Títulos de proteção negociados no exterior sobem até 45%. Governo garante que a economia brasileira cresce de maneira firme.
O mercado secundário de títulos de dívidas internacionais tem registrado um constante mau humor dos investidores estrangeiros com o Brasil, que já embutem nos preços um risco de 'downgrade' das notas de riscos de crédito. Dois dos principais indicadores de risco de probabilidade de calote usados internacionalmente - o Emerging Markets Bond Index Brazil (Embi+ Br) e os Credit Default Swaps (CDS) - refletem uma piora desde o final do ano passado, se acentuando mais recentemente e refletindo uma nota de crédito pior do que as notas das próprias agências de classificação.
O primeiro índice terminou o ano em 146 pontos e agora já ultrapassa os 200 pontos, ou seja com prêmio 2% maior do que os títulos do Tesouro americano, representando uma alta de 35%. Já o segundo índice já subiu subiu 53 pontos nos últimos 30 dias - maior alta desde março de 2009, segundo a Bloomberg - para fechar em 159,9 pontos ontem, alta de 45% no ano.
O custo é o mais alto em 11 meses, e o CDS do Brasil já estão em média 35 pontos mais caros do que os de México, Peru, Colômbia e Panamá. Quanto mais alto, maior a desconfiança dos investidores nos papéis de governo, empresas e bancos brasileiros emitidos no exterior em moeda estrangeira. O EMBI mede a diferença entre as taxas pagas por uma cesta de papéis (brasileiros, no caso) e os juros pagos pelos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Os CDS são contratos de hedge que os investidores em papeis brasileiros compram para se proteger contra um eventual calote do emissor.
A alta pode ser interpretada como indício de que os investidores estão apostando que o corte da nota de classificação de risco do Brasil, atualmente em nível 2 de "grau de investimento" BBB pode ser inevitável, caindo um nível, mas ainda permanecendo no "grau de investimento" (na quinta-feira, a Standard&Poor´s colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa - leia mais na página ao lado).
As forças de mercado não parecem abalar o governo. Ontem, durante anúncio dos resultados do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2), o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, afirmou, que o Brasil conseguirá demonstrar "com tranquilidade" a investidores e agências de classificação de risco que sua economia está crescendo de maneira firme, com foco no aumento do investimento.
Dados do Banco Central mostram que o fluxo financeiro (investimentos em títulos, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, entre outras operações) fechou maio negativo em US$ 3,343 bilhões. Mas se considerado o dado comercial, está positivo em mais de US$ 10 bilhões. E o volume de investimentos estrangeiros diretos (IED), já descontadas repatriações de capital aos países de origem, ainda está alto até abril (último dado disponível): US$ 5,720 bilhões.
Para Carlos Guzzo, diretor de Controle de Gestão, Risco e Relação com Investidores do BES Investimento do Brasil, não vê razão para pânico. "O Brasil está hoje sentado em um colchão de reservas para lá de confortável, com mais de US$ 375 bilhões. O BC tem um arsenal completo de medidas para contornar uma saída de dólares e a consequente alta da moeda", diz. Para Guzzo, realmente a percepção de risco piorou: "A lua-de-mel acabou.A hora é de reflexão", diz.
Para ele, a alta da inflação e do dólar tem razões conjunturais - no caso do câmbio, lembra o executivo, a alta é generalizada, motivada pela melhora dos indicadores da maior economia do mundo. "Mas há uma preocupação real, estrutural: a questão fiscal", diz. "O descontrole começou na crise de 2008, quando o governo precisou lançar mão de políticas anticíclicas".
Com a possibilidade de o governo americano colocar o pé no freio ao programa de estímulos à economia - com a compra mensal de US$ 85 bilhões em títulos - os juros tendem a subir, competindo com os bônus emitidos por países emergentes como o Brasil. Para os investidores, a relação entre risco e retorno dos papéis americanos começa a ficar mais favorável.
"Uma conjunção de fatores concorrem para essa piora na percepção de risco", diz Ricardo Torres, professor de finanças da BBSusiness School. "Começou pela possibilidade da redução dos programas de estímulo dos EUA, passou pela alta da Selic, depois pela mudança do IOF para estrangeiros e por último, o anúncioda S&P".
O professor é um pouco mais pessimista e credita a desconfiança atual as interferências do governo em diversos setores da economia, que incluem fixação de tarifas, câmbio e juros e mudanças em impostos. Para ele, é preciso também mais transparência no controle de gastos. E, a curto prazo, aconselha o governo a retirar urgentemente o IOF sobre posições vendidas em dólar na BM&F.
Geralmente, em economias financeiramente abertas, variações da percepção de risco soberano são acompanhadas por variações nas entradas líquidas de capitais, com impacto na taxa de câmbio.
A queda no risco-País permite que tanto a República como outros agentes acessem o mercado internacional de capitais em condições mais favoráveis ao ampliar a base de investidores internacionais dispostos a financiar títulos de emissores domésticos. Vale lembrar que os juros das emissões soberana servem de referência para as emissões privadas, ou seja, a queda no risco-País reduz custos em geral.
Fonte: Brasil Econômico
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