A determinação de Pequim para enfrentar crescentes ventos econômicos contrários sem recorrer a suas intervenções habituais está aumentando a ansiedade em mercados ao redor do mundo.
A preocupação de que os líderes chineses não estão oferecendo nenhum estímulo, nem outras formas de lidar com as evidências de fraqueza econômica cresceu depois que um indicador preliminar, divulgado ontem, sugeriu que o setor de manufatura, essencial para a China, encolheu a uma taxa mais rápida em junho do que em maio. O indicador é o sinal mais recente de que a economia chinesa pode estar titubeando, depois que as exportações, a produção industrial e os investimentos em ativos fixos desaceleraram no mês passado. Os resultados atingiram os mercados financeiros e de commodities das Ásia, com temores que a desaceleração do crescimento chinês pode exercer um efeito cascata.
Ao mesmo tempo, a China está às voltas com um aperto de caixa cada vez mais severo, com o aumento dos juros para empréstimos interbancários. O aperto decorre, em parte, de uma redução na entrada de capitais estrangeiros, devido à falta de confiança nas perspectivas de crescimento do país.
Os dois fatores constituem um desafio para os novos líderes em Pequim, que já sugeriram estar empenhados em reformar a economia chinesa mesmo que isso implique um crescimento mais lento no curto prazo. Esse compromisso será agora testado diante de uma queda estrutural na demanda pelas exportações chinesas, excesso de capacidade em setores-chave como aço e cimento, e temores de um acúmulo de dívidas incobráveis, resultado das medidas de estímulo adotadas no passado.
"Nos últimos cinco anos, mais ou menos, estabilizar o crescimento foi a prioridade", disse Qu Hongbin, economista do HSBC HSBA.LN -0.44% . "Sempre que havia uma desaceleração, eles introduziam alguma medida para garantir que o crescimento permaneceria estável. Mas ficou claro que o novo governo prefere a reforma ao estímulo."
As preocupações com o crescimento atingiram os investidores, já preocupados com sinais de que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, possa frear seus esforços para estimular a economia americana. O Shanghai Composite, índice de ações de referência da China, caiu 2,8%, enquanto a bolsa de Hong Kong caiu 2,9% e a de Tóquio, 1,7%. Os futuros de referência de petróleo caíram 2,2% na quinta-feira na Ásia, e o dólar australiano, sensível à situação na China, declinou em relação ao dólar americano.
As reformas em consideração incluem a liberalização do sistema financeiro, fixação de preços de eletricidade e gás com base no mercado e medidas para melhorar os serviços sociais e enfrentar a desigualdade. Muitos economistas julgam que remediar a desigualdade é necessário para elevar o consumo interno e reequilibrar a economia, sem recorrer às exportações e a investimentos excessivamente elevados. Planos detalhados devem ser apresentados numa reunião do Partido Comunista no segundo semestre.
Ainda assim, a economia em marcha lenta deve incentivar o governo a aliviar as condições. O crescimento caiu para 7,7% no primeiro trimestre, e muitos economistas julgam que cairá mais ainda no segundo trimestre. No ano passado, as autoridades reagiram a uma desaceleração semelhante cortando os juros e acelerando projetos de infraestrutura.
"Esses dados vão testar a determinação do governo de manter sua atual política macroeconômica", disse Louis Kuijs, do RBS.
Na quarta-feira o Conselho de Estado chinês, ou o gabinete, prometeu manter uma política monetária "prudente" e proteger-se contra riscos sistêmicos, e reiterou seu objetivo de fixar taxas de juros ditadas pelo mercado. O Conselho também se comprometeu a interromper o crédito para setores com excesso de capacidade.
Os bancos chineses vêm enfrentando uma escassez de liquidez desde o fim do mês passado, o que levou os bancos pequenos, em especial, a considerar condições mais rígidas para empréstimos. O banco central chinês tem amplas reservas para aliviar o aperto de crédito, se quiser, mas até agora se esquivou disso, temendo o aumento da alavancagem. O rápido crescimento do chamado "shadow banking" (atividades bancárias na sombra), sujeitas a muito pouca regulamentação, despertou temores de uma possível crise no sistema financeiro.
O HSBC PMI preliminar, uma pesquisa da atividade industrial em todo o país, caiu de 49,2 em maio para 48,3 em junho, o menor nível em nove meses, com qualquer valor inferior a 50 indicando contração. O índice é ponderado em favor das empresas e exportadoras menores. Os números mais recentes do PMI oficial, que dá mais peso ao setor estatal, continuaram positivos por pequena margem.
Fonte: The Wall Street Journal
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