Rio de Janeiro – As projeções no curto e no médio prazo para a economia do país são de melhoria. A avaliação é de Regis Bonelli, coordenador do seminário trimestral de Análise Conjuntural, promovido ontem (17) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O Ibre, segundo o pesquisador da Área de Economia Aplicada do instituto, está trabalhando com a perspectiva preliminar que o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) será melhor no segundo trimestre, oscilando entre 0,7% e 0,8%. Isso significa “uma boa aceleração em relação ao que aconteceu no primeiro [trimestre], e se mantido esse 0,8%, a gente chega no fim do ano com uma taxa da ordem de 2,5% de crescimento, que é mais ou menos o que os analistas estão projetando para este ano”.
Bonelli disse à Agência Brasil que os resultados do primeiro trimestre do PIB “jogaram uma ducha de água fria nas projeções nossas e de todo mundo”. Segundo ele, o crescimento de 0,6% do PIB nos três primeiros meses do ano ficou abaixo das expectativas do mercado, que oscilavam entre 0,9% e 1%. Do ponto de vista dos setores, segundo ele, o que frustrou foi o desempenho da indústria. Já no âmbito da demanda final, a frustração ficou por conta, em parte, do consumo das famílias, que tem sustentado o crescimento da demanda e que evoluiu pouco no período. Além disso, as exportações líquidas tiveram uma contribuição mais negativa do que o esperado.
No geral, o economista disse que enxerga um ambiente um pouco melhor em relação ao nível de atividade, mas “ainda morno” na comparação ao que se previa. Esse quadro, entretanto, apresenta riscos, destacou. Um deles diz respeito à inflação, que “teima” em ficar acima do teto da meta, o que deverá suceder neste mês de junho, com tendência de redução até o final do ano. “Mas, ainda assim, muito pressionada e muito acima do centro da meta, que é onde o Banco Central mira”.
Na avaliação do pesquisador do Ibre, essa aceleração da inflação está conseguindo corroer os ganhos de renda real que se mostravam muito fortes até o final do ano passado e o começo deste ano. O consumo das famílias não mostrou grande incremento no primeiro trimestre. Além disso, os rendimentos nominais também estão “fraquejando”. Isso quer dizer que os empresários e empregadores em geral não estão dando reajustes muito acima do índice de inflação, o que era comum em 2012.
“Esse ponto é importante porque esse menor crescimento da renda real é, em pequena medida, devido à aceleração da inflação e, em uma medida maior, devido à desaceleração da renda nominal, ou seja, da renda corrente. Porque até o ano passado, os aumentos estavam muito altos e o desemprego estava muito baixo nas principais capitais”. A isso se somava uma expansão forte da renda real. “Isso, aparentemente, está sendo posto em cheque agora”, declarou.
Em relação ao investimento, a sinalização dada é de melhoria em relação ao ano passado, estimou. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciam que a taxa de investimento foi o “carro-chefe” no primeiro trimestre, pelo lado da demanda. Embora sem esperar nada milagroso, Bonelli disse que o Ibre tem a perspectiva de continuidade da trajetória de crescimento do investimento no país. “A gente percebe mais firmeza nos investimentos, por conta, inclusive, das sondagens qualitativas feitas com empresários, que mostram que embora todos se sintam receosos, ainda assim você nota um pouco mais de luz em relação ao que estava percebendo há três ou quatro meses”.
O risco novo que se “acende no radar”, acentuou o economista, se refere às contas externas. “Atualmente, não é um risco, mas potencialmente, sim. Porque a gente já está percebendo que, com a balança comercial piorando como tem piorado, o risco de usar muito capital do exterior este ano aumenta”. Enfatizou que o investimento direto estrangeiro não deverá ser suficiente para cobrir o déficit de transações correntes, que é o que o país tem que absorver do exterior para fechar a balança de pagamentos sem usar as reservas.
Disse, ainda, que os soluços que o dólar vem apresentando refletem diretamente na balança comercial e podem respingar na inflação, embora o Banco Central se mantenha vigilante quanto a esse aspecto. Bonelli alertou, porém, que as oscilações do câmbio podem impactar sobre as empresas que têm se endividado em moeda estrangeira. “Embora o juro seja baixo [no exterior], o risco da desvalorização [do dólar] é dele [empresário]”.
Argumentou que para uma empresa muito alavancada, uma desvalorização em torno de 10% pode ser um desastre. Lembrou que esse filme foi visto em 2008 para 2009, quando o cenário era a crise financeira internacional. Argumentou, por outro lado, que um dólar mais desvalorizado facilita as exportações de manufaturados. “Tirar o efeito líquido dessas coisas não é trivial”, disse.
Fonte: Agência Brasil
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