidades e 69% maior em valor financeiro, comparado com um ano antes.
A Toll Brothers, porém, talvez não sinta o efeito da alta dos juros tanto quanto outras construtoras porque muitos clientes dos seus imóveis de luxo podem tranquilamente arcar com o custo, disse.
Fonte: The Wall Street Journal
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