A China está tomando medidas para reduzir a abundância de crédito e evitar uma onda de inadimplência e concordatas, mas isso ameaça desacelerar o crescimento da segunda maior economia do mundo.
O total de financiamento social — medida mais abrangente do crédito na China — caiu cerca de 33%, para 1,19 trilhão de yuans (US$ 194 bilhões) em maio em relação à abril, no segundo mês de declínio substancial, informou ontem o Banco Popular da China, o banco central chinês.
Novos empréstimos bancários, um subgrupo do financiamento social, também caíram muito nos dois últimos meses. E na sexta-feira, o BC alertou que empréstimos não convencionais estavam criando riscos cada vez maiores para o sistema financeiro.
Mas colocar um freio nos riscos de crédito cria, por sua vez, o risco de reduzir ainda mais o ritmo do crescimento da China ao dificultar o financiamento de empresas, de projetos governamentais de infraestrutura e do desenvolvimento imobiliário. Uma leva de dados para o mês de maio já indica que o trimestre corrente talvez venha a ser o segundo seguido de crescimento decepcionante, e muitos economistas vêm diminuindo suas projeções de expansão para o ano todo.
O consumo alimentado pelo crédito que se seguiu à crise financeira de 2008 reanimou o crescimento chinês, mas endividou pesadamente bancos e governos locais, gerando preocupações sobre a saúde do sistema financeiro. Agora, o governo está diante de um dilema: reduzir o crédito para evitar que problemas financeiros se agravem provavelmente reduzirá também a taxa de expansão econômica.
Os efeitos de uma economia chinesa em desaceleração são sentidos em todo o mundo, prejudicando, entre outros, produtores de matérias-primas na América Latina e África, agricultores nos EUA e fabricantes de máquinas na Europa, que dependem da China como destino de suas exportações e investimentos.
Durante encontro este fim de semana na Califórnia, o presidente chinês, Xi Jinping, disse ao presidente americano Barack Obama que estava satisfeito com o crescimento de 7,7% do PIB da China no primeiro trimestre, segundo o website do governo central chinês. Foi um dos períodos de crescimento mais lentos desde a crise financeira global de 2008.
O governo chinês está tentando reestruturar sua economia para que ela dependa menos de exportações e investimentos e mais da demanda doméstica. Mas fazer a mudança é difícil, pois o consumidor não estará propenso a gastar mais se achar que a economia está estagnada.
No fim de semana, a China divulgou estatísticas que indicam uma redução na demanda doméstica, inclusive um declínio de 0,3% nas importações de maio, ante com um ano atrás, e um recuo de 2,9% no índice de preços ao produtor. Os preços ao produtor vêm caindo por 15 meses seguidos, um sinal de excesso de capacidade — ou demanda insuficiente — em várias indústrias.
A produção industrial da China subiu 9,2% em maio na comparação ano a ano, pouco abaixo da alta de abril e muito menor que as taxas vistas em 2010 e 2011. A produção de energia, um termômetro importante da atividade industrial, subiu só 4,1% em maio ante um ano atrás, e abaixo do crescimento de 6,2% em abril.
Já novas construções por área, uma medida fundamental da saúde do mercado imobiliário, aumentaram apenas 1% de janeiro a maio, comparado com mesmo período de 2012.
"Os principais indicadores diminuíram em todas as áreas", disse Zhiwei Zhang, economista da Nomura, que prevê um crescimento de 7,5% para o PIB da China no segundo trimestre em relação a um ano atrás e declínio contínuo no resto do ano.
Vários analistas dizem que a persistência de resultados ruins pode pressionar o governo chinês a lançar uma nova rodada de estímulos, ainda que isso signifique aumentar o crédito que ele está agora tentando controlar.
O analista do RBS Louis Kuijs, ex-economista do Banco Mundial na China, diz que o governo não deve agir até ter provas de que o desemprego está crescendo. No passado, diz ele, os líderes chineses acreditavam que era necessário um crescimento de 8% para evitar problemas com o desemprego, mas esse número pode ter caído para 7%. Umas das razões para isso seria uma diminuição na força de trabalho do país, dizem demógrafos. "Até lá, o governo não deve se desviar de seu foco nas reformas", diz Kuijs.
Durante os últimos dez anos, a China usou os empréstimos de grandes bancos estatais e outras instituições financeiras para alimentar o crescimento, principalmente financiamentos para incorporadoras e governos locais construírem rodovias, aeroportos e outras obras de infraestutura.
Mas desde a crise financeira mundial, os retornos desses empréstimos diminuíram e aumentaram os temores de que o crédito esteja agora indo para projetos que não conseguirão cumprir suas obrigações financeiras, forçando o governo a intervir ou deixar empresas quebrarem.
Desde 2010, os reguladores financeiros vêm pressionando os bancos estatais para cortar esses empréstimos, mas uma gama de instituições não convencionais surgiu para suprir essa necessidade de financiamento. Elas incluem as chamadas sociedades fiduciárias, que canalizam dinheiro de investidores ricos para projetos imobiliários e de infraestrutura.
Em maio, tanto empréstimos convencionais como os não-convencionais caíram. Empréstimos de sociedades fiduciárias, por exemplo, recuaram uns 50%, para 99,2 bilhões de yuans, em relação a abril, à medida que os reguladores endurecem as regras.
Fonte: The Wall Street Journal
Nenhum comentário:
Postar um comentário