As economias emergentes perderam quase US$ 2 trilhões no mercado de ações desde que a crise financeira estourou, no fim de 2007. E a culpa toda por esse desastre pode ser dada às empresas estatais, que respondem por um terço dos US$ 9 trilhões do valor de mercado dessas economias.
Nos últimos cinco anos, o valor das empresas privadas nas economias emergentes — incluindo Brasil, Rússia, Índia e China, assim como México, Indonésia e Turquia — manteve-se praticamente estável. Enquanto isso, o valor das empresas estatais (definidas aqui como companhias em que o governo tem uma participação de pelo menos 30%) caiu mais que 40%. Hoje, existe apenas uma empresa estatal (a PetroChina 601857.SH +3.40% ) entre as dez empresas mais valiosas do mundo, contra cinco em 2008.
Essas perdas indicam que os mercados globais não seguem a sabedoria convencional dos anos pós-crise, quando as manchetes das revistas anunciaram "A Ascensão do Capitalismo de Estado" e os livros profetizaram "O Fim do Mercado Livre". A maioria destas previsões começou com a China, que respondeu à crescente crise financeira pressionando os bancos estatais para que emprestassem com juros baratos a setores prioritários. O governo chinês também orientou empresas estatais a emprestar e investir agressivamente, expandindo assim o controle estatal sobre o setor corporativo.
Quando a China escapou da recessão mundial relativamente ilesa, ela encorajou governos de mercados emergentes, da Rússia ao Brasil, a seguir o seu exemplo, e muitos ainda estão promovendo o capitalismo estatal. Agora, eles podem ser forçados a reconsiderar. Os investidores estão manifestando sua opinião e abandonando esses mercados. Mas não são apenas os preços das ações que estão em declínio. Lucros menores das empresas estatais significam menos dinheiro para os governos e menor crescimento da produtividade para a economia em geral.
Em meados dos anos 2000, uma onda crescente de liquidez estava saindo dos Estados Unidos e Europa e os investidores começaram a inflar indiscriminadamente o preço das ações de empresas dos mercados emergentes, tanto privadas como estatais. Apostando que a demanda da China continuaria elevando os preços das matérias-primas, os investidores injetaram dinheiro em qualquer empresa envolvida com energia ou matérias-primas — setores que no mundo emergente são geralmente controlados pelos governos.
Tudo isso mudou após a crise. Investidores tiveram que voltar a se concentrar na rentabilidade e mais uma vez eles passaram a ver as estatais como gigantes de raciocínio lento, propensas a investir e engordar demais. Segundo nossa pesquisa no Morgan Stanley Investment Management, os investidores agora avaliam empresas administradas pelo governo em cerca de metade do preço das empresas privadas no mesmo setor, do bancário até ao de telecomunicações.
No mundo todo, investidores estão transferindo seu dinheiro de commodities para a área de tecnologia. Isso ajuda a explicar porque os EUA — um centro de inovação tecnológica — abriga agora nove das dez empresas de maior valor de mercado do mundo. Enquanto isso, as companhias estatais no mundo emergente não estão sendo capazes de manter o mesmo ritmo. Inovação tecnológica nunca foi o forte dos burocratas.
Há algum tempo atrás, muitos governos do mundo emergente também viam as estatais como elefantes lentos que pesavam sobre as suas economias. Na década de 90, muitos começaram a vender as estatais que possuíam, na esperança de que as empresas privadas elevassem a lucratividade e produtividade do país — e muitas vezes isso funcionou. Na China, a reforma das empresas estatais ajudou a sustentar o "milagre econômico" ao demitir milhões de trabalhadores ineficientes e levar uma administração mais profissional a algumas de suas maiores empresas.
Na década seguinte, porém, a onda de privatizações acabou, desacreditada por tentativas fracassadas em países como a Rússia, onde a privatização se transformou numa liquidação de ativos valiosos do Estado para oligarcas ricos. Ao mesmo tempo, o boom descontrolado dos mercados emergentes fez com que crescer parecesse fácil tanto para as empresas privadas como para as estatais.
Agora, com os investimentos debandando, os países em desenvolvimento precisam retomar o caminho da reforma, o que inclui privatização e menor controle do governo sobre a economia. Nos últimos anos, a lucratividade das empresas estatais também vem caindo, e agora é o crescimento da receita que está declinando rapidamente. Curiosamente, a China parece estar sendo a primeira a reconhecer a necessidade de uma mudança.
Desde que assumiu o governo, em março, o premiê chinês Li Keqiang tem falado sobre a necessidade de uma revolução "autoimposta" para reduzir o poder do governo e promover "mecanismos de mercado" para crescer. No Ocidente, muitos analistas ainda se maravilham com a forma com que a China pareceu driblar a recessão global através da implementação de um programa de estímulo de meio trilhão de dólares, em 2009. Mas na China cada vez mais se acredita que os fundos foram mal direcionados para projetos dispendiosos e desnecessários como siderúrgicas. A agência de notícias estatal, Xinhua, até vem publicando editoriais sobre como outra rodada de estímulos seria maléfica.
Os líderes chineses reconhecem claramente que os empreendimentos estatais não fizeram um uso produtivo da onda de empréstimos bancários imposta pelo governo em 2009. De fato, de acordo com a pesquisa da minha firma, desde aquela época o retorno sobre o patrimônio desses empreendimentos caiu de 10% para menos de 6%.
Para recuperar o seu encanto, os governos dos países emergentes fariam bem em calcular igualmente o custo crescente do capitalismo estatal e começar a reduzir o papel do Estado, colocando mais empresas estatais nas mãos do setor privado. Caso contrário, essas companhias vão continuar destruindo a riqueza do estado e diminuindo as perspectivas de crescimento dos países emergentes.
Sharma é diretor de mercados emergentes da Morgan Stanley Investment Management e autor do livro "Breakout Nations: In Pursuit of the Next Economic Miracles" ("Países em Ascensão — Em busca dos próximos milagres econômicos", em tradução livre), editora Norton, 2012.
Fonte: The Wall Street Journal
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