Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Aperto de liquidez na China se espalha

Ainda que as autoridades chinesas estejam indicando que vão afrouxar seu rígido controle sobre o dinheiro em circulação, algumas empresas revelam problemas cada vez maiores de liquidez em algumas áreas e que seus clientes estão buscando alternativas.

Não está claro o quanto os problemas de liquidez na China já tiveram impacto além do setor financeiro, que foi atingido este mês por um aperto monetário amplamente atribuído a uma tentativa de conter a crescente onda de crédito. Mas há indícios de que outros setores podem ser prejudicados se os juros dos empréstimos interbancários continuarem altos.
Nas últimas duas semanas, as empresas chinesas usaram cada vez mais os aceites bancários — um tipo de garantia de curto prazo emitida pelos bancos para financiar o comércio — para pagar suas contas, em vez de dinheiro, segundo pessoas de vários setores no país.

Liu Jiang, gerente de compras de uma fábrica de cabos de cobre na província de Zhejiang, um polo industrial para pequenos e médios fabricantes e exportadores, disse que alguns de seus clientes vêm usando os aceites bancários porque não dispõem de caixa suficiente.

"Os aceites bancários são relativamente fáceis de obter, pois não aparecem no balanço dos bancos", disse Liu, cuja empresa consome cerca de 150.000 toneladas de cobre por ano. Ele acrescentou que os custos de financiamento da sua firma mais que dobraram desde o início do mês, apesar de "ainda não termos sentido o aperto".

Um executivo de uma grande empresa chinesa de alimentos e bebidas disse que seus clientes também vêm tentando pagar os fornecimentos com aceites bancários, embora sua empresa há muito adote a política de só aceitar pagamento adiantado em dinheiro. Ele também disse que os clientes estão com dificuldade para obter crédito.
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Os bancos ajudam a facilitar o comércio emitindo suas notas de aceite bancário, que garantem que a empresa receberá o pagamento em alguma data futura quando entregar os bens que concordou em produzir.

Uma vez que o banco promete pagar, seja quem for o detentor da nota no vencimento, o aceite pode passar por várias mãos, como substituto do dinheiro.

O aceite bancário é uma forma comum e relativamente barata de acesso ao crédito também nos Estados Unidos. Na China, existe um aquecido mercado secundário para esses papéis.

As emissões na China vêm se ampliando rapidamente nos últimos anos, com aumento de 22% em 2012 e de 27% em 2011, segundo dados do Nomura. Havia quase 6 trilhões de yuans (US$ 975,6 bilhões) em notas de aceite bancário em circulação no final do ano passado, informou a Nomura.

O detentor de um aceite bancário também pode resgatá-lo antes do vencimento, embora com desconto do valor de face. Nas últimas duas semanas, a taxa desse desconto subiu muito, pois os bancos tentam conservar seus fundos dissuadindo as pessoas de descontar os aceites, o que resulta em mais notas de aceite em circulação e menos dinheiro.

Segundo números da provedora de dados econômicos Ceic, a taxa de desconto dos aceites subiu para 9,3% ao ano na sexta-feira passada, depois de girar em torno de 3,5% na maior parte do mês de maio. Ontem, a taxa de desconto caiu para 7,5% ao ano, ainda o nível mais alto desde outubro de 2011.

Um negociador de cobre de Xangai disse que alguns bancos de médio e grande porte não estão dispostos a descontar essas notas de modo algum, tentando economizar caixa. O operador disse que sua firma está trabalhando com suas próprias reservas de caixa.

"Esse desconto efetivo nos pagamentos [...] vai elevar os custos de financiamento na economia real, principalmente nas áreas de manufatura que dependem muito [dos aceites bancários] para se financiarem", disse Anne Stevenson-Yang, fundadora da firma de pesquisas J Capital Research, de Pequim, num informe recente.

O banco central da China já sinalizou que quer acabar com o aperto de caixa interbancário, declarando na terça-feira que injetou fundos em algumas instituições financeiras e está disposto a fazê-lo novamente.

Isso pode aliviar as pressões sobre a economia real, mas, com os bancos já avisados pelo BC de que precisam refrear o crédito, os problemas podem persistir.

O dono de uma firma de transportes na cidade de Qingdao disse que alguns clientes já lhe informaram que pretendem atrasar o pagamento em cerca de um mês.

Fonte: The Wall Street Journal

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