Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Vem aí a tropa de choque

O dólar só caiu na terça-feira porque os investidores consideravam certa a zeragem do IOF incidente sobre as operações com derivativos.

Na expectativa das medidas destinadas a resgatar a credibilidade do governo na área fiscal, prometidas para amanhã, o mercado de câmbio operou ontem frustrado com a falta de resultado concreto da longa reunião mantida na véspera entre a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O dólar só caiu na terça-feira porque os investidores consideravam certa a zeragem do IOF incidente sobre as operações com derivativos. E esta medida só foi anunciada 24 horas depois. Foi preciso que o dólar fechasse na maior cotação em quatro anos para a Fazenda se decidir.

Embora sem o pânico e voracidades especulativas dos pregões anteriores, o mercado demonstrou seu desapontamento ao sustentar ontem gradual mas firme movimento de alta da moeda. Apesar de o dólar estar em queda diante das moedas de outros países emergentes, aqui fechou com valorização de 0,84%, cotado a R$ 2,1540, maior preço desde o final de 2009. Incrédulos, todos os mercados pagaram para ver. A Bovespa afundou um pouco mais (baixa de 1,18%) e a curva futura de juros consolidou a perspectiva de que o Copom terá de subir a Selic para 10% até o fim do ano. Trata-se de comportamentos que estão longe de configurar um voto de confiança no governo.

Os operadores consideram que a volta da austeridade fiscal não exime o governo de tentativas de alargamento da liquidez do mercado de câmbio. Uma maior oferta de dólares, mesmo que procedentes das operações mais especulativas, é essencial para garantir a contraparte do hedge necessário a empresas endividadas na moeda. A retirada do IOF de 1% cobrado sobre a ampliação de posições vendidas em derivativos atende a essa necessidade, uma vez que o BC se mostra reticente em se desfazer dos dólares depositados nas reservas internacionais do país. Por isso é muito bem-vinda.

A partir de agora o BC passa a contar com os especuladores a seu favor, não mais contra. Trata-se de uma turma que joga pesado. É composta pelos hedge funds mais agressivos do mundo. Eles vêm atrás do juro real de 3%. E para que sejam vitoriosos é essencial que o dólar pare de subir. O ideal é que comece a cair, pois ganham a apreciação do real. Eles têm cacife para isso.

Mas querem? A rigor, não se importam se o Brasil desfruta ou não de solidez fiscal, se há ameaça de rebaixamento de rating, se a inflação é alta e o crescimento é baixo. Tendo garantia de juro e câmbio apreciado, é o que basta. Eles são a tropa de choque contra o dólar caro. Mas o carry trade só funciona enquanto conseguirem tomar empréstimos a juros baixos no exterior. Depois que o Fed apertar a política monetária americana, a atuação poderá ser menos favorável. 

Mesmo depois que o dólar passou de R$ 2,15, o BC não abandonou ontem sua posição de mero espectador. Deixava transparecer que algo seria feito até o fim do dia. Em momento algum, desde a instalação no final de maio da frenética volatilidade, o BC assumiu uma atitude de confronto com o mercado. Não fez questão, por exemplo, de defender a ferro e fogo um determinado nível de preço que pudesse sugerir a fixação de um teto intransponível.

Gradualmente, deixou que o dólar galgasse platôs mais elevados e só agiu para moderar excitações excessivas. No dia 31 de maio, interveio quando a moeda bateu em R$ 2,1460; no dia 5, quando alcançou R$ 2,15; na segunda-feira, no instante em que a cotação chegou a R$ 2,16; e, na terça, no momento da máxima de R$ 2,1670. Ontem, na ausência de uma algaravia especulativa, ele poderia ter invocado o segundo fator que costuma desencadear intervenções: a alta autônoma do dólar, sem amparo externo. O Dollar Index recuou 0,10%. Mas resolveu não agir.

As suas intervenções vêm sendo discretas, limitam-se a oferecer instrumentos de hedge cambial, os contratos de swaps tradicionais. Nada de dólares físicos das reservas. Por que esta demonstração de calma em pregões às vezes caracterizados pelo paroxismo? As razões foram conhecidas ontem.

Os dados que divulgou sobre o comportamento da balança cambial na primeira semana do mês não respaldam o nervosismo do mercado de câmbio no período, caracterizados por picos de pânico e reprimendas da autoridade. O fluxo cambial (nada que entra ou sai do país fica de fora dessa contabilidade) registrou um superávit de US$ 1,568 bilhão.

E não se pode argumentar que o saldo decorreu de uma exuberante performance do lado comercial. Pelo contrário, o saldo entre a contratação de câmbio para exportações e os referentes às importações foi modestamente positivo, de US$ 299 milhões.

Quem fez a diferença mesmo foi o prato financeiro: US$ 14,216 bilhões foram embora, mas as desconfianças, medos e especulações não evitaram que US$ 15,486 bilhões entrassem. O saldo foi positivo em US$ 1,27 bilhão. Apenas na sexta-feira, 7, dia de muita turbulência, a entrada líquida de capitais financeiros foi de US$ 2,18 bilhões.

Os estrangeiros que operam no mercado futuro de dólar da BM&F cansaram de esperar pela redução da alíquota do IOF de 1% sobre o aumento das posições vendidas. Após as pesadas perdas sofridas no vencimento do contrato de maio, foram paulatinamente reduzindo suas posições. E, na terça-feira, trocaram de lado.

Na sexta-feira, ainda sustentaram posição vendida em dólar futuro de US$ 2,54 bilhões. Na segunda, caiu para US$ 957 milhões. E na terça assumiram posição oposta, passando a "comprados" em US$ 563 milhões.

Abandonaram os bancos nacionais, os expoentes entre os "vendidos", com posição total entre dólar futuro e cupom cambial de US$ 14,81 bilhões, e se aliaram aos fundos de investimentos locais, os líderes dos "comprados", com saldo líquido de US$ 18,77 bilhões. Após a zeragem do IOF, a tendência é de retomada do posicionamento vendido.

Uma das possíveis medidas em estudo para baixar a temperatura cambial -a de elevar o limite legal à montagem pelos bancos de posições vendidas no mercado à vista - parece ter saído do radar, uma vez que a providência teria eficácia duvidosa. Hoje, o teto é de US$ 3 bilhões, pois 60% do que exceder a isso será recolhido compulsoriamente e sem remuneração.

Os bancos só assumem posições vendidas quando o custo dos empréstimos externos é inferior à expectativa de ganho com a variação cambial mais juros (Selic) do mesmo período. Com o dólar em rota primária e desconhecida de alta e com o encarecimento das linhas externas, trata-se de um tiro no escuro.

Foi por isso que os bancos mudaram de mão no mês passado. Estatísticas atualizadas ontem no site do BC mostram que eles permaneceram "vendidos" entre US$ 8,3 bilhões e US$ 8,5 bilhões entre janeiro e março, período em que o câmbio estava engessado em R$ 2,00.

Em abril, já percebendo mudanças, reduziram a posição vendida para US$ 5,113 bilhões. E o que aconteceu em maio? De "vendidos", passaram a "comprados" em US$ 5,408 bilhões. Ou seja, desde o mês passado já estão posicionados na direção correta, a da alta do dólar.

Os juros futuros não destoaram do comportamento geral dos mercados, marcado por pessimismo e desconfiança. O contrato para o fim do ano subiu de 8,70% para 8,75%. E o contrato longo referencial, com vencimento em janeiro de 2017, avançou de 10,38% para 10,61%.

Fonte: Brasil Econômico

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