Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Discurso de Bernanke pressiona e Ibovespa recua

Por Priscilla Arroyo

Índice paulista encerra sessão com recuo de 0,22%, aos 65.811 pontos. No mês, o Ibovespa acumula alta de 4,34%.
Em dia de grande volatilidade, o principal índice acionário da BM&F Bovespa operou com forte alta na parte da manhã, mas perdeu fôlego fechando no vermelho.
"No último dia do mês, agentes costumam ficam na defensiva", afirmou João ferreira, analista chefe da Futura Corretora.
O movimento positivo no começo do pregão foi reflexo da oferta de liquidez do Banco Central Europeu (BCE). E também da notícia que a economia americana cresceu 3% no quarto trimestre de 2011, enquanto analistas esperavam expansão de 2,8% no período.
Mas Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) desanimou os investidores. Ele declarou no começo da tarde que o mercado de trabalho nos Estados Unidos está longe do normal, sugerindo outra rodada de compra de títulos.
O discurso não foi bem digerido pelos agentes e as bolsas internacionais despencaram. Os principais índices de Wall Street caminham para fechamento no vermelho.
Há pouco, o Dow Jones recuava 0,41%, enquanto o termômetro de tecnologia Nasdaq perdia 0,67%.
Na Europa, as bolsas ficaram no campo negativo. Em Frankfurt, o DAX desvalorizou 0,46%; em Paris, o CAC-40 perdeu 0,04%; e em Londres, o FTSE retraiu 0,95%.
Destaques
Entre as maiores altas do dia ficaram as ações ordinárias da Telemar (TNLP3), com alta de 5,56%.
“A valorização ainda é reflexo da reestruturação societária da empresa, que vai facilitar operação dos acionistas”, afirmou Lauro Vilares, analista de investimentos da XP Investimentos.
Por outro lado, entre maiores desvalorizações do dia aparecem as ações ordinárias da Gafisa (GFSA3), com recuo de 7%, cotadas a R$ 4,48.
A empresa recusou oferta de compra da GP Investimentos alegando que o valor oferecido foi abaixo das expectativas.
Câmbio
No mercado de câmbio, após intervenções do Banco Central, a moeda americana apreciou 1,23%, fechando cotada a R$ 1,7180 na compra e R$ 1,7200 na venda.

Fonte: Brasil Econômico

Brics devem liderar expansão até 2050, aponta HSBC

Por Humberto Domiciano

O levantamento mostra que os países desenvolvidos devem apresentar estabilidade, com crescimento igual ou inferior a 3%, até 2050.
Os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) devem ganhar destaque entre as 10 principais economias mundiais até 2050, de acordo com pesquisa realizada pelo HSBC.
Conforme o estudo, a China ocupará o topo da lista, enquanto a Índia pulará do oitavo posto para o terceiro. O Brasil, por sua vez, deve ser a sétima economia e a Rússia, a décima quinta.
Quando se amplia a lista para os 30 países que liderarão a economia mundial em 2050, outros emergentes aparecem, como Filipinas, Indonésia, Argentina, e Egito.
O Peru, de acordo com a pesquisa, pode subir 20 posições no ranking, chegando ao 26º posto, superando a Suíça e a África do Sul.
O levantamento mostra que os países desenvolvidos devem apresentar estabilidade, com expansão igual ou inferior a 3%, até 2050. Entre as nações listadas estão os Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.
Já entre os que devem apresentar crescimento acelerado, acima dos 5%, estão a China, Bangladesh, Equador, Sri Lanka e Honduras.
O Brasil foi inserido na expansão normal (entre 3% e 5%), ao lado de México, Rússia, República Tcheca, Nova Zelândia e Croácia.
O relatório do HSBC também considerou o panorama da democracia nos países que devem apresentar crescimento econômico elevado nos próximos anos.
"O sucesso de sistemas democráticos é mais provavelmente explicado pela liberdade de expressão e criatividade que conduz à bem-sucedida atuação dos empresários. Além disso, eles fornecem controles e saldos para garantir que os governos não se tornem excessivamente poderosos, absorvendo qualquer melhoria na prosperidade do país para seu próprio benefício", assinalou o texto assinado pela economista Karen Ward.
A pesquisa analisa também a expansão demográfica dos países da América Latina até 2050, os dados mostram que Guatemala e Honduras terão o maior incremento de população em idade de trabalhar, com números próximos ou acima dos 100%.
Neste aspecto, o Brasil deve ficar próximo da estabilidade.

Fonte: Brasil Econômico

Dólar acelera alta por compra de dólares pelo BC

O Banco Central (BC) realizou um leilão de compra de dólares no mercado à vista, levando o dólar a acelerar a alta frente ao real. A taxa de corte definida na operação à vista foi de R$ 1,7032. Mais cedo, o BC já tinha feito um leilão de swap cambial reverso, que equivale, na prática, a compras no mercado futuro. Às 12h06 (de Brasília), a moeda americana subia 0,78%, para R$ 1,7122 na venda, após R$ 1,7018 no anúncio da operação.
Na véspera, a divisa fechou abaixo de R$ 1,70 - piso informal considerado pelo BC, na visão do mercado - pela primeira vez em quatro meses. O BC voltou a atuar no mercado de câmbio em 3 de fevereiro, valendo-se de leilões à vista, a termo e de swap cambial reverso para conter a valorização do real. "Na verdade, o que vamos ver é até onde vai o fôlego do BC para manter esse patamar", disse Battistel.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou na terça-feira que o banco manterá o processo de acumulação de reservas internacionais, acrescentando que o BC vai continuar entrando no mercado de câmbio para dar condições para que ele funcione. O BC divulga às 12h30 desta quarta-feira os números atualizados sobre o fluxo cambial do mês até a última sexta-feira, bem como as aquisições de moeda no período. Nas três primeiras semanas de fevereiro, o saldo cambial foi positivo em US$ 6,520 bilhões.

Fonte: Terra

Esforço fiscal abre espaço para queda de juros em 2012, diz BC


Por Luciana Cobucci - Direto de Brasília
Os governos federal, estaduais e municipais, além das empresas estatais (menos a Petrobras) economizaram, em janeiro deste ano, R$ 26,016 bilhões para pagar os juros da dívida pública - o equivalente a 18,6% da meta prevista para o ano, que é de R$ 139,8 bilhões. Para o Banco Central (BC), o cumprimento do superávit primário - a economia feita para pagar os juros da dívida - pode ajudar o governo a acertar a previsão de juros básicos abaixo de 10%, estimativa feita na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Segundo o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, o resultado fiscal de janeiro, que foi o melhor para meses de janeiro desde o início da série histórica do BC (2001) e o segundo melhor da história,abre espaço para a prometida redução na taxa básica de juros, a Selic, em 2012. "Frente a um crescimento estimado da economia de 3,5% e a meta de superávit primário que está estabelecida, isso se traduz nessa trajetória de queda de juros", disse.
De acordo com Maciel, a arrecadação de impostos do mês passado, que ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca dos R$ 100 bilhões, também é um fator que influencia positivamente na queda da taxa Selic. "A arrecadação certamente ajuda nesse cenário. Foi um resultado muito bom o de janeiro, pode-se dizer que o aumento da receita tem contribuído para esses resultados. De janeiro de 2011 para janeiro de 2012, houve um crescimento de 12,7% nas receitas totais", afirmou o chefe do BC.
Mesmo com o superávit alto, a dívida líquida do governo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro - a soma de todas as riquezas produzidas no País - aumentou em janeiro na comparação com dezembro do ano passado. No primeiro mês de 2012, a relação dívida/PIB ficou em 37,2%, contra 36,5% em dezembro, contrariando expectativas da própria autoridade monetária (37%). "A nossa previsão para fevereiro é que essa relação fique em 37,5%", disse Maciel.
 
Fonte: Terra

Sedhab contrapõe argumentos levantados pelo MPDFT contra atualização do PDOT

Após analisar o documento enviado pela 3ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Prodema) e a 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) – alegando que 12 das alterações sugeridas na proposta de atualização do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) são prejudiciais ao meio ambiente -, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Sedhab) esclareceu, por meio de nota oficial, que continuará defendendo a aprovação do Projeto de Lei da forma que foi remetido para a Câmara Legislativa do Distrito Federal. A proposta é construída junto à participação da sociedade em audiências públicas, abertas a quem tiver interesse.

De acordo com a análise feita pela Prodema e Prourb, o projeto agride ambientalmente, principalmente, duas regiões: o Parque do Tororó e a Área da Marinha Brasileira. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomenda que tais propostas sejam revistas. Porém, a Sedhad garante que o Projeto de Lei enviado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) está “absolutamente compatível com a preservação ambiental”. Ainda segundo a secretaria, diversas alterações promovidas pelo Projeto de Lei obedecem à legislação federal sobre regularização fundiária, que foi editada posteriormente ao atual PDOT, aprovado em 2009.

A Lei Orgânica do DF estabelece o prazo de cinco ou dez anos para modificações no PDOT. A única exceção para a regra é caso seja comprovado interesse público ou motivos excepcionais. De acordo com os promotores de Justiça que avaliaram o caso, nenhuma dessas alternativas se encaixa na situação atual. Logo, caso seja aprovada a mudança, o Ministério Público alerta que a aprovação das alterações poderia ser considerada inconstitucional. A Sedhab, no entanto, afirma que o relevante interesse público foi comprovado com a ampla participação da sociedade nos debates, reuniões e audiências públicas realizadas. A Secretaria ainda garante que em apenas uma das audiências públicas para debater o assunto compareceram mais de duas mil pessoas.

Para o deputado distrital Joe Valle (PSB), presidente da Frente Parlamentar Ambientalista do DF, no entanto, a lei é certeira e deixa claro que o PDOT deve ser atualizado apenas no prazo de cinco ou dez anos. “Mas nós vamos fazer as audiências públicas para chegar a um consenso, debater o assunto e ver se a vontade da população de mudar o PDOT realmente é forte”, pondera. A primeira audiência pública está marcada para o dia 14 de março, deste ano.

O distrital também ressalta que o processo da discussão está apenas começando na Câmara. “Segunda e sexta-feira acompanhei o processo todo. Estamos ouvindo ponto por ponto, discutindo as mudanças dentro deste processo e fazendo o trabalho em cima da falta de cobertura de alguns assuntos”, conta. “O que não houver consenso fica para discussão”, completa.
Por fim, a Sedhab explica que, em todas as áreas onde foram introduzidas mudanças, a motivação foi a política de regularização e de habitação, como é o caso de área próxima ao conhecido condomínio Nova Colina em Sobradinho. “Não há qualquer possibilidade de considerar que haja prejuízo ambiental naquela alteração. Pelo contrário, manter a área da forma que está no atual PDOT é que propiciaria a ampliação de ocupação irregular com irreversíveis danos ambientais”, informa a nota oficial.
 
Fonte: Correio Braziliense

Brasil será a sede do Dia Mundial do Meio Ambiente 2012

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, anunciou nesta quarta-feira que o Brasil foi escolhido para sediar o Dia Mundial do Meio Ambiente que ocorre em 5 de junho.
O tema deste ano é “Economia verde: ela inclui você?”. A idéia é convidar todas as pessoas a pensar como a economia verde pode fazer parte do dia a dia de cada um. Além disso, o programa espera que as pessoas avaliem se o caminho para a economia verde pode fornecer os resultados sociais, econômicos e ambientais necessários para um mundo de sete bilhões de pessoas. Estima-se que até 2050 esse número chegue a nove bilhões.
Desenvolvimento Sustentável
O Brasil já havia sediado o Dia Mundial do Meio Ambiente na véspera da Eco 92. Líderes mundiais, representantes de governos e organizações internacionais se reuniram para discutir um caminho para o desenvolvimento sustentável.
Para Achim Steiner, sub-secretário geral e diretor executivo do Pnuma, ao celebrar o Dia do Meio Ambiente no Brasil de novo, “estamos voltando às raízes do desenvolvimento sustentável contemporâneo para forjar um novo caminho que reflita novas realidades e oportunidades do novo século”.
Três semanas depois do Dia do Meio Ambiente, o Brasil sediará a Rio +20.
Vaguarda
O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, com 200 milhões de pessoas,  e o quinto em extensão, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Segundo relatório publicado pelo Pnuma, Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, o Brasil está na vanguarda da construção de uma economia que inclui reciclagem, energias renováveis e geração de empregos verdes. O programa estima que o país tem realizado uma das maiores reduções na emissão de gases de efeito estufa do mundo como conseqüencia de seus esforços na redução das taxas de desmatamento.
O Pnuma também anunciou que a montadora coreana KIA vai doar automóveis verdes para os vencedores de uma competição que celebra o dia.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente por Camila Viegas-Lee  da Rádio ONU em Nova York

Como reverter a feminização da pobreza


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Stephanie Seguino. Foto: Cortesia da entrevistada
Os governos devem implementar leis contra a discriminação e programas de ação afirmativa que ajudem as mulheres a saírem da pobreza, disse em entrevista à IPS a economista Stephanie Seguino. O “financiamento para a igualdade de gênero” está no centro de alguns dos problemas de difícil solução que as mulheres enfrentam no mundo. Também define se existe, ou não, a vontade política de destinar recursos reais para solucioná-los ou simplesmente se fala sem chegar a nada de concreto.
Entre 27 deste mês e 9 de março, ministros e delegados da sociedade civil se reunirão na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) por ocasião da 56ª sessão da Comissão sobre o Status da Mulher (CSM). A reunião deste ano é especialmente crucial porque avaliará até que ponto os governos cumpriram as promessas assumidas na 52ª sessão, em 2008, para estimular o financiamento destinado à igualdade de gênero e ao poder das mulheres.
Stephanie Seguino, professora de economia na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, participará dos debates da CSM como integrante de um painel sobre experiências nacionais na implementação dos acordos de 2008.
A IPS conversou com Seguino sobre como a atual crise econômica afetará as mulheres e sobre o papel dos governos na elaboração de políticas que promovam não apenas a igualdade, mas também um desenvolvimento sustentável para toda a sociedade.
IPS: Os baixos salários e o desemprego das mulheres são um problema persistente em todo o mundo desde muito antes da atual crise financeira. Como o financiamento da igualdade de gênero pode enfrentar estes assuntos?
Stephanie Seguino: Alguns dos problemas de baixos salários e desemprego das mulheres podem ser tratados por uma perspectiva de gênero ao se abordar os gastos públicos, bem como as políticas antidiscriminatórias. Claramente, são cruciais as políticas para promover a educação das meninas. Entretanto, mais do que isso, as políticas para reduzir a carga que implicam para as mulheres os cuidados de outras pessoas e para promover a participação dos homens nas tarefas de cuidados não remuneradas – como a licença paternidade – liberam tempo das mulheres para realizarem trabalhos pagos. Também ocorre que os investimentos públicos em infraestrutura, que melhoram o acesso das mulheres aos cuidados com a saúde – clínicas rurais, pessoal qualificado – e reduzem o tempo que passam em busca de água e combustível, ou levando produtos ao mercado, as ajudam a participar de atividades produtivas.
Os programas de capacitação dirigido a mulheres, especialmente para postos “masculinos” não tradicionais, são importantes. Nas economias agrícolas, os governos podem oferecer garantias de empréstimos onde as mulheres carecem de títulos de propriedade sobre a terra para facilitar seu acesso a créditos. Contudo, mesmo estas medidas serão insuficientes para combater a desigualdade salarial. Os governos têm que desenvolver e aplicar firmemente legislação antidiscriminação, e programas de ação afirmativa. Os governos podem servir como modelos, garantindo que um mínimo de postos de liderança seja ocupado por mulheres, 30%, ou mais.
IPS: A Declaração do CSM de 2008 expressa preocupação pela “crescente feminilização da pobreza”. Isto é uma tendência com probabilidades de continuar no futuro próximo?
SS: As forças da globalização continuam pressionando para baixo os salários dos trabalhadores, o que faz ajustar os orçamentos do setor público (devido à menor carga tributária corporativa e às reduções das cobranças tarifárias). Assim, é provável que as mulheres tenham um mau desempenho, especialmente no contexto de um alto desemprego. Isto se deve à tendência de se considerar que os homens merecem mais os postos de trabalho quando estes escasseiam. Enquanto não resolvermos estas pressões macroeconômicas negativas, que reduzem o crescimento e causam escassez de emprego e maior desigualdade, será difícil resolver o problema da pobreza das mulheres e das crianças sob seus cuidados.
IPS: A senhora descreveu que “esta crise fornece uma oportunidade para repensar o papel do governo na economia”. Pode explicar brevemente essa ideia?
SS: Esta crise tem suas raízes na desregulação mundial das economias, que conduz a fracassos de mercado, ao aumento da desigualdade, junto com uma maior insegurança econômica. As empresas buscam ganhos frequentemente à custa de um bem-estar comum. Não se trata de condenar as corporações por seu comportamento. As firmas buscam maximizar seus lucros no contexto de normas sociais que regulam suas ações. Isto apresenta dois desafios para os governos.
Primeiro, devem identificar e aplicar uma série de normas e regulações que sejam suficientemente flexíveis para permitir às firmas inovarem, ao mesmo tempo em que exigirem que essas empresas alinhem seus objetivos de lucro com o bem-estar social. Para dar um exemplo, as companhias tentam reduzir seus custos para elevar os lucros. Podem fazer isto baixando salários ou inovando, e, portanto, elevando sua produtividade. Sua opção sobre qual caminho para reduzir custos escolher dependerá da série de incentivos que os governos determinarem. Se um governo fixar e implementar um salário mínimo, as companhias serão obrigadas a inovar para poderem competir, o que é bom para ela, os trabalhadores e a sociedade em sua totalidade.
Segundo, os governos têm um importante papel na hora de investir em áreas cruciais para atrair em grande quantidade os investimentos privados. Por exemplo, os investimentos em infraestrutura e educação são bons para os negócios porque reduzem seus custos. Também é bom para toda a sociedade. O desafio é abordar cuidadosamente estes gastos, para que consigam estimular os investimentos empresariais que levem a maiores rendas. Um desafio relacionado é identificar os investimentos que permitem uma abordagem de gênero.
Como disse antes, há parte do gasto público que antes se pensava como bem-estar social, e que, na realidade, é um investimento em infraestrutura social, por exemplo, em educação, saúde e programas de transferência condicionada de renda. São investimentos porque melhoram a capacidade produtiva da economia, gerando uma corrente de benefícios no futuro, que podem ser usados para pagar a dívida derivada de financiar estes gastos. O conceito de infraestrutura social não está bem desenvolvido. É um conceito importante e uma via importante para promover a igualdade de gênero de maneiras financeiramente sustentáveis.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente | IPS por Mathilde Bagneres

Congresso e Casa Civil avaliam projetos para aumentar alcance da pesquisa com biodiversidade

JMA-Jornal Meio Ambiente | Fonte Agência Brasil


Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação mostram que, entre 2000 e 2009, 17 patentes com copaíba foram depositadas pelos Estados Unidos e nenhuma pelo Brasil. No entanto, neste período, pesquisadores brasileiros publicaram 76 artigos científicos sobre a planta
Brasília. Três projetos de lei que alteram as regras de acesso à biodiversidade para a pesquisa básica, de caráter acadêmico, e para a pesquisa com finalidade comercial tramitam no Congresso Nacional. Anteprojeto com teor semelhante está na Casa Civil da Presidência da República. Mas especialistas ouvidos pela Agência Brasil consideram as regras atuais, descritas na Medida Provisória (MP) 2186-16/2001, um empecilho para a realização de estudos e criação de produtos que tenham origem ou patrimônio genético.
Para Célio Cabral, gerente de Inovação do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), vinculado à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a legislação acabou sendo “danosa” para a segurança genética no Brasil. Cabral reclama que a autorização para pesquisar e desenvolver produtos é “complicadíssima”, “demorada”, além de “muito burocrática”.
Segundo ele, isso faz com que empresas estrangeiras, que não respeitam as regras nacionais, consigam patentear produtos criados a partir de substâncias encontradas na flora brasileira. “Se uma indústria internacional vem aqui, pega [ilegalmente] uma substância, sai do Brasil e desenvolve essa pesquisa lá fora, consegue requerer a proteção dentro do seu país.”
Esse é o caso, por exemplo, da copaíba, cujo óleo é extraído de uma árvore existente na Floresta Amazônica e usado para mais de 50 finalidades medicinais e fitoterápicas. Dados apresentados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) mostram que, entre 2000 e 2009, 17 patentes com copaíba foram depositadas pelos Estados Unidos e nenhuma pelo Brasil. No entanto, neste período, pesquisadores brasileiros publicaram 76 artigos científicos sobre a copaíba.
“Nós temos a biodiversidade, mas quem vai produzir o medicamento em cima dos elementos biológicos e genéticos serão os países que têm velocidade de pesquisa e financiamento suficiente para fazer isso”, lamenta o presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Mario Neto Borges.
Cabral defende uma revisão “urgente” do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen), responsável pela liberação das pesquisas. O diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Paulo Sergio Lacerda Beirão, diz que o Cgen funciona como um plenário e “não tem agilidade”, o que agrava os defeitos da legislação. “A lei [MP 2186-16/2001] é confusa e não está muito claro para o pesquisador quais são os procedimentos para pedir autorização para realizar estudos”, ressalta.
As críticas à legislação fizeram com que avançasse no governo a elaboração de uma proposta de lei para substituir a MP. A proposta, discutida entre cinco ministérios, está na Casa Civil e deverá dar segurança jurídica a cientistas e empresas que façam pesquisa básica e pesquisa comercial com patrimônio genético, destaca o secretário interino de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João de Deus Medeiros.
Segundo ele, “o novo marco legal vai facilitar o planejamento das pesquisas”, estabelecendo prazos menores de tramitação para projetos de pesquisadores e de empresas e dando garantias de benefício às populações tradicionais que detenham algum conhecimento associado ao recurso genético em investigação.
João de Deus espera que a proposta seja enviada neste semestre ao Congresso, embora ainda não saiba se será em forma de projeto de lei ou de medida provisória. No Senado, já tramitam os projetos de lei 583/2007, que cria a a Fundação Instituto de Pesquisa da Biodiversidade Brasileira (Biobras), para desenvolver pesquisas de bioprospecção; e 440/2011, que cria a Empresa para Gestão e Licenciamento de Pesquisa no Bioma Brasileiro (Emgebio), para gerir o licenciamento de pesquisas nos biomas brasileiros e controlar patentes.
Além desses projetos, tramita simultaneamente na Câmara e no Senado projeto que cria o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Pela proposta, formulada por 17 instituições ligadas à pesquisa, o acesso a amostras do patrimônio genético e de conhecimento tradicional não precisará de autorização prévia, como ocorre hoje. A exploração comercial, no entanto, dependerá de permissão do Cgen.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente | Agência Brasil

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tombini diz que taxa básica de juros é ajustada para baixo porque Brasil cresce abaixo do potencial

Por Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Brasil está crescendo abaixo do potencial e, por isso, o Banco Central (BC) vem ajustando para baixo a taxa básica de juros da economia (Selic). A avaliação foi feita hoje (28) pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, em audiência pública no Senado.
De acordo com Tombini, cálculos feitos internamente pela instituição e não divulgados mostram crescimento econômico abaixo do potencial nos últimos trimestres, incluindo o atual, o primeiro deste ano e ainda não finalizado. “Não é por outra razão que o Banco Central vem ajustando a taxa de juros”, afirmou.
Tombini citou pesquisa feita com analistas do mercado financeiro que indicou a tendência de queda da taxa de juros real neutra (que permite crescimento da economia sem gerar riscos para a inflação). Conforme a consulta do BC aos analistas, em novembro de 2010, a mediana dessa taxa estava em 6,75% e passou para 5,5% na pesquisa atual. Além disso, 49% dos analistas esperam redução dessa taxa, 40% consideram que ficará estável e 11% que vai subir.

Fonte: Agência Brasil

Tesouro Direto apresenta a maior emissão de títulos da história

Em janeiro, o volume emitido foi de R$ 616,26 milhões
O estoque da Dívida Pública Federal (DPF) apresentou redução de 3,50% em janeiro de 2012 em comparação com o mês de dezembro de 2011. O valor passou de R$ 1,866 trilhão para R$ 1,801 trilhão. As emissões da DPF foram de R$ 41,31 bilhões e os resgates de R$ 117,47 bilhões, o que resulta num resgate líquido de R$ 76,16 bilhões. Os dados foram divulgados hoje pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda.  
Já as emissões de títulos da DPMFi alcançaram R$ 39,56 bilhões, sendo R$ 26,02 bilhões (65,77%) em títulos com remuneração prefixada; R$ 10,83 bilhões (27,37%) remunerados por índice de preços e R$ 2,68 bilhões (6,76%) em títulos indexados à taxa flutuante. Do total das emissões, R$ 25,32 bilhões foram emitidos nos leilões tradicionais, R$ 3,31 bilhões nos leilões de troca e R$ 11,02 bilhões relativos às emissões diretas e às vendas de títulos no Programa Tesouro Direto.  
Na DPF, a parcela dos títulos com remuneração prefixada fechou janeiro com 34,31%. A participação dos títulos indexados a índices de preços ampliou de 28,28% (dezembro) para 29,92% (janeiro). Os papeis remunerados pela taxa flutuante tiveram crescimento, passando de 30,14% (dezembro) para 31,62% (janeiro). E, por último, os títulos remunerados pelo câmbio, que fechou o mês de janeiro em 4,1%.  
Perfil e Custo – Os vencimentos da DPF para os próximos 12 meses apresentaram aumento, passando de 21,89% em dezembro para 22,38% em janeiro. O custo médio acumulado nos últimos 12 meses reduziu em 0,39 ponto percentual, passando de 12,83% a.a. em dezembro para 12,44% a.a. em janeiro. O custo médio da DPMFi apresentou redução, passando de 12,54% a.a. em dezembro para 12,44% a.a. em janeiro.  
Tesouro Direto – As emissões do programa em dezembro atingiram o montante de R$ 616,26 milhões, volume recorde em um mês desde a sua criação. Os títulos mais demandados pelos investidores foram os títulos indexados a índice de preços, representando 51,94%. A participação dos títulos prefixados foi de 40,70% e os títulos indexados à Selic representaram 7,36%. Em relação ao número de investidores, o programa acumulou 282.777 participantes, sendo 6.404 cadastrados em janeiro.

Fonte: Ministério da Fazenda

Cientista se passa por outra pessoa para expor céticos do clima

Por REINALDO JOSÉ LOPES - EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE"

Uma das principais vozes científicas em defesa da realidade do aquecimento global causado pelo homem caiu em desgraça na semana passada.
O hidrologista americano Peter Gleick assumiu publicamente que se passou por outra pessoa para tentar expor as táticas de um grupo de céticos do clima.
O caso envenena ainda mais o debate público sobre o aquecimento global nos Estados Unidos, país que é um dos principais responsáveis pelo problema --graças às enormes quantidades de gases do efeito estufa que a nação produz-- e onde a briga política entre os que acreditam no fenômeno e os que negam sua existência paralisa as ações para mitigá-lo.
Sgerbic/Creative Commons
O hidrologista americano Peter Gleick, que renunciou ao cargo no Pacific Institute, na Califórnia, após escândalo
O hidrologista americano Peter Gleick, que renunciou ao cargo no Pacific Institute, na Califórnia, após escândalo

O caso começou com o que parecia ser uma versão às avessas do chamado "Climagate", de 2009.
Nessa polêmica anterior, hackers anônimos disponibilizaram na internet milhares de e-mails assinados pelos principais climatologistas do mundo.
Algumas mensagens pareciam dar a entender que os cientistas estavam ocultando e manipulando dados para tentar persuadir o público de que o aquecimento global é causado pelo homem.
Várias investigações acabaram mostrando que os e-mails tinham sido tirados de seu contexto original e que não houve manipulação da ciência do clima. Mas o dano à reputação dos cientistas já estava feito, em especial em países como os EUA.
No dia 15 deste mês, veio o que parecia ser o troco. Um remetente anônimo enviou para órgãos da imprensa e blogueiros americanos o que pareciam ser documentos sigilosos do Heartland Institute, ONG conservadora americana que promove, entre outras coisas, o ceticismo climático entre o público.
Os documentos incluem uma lista dos doadores do instituto --entre eles a Microsoft e a General Motors-- e detalhes de um plano para criar um currículo para escolas públicas sobre a mudança climática, com o objetivo de ensinar que os cientistas não sabem se o homem está mesmo alterando o clima.
'SUSPEITO ÓBVIO'
A chefia do Heartland Institute veio a público para dizer que um dos documentos divulgados era falso e ameaçou processar o responsável pelo vazamento. Funcionários da ONG chegaram a especular que Gleick era um dos "suspeitos óbvios".
O cientista acabou admitindo a culpa numa postagem em seu blog no site "Huffington Post". Ele teria recebido uma versão dos documentos de maneira anônima pelo correio e, para confirmar a veracidade deles, teria se passado por um membro da diretoria do Heartland Institute.
Gleick foi condenado publicamente pela AGU (União Geofísica Americana), órgão ao qual pertence, e renunciou ao seu cargo no Pacific Institute, na Califórnia. À Folha, a secretária de Gleick disse que ele não daria entrevistas.

Fonte: Folha de São Paulo

Listas de espécies ameaçadas e licenciamento ambiental

Por Dr. Carvalho Junior

Tenho acompanhado de perto a análise do status de conservação dos mustelídeos na lista nacional de espécies ameaçadas de mamíferos, além da lista estadual de mamíferos ameaçados de Santa Catarina. No caso da lista nacional há que se reconhecer o esforço de se compilar informações disponíveis em torno de um trabalho minimamente coerente. Não deixa de ser algo pretensioso, dado o número de publicações científicas no Pais e a produtividades dos pesquisadores brasileiros. Apesar de que a produção científica nacional tem melhorado nos últimos anos, os números revelam que alguns setores específicos se destacam como medicina tropical e parasitologia e influenciam nessa produtividade.  

Com relação aos mustelídeos brasileiros a situação revela uma área de pesquisa com pouca efetividade, incentivo e investimento. As contradições são inúmeras, as incoerências se fazem presente a todo momento, a falta de números e a subjetividade ainda dominam o horizonte acadêmico nesse particular. Frente a tantas adversidades o ICMBio/CENAP merece apoio e aplausos, tentando dar significado a uma seara de dados, repleta de informações, muitas  vezes intuitivas e subjetivas. Vale ressaltar o esforço dos pesquisadores envolvidos em formatarem um documento que expresse da melhor forma possível a realidade. Não fosse a experiência dos envolvidos com certeza seria uma “missão impossível”.

Publicações a parte, ainda resta contextualizar a informação, interpretar os dados frente aos desafios colocados à nossa frente. Aquecimento global, elevação do nível do mar, desmatamento, buraco na camada de ozônio, são alguns exemplos. Se olharmos cuidadosamente o futuro que nos espreita podemos afirmar que estamos todos ameaçados, incluindo nós, humanos.  O problema é que os critérios de categorização de espécies ameaçadas não contemplam de forma satisfatória os problemas atuais.

Hoje, praticamente, 90% do bioma Mata Atlântica, em toda a extensão territorial brasileira, está totalmente destruído. Do que restou, acredita-se que 75% está sob risco de extinção total, necessitando de atitudes urgentes de órgãos mundiais de preservação ambiental, principalmente com relação às espécies que estão sendo eliminadas da natureza de forma acelerada. Os  teimosos remanescentes fragmentos de Mata Atlântica são encontrados principalmente nas Serras do Mar e da Mantiqueira, em áreas de relevo acidentado.

Segundo o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (http://www.forumclima.org.br/), durante o século 20, a temperatura global aumentou em cerca de 0.6%, as calotas polares diminuíram, o nível do mar subiu de 10 a 20 cm, e houveram mudanças significativas nos regimes de chuvas.  Para o século 21 prevê-se que a temperatura média global subirá de 1.4 a 5.8 graus Celsius, que o nível do mar deverá subir de 9 a 88 cm, e eventos meteorológicos extremos devem ser esperados com mais frequência. Lembram do furacão Catarina?

Estas alterações deverão provocar sérias consequências nos sistemas físicos e biológicos. Os ecossistemas possuem limites para se adaptar a estas mudanças, portanto,  sérios impactos podem ser esperados na composição da biodiversidade. Relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), divulgado agora em novembro de 2011, atenta para o fato da necessidade de criação de mecanismos de adaptação aos eventos extremos (http://www.ipcc.ch/index.htm) que devem ser esperados para as próximas décadas.  Dentro desse cenário o Banco Mundial alerta que a Amazônia pode se tornar uma savana. Uma savana!

Paralelo a tudo isso, a nova proposta de mudança do Código Florestal, em vias de ser aprovada no Congresso, pretende diminuir significativamente as larguras mínimas de proteção ao longo dos corpos de água. Pensando bem, não tem muito que diminuir, pois quase não sobrou nada mesmo.  Trabalhos realizados pelo Instituto Ekko Brasil nos últimos anos, nas duas principais bacias hidrográficas catarinense, a do Rio Itajaí e a do Rio Uruguai, mostram que restou apenas cerca de 20% de cobertura florestal em zona de APP, ao longo dos principais rios.
Parece claro que o modelo atual precisa ser repensado frente às ameaças e desafios que temos pela frente. Antigamente um grupo de pesquisadores podia se reunir a portas fechadas e tomar decisões alheias ao público. Atualmente, as ONGs, as redes sociais, a internet, a informação que viaja à velocidade da luz, democratizou o processo e as coisas não podem mais serem feitas a revelia da sociedade. O principal stakeholder disso tudo é o cidadão e esse nem sonha do que se trata, do que seja uma lista de espécie ameaçada, não participa, ou melhor, não existem mecanismos que incentivem ou garantam essa participação.

Fica a pergunta: para que serve uma lista de espécie ameaçada? Para implementar políticas públicas? Para dizer que tem? Mas e o público? Como participa? Mas então, novamente, para que uma lista de espécie ameaçada? Melhora a biodiversidade? Qual o efeito prático? É bom? É ruim com ela? Pior sem ela? Com certeza as resposta serão muitas e diversas. Importante ressaltar que uma das aplicações de uma lista de espécie ameaçada é com o licenciamento ambiental.

O processo de licenciamento, de maneira geral, não é transparente e muito menos imparcial. Para se ter idéia, a empresa interessada é a que contrata a consultoria ambiental, uma outra empresa. Não é raro, estar incluído na equipe dessas empresas de consultoria, parentes (leia-se maridos, esposas, etc.) e amigos próximos de técnicos que trabalham nas agencias estaduais responsáveis pelas licenças; os mesmos técnicos que vão analisar o processo. Não quero dizer com isso que todo EIA/RIMA seja feito de má fé, mas a verdade é que, dependendo do caso, pode ser caracterizado “interesses conflitivos”. O fato é que, o processo como um todo, é aleijado de autoridade, frágil. “Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega...”. O pior ainda é quando esses profissionais do licenciamento ainda se envolvem com a definição de lista de espécies ameaçadas. É uma mistura explosiva: licenciamento, lista de espécies ameaçadas, consultorias. Como evitar essa situação?

Se, por outro lado, o processo de licenciamento fosse feito através de um edital para a contratação da consultoria, se o repasse do valor da empresa interessada à empresa consultora fosse feito pelo órgão público, relativamente mais independente, em teoria, com certeza o EIA/RIMA não seria refém do humor da empresa interessada. Parentesco de qualquer forma também não poderia ser aceito, quando se trata de equipe de consultoria e órgão licenciador.

No fim, do jeito que está, temos uma discussão infernal, pouco prática, com muitos interesses contraditórios e um processo extremamente ineficaz. Imagine se não houvesse audiência pública....Entretanto, em muitos casos, uma audiência pública não é suficiente para o correto direcionamento de um empreendimento, considerando o desenvolvimento sustentável da atividade, da geração de empregos, do uso múltiplo dos recursos. Comunidade com pouca informação está sujeita a muita manipulação. Perde muitas vezes o empreendedor que fica refém desse processo falho, perde muitas vezes a sociedade que fica refém do mesmo processo. Com certeza, quem sempre perde é a biodiversidade brasileira, essa sim, uma vítima, com lista ou sem lista.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente

Belo Monte: Norte Energia descumpriu PBA e apresentou ‘informações enganosas', diz Ibama

Apesar do ritmo acelerado das obras de Belo Monte e de campanhas cada vez mais agressivas da Norte Energia e do governo federal em defesa da usina, populações rurais, moradores urbanos, trabalhadores, migrantes, fauna, flora, municípios, infraestrutura, agricultura, segurança alimentar, cavernas e tantos outros atores e aspectos afetados por Belo Monte estão diante de um quadro trágico de “condicionantes não atendidas e programas não implementados”. E desta vez, a afirmação não é do Movimento Xingu Vivo para Sempre, mas do Ibama.

De acordo com o último relatório do órgão ambiental, que analisou o cumprimento do Plano Básico Ambiental (PBA, conjunto dos programas socioambientais que devem garantir a eficácia das medidas definidas nos estudos ambientais e demais exigências das Licenças Prévia e de Instalação) de Belo Monte em 2011, o relatório de atividades da Norte Energia sobre ações obrigatórias de mitigação “não é compatível com o proposto no PBA, além de apresentar diversas falhas de conteúdo”. O documento afirma ainda que a empresa prestou  informação enganosa referente ao Programa de Educação Ambiental e deve ser responsabilizada pelo descumprimento de condicionantes e das ações previstas na execução do PBA.

O extenso documento do Ibama, datado de 20 de dezembro de 2011, faz uma análise minuciosa de todas as ações exigidas pelo PBA, e demonstra  as graves falhas em seu cumprimento. Abaixo, segue o resumo de alguns destes tópicos:

Programa de Capacitação de Mão de Obra
Os dados apresentados no relatório não refletem a projeção apresentada do 4º relatório de acompanhamento das ações antecipatórias (…). Tampouco foi apresentado o histograma de empregados efetivamente contratados no período, ou justificativa para não ter sido atingida a projeção.

Programa de Saúde e Segurança
Não foi prevista efetiva solução de responsabilidade do empreendedor para o atendimento regular de saúde dos trabalhadores contratados, de forma a não sobrecarregar a rede pública.

Programa de Educação Ambiental para os Trabalhadores
Não foi apresentado relatório específico para o Programa (…). Nenhuma das ações do cronograma apresentado no PBA previstas até o 4º trimestre de 2011 foi sequer iniciada, de acordo com o relatório apresentado.

Projeto de Negociação e Aquisição de Terras e Benfeitorias na Área Rural
Para o período de junho a outubro de 2011, este projeto previa a determinação da área atingida; a realização do cadastro fundiário, imobiliário e socioeconômico da área rural, com final previsto para 31/12/2011; início da formalização do Decreto de desapropriação; início da avaliação das terras e benfeitorias; e, efetuar ações de avaliação e monitoramento. Foram apresentados dados brutos das atividades realizadas, mas os resultados não consolidam informações claras que permitam a avaliação e monitoramento do projeto (…). A lista de aquisições apresentada neste relatório semestral não permite identificar qual estoque de terras a Norte Energia possui na região. Desta forma, fica comprometido o acompanhamento do projeto pela equipe técnica do Ibama.

Projeto de Reassentamento Rural
Foi relatado que as famílias atingidas, que têm perfil para serem atendidas pelo reassentamento rural coletivo, estão optando unanimemente pelo reassentamento assistido (Carta de crédito). Apesar da Norte Energia afirmar no 1º relatório semestral que dentre as alternativas oferecidas às famílias impactadas, o reassentamento rural tem sido ofertado como melhor opção de compensação, buscando a recomposição das atividades e qualidade de vida das famílias, em condições pelo menos equivalentes às atuais, e que tem abordado em reuniões com os atingidos que a melhor opção é o reassentamento coletivo, não é relatada a argumentação que comprove tal afirmação. Dado que o possível estoque de terras disponível para reassentamento coletivo abordado no projeto anterior ainda não se confirmou, os atingidos não percebem o reassentamento rural coletivo como opção concreta de tratamento, tornando a opção pelo reassentamento assistido mais atraente.

Projetos de Apoio à Pequena Produção e à Agricultura Familiar e de Recomposição das Atividades Produtivas de Áreas Remanescentes
Para o período de junho a outubro de 2011, este projeto previa, principalmente, o início da sistematização da pesquisa socioeconômica, da formulação de hipóteses de trabalho para as equipes de ATES e da seleção de beneficiários do projeto. Contudo, o relatório afirma não existirem atividades previstas para o período. Para evitar maior pressão sobre os preços dos alimentos na região, este projeto já deveria ter sido iniciado.

Projetos de Reestruturação do Extrativismo Vegetal, de Apoio à Cadeia Produtiva do Cacau e de Fomento à Produção de Hortigranjeiros
O relatório afirma não terem atividades previstas para o período. Contudo, devido à pressão sobre os preços dos alimentos na região e previsto no PBA (…), algumas atividades já deveriam ter sido iniciadas. Ressalta-se que atrasos no projeto de fomento à produção de hortigranjeiros podem afetar o abastecimento e elevar ainda mais a inflação dos alimentos da região.

Projeto de Recomposição da Infraestrutura de Saneamento
A empresa responsável pela execução do Projeto ainda não foi contratada. Conforme o 1º Relatório, as únicas atividades realizadas até o momento foram vistorias na comunidade Ressaca para confirmar o que o PBA já tinha concluído, ou seja, as condições de saneamento daquele local são precárias (…). A execução do cronograma encontra-se significativamente atrasada.

Projeto de Regularização Fundiária Urbana
As atividades realizadas e os resultados obtidos mencionados no relatório consolidado da Norte Energia não seguem estritamente a sequência e a descrição das atividades estabelecidas no cronograma PBA final, não permitindo certificar-se de que todas as atividades constantes no PBA para iniciar no 2º ou 3º trimestres de 2011, portanto aptas a estarem descritas no relatório, foram realizadas ou estão em andamento, bem como se houve o acolhimento das recomendações constantes no Ofício n° 510/2011

Projeto de Reassentamento Urbano
No relatório consolidado da Norte Energia consta que “Em razão de ainda estar em andamento os cadastros socioeconômico e fundiário e o levantamento físico, não se tem ainda atividades realizadas neste Projeto”. Segundo o cronograma constante no PBA, o cadastro socioeconômico foi previsto para estar concluído até o fim do 3º trimestre de 2011, portanto passível de ter sido incluído no relatório consolidado como atividade realizada.

Projeto de Atendimento Social e Psicológico da População Atingida
Das 17 atividades relacionadas no cronograma do PBA, 11 estavam previstas para iniciar no 2° ou no 3° trimestre de 2011. (…) Ressalta-se que as ações previstas de assistência social dependem de convênio entre a Norte Energia e os municípios (…); os convênios já deveriam ter sido assinados desde a fase de ações antecipatórias e, até o momento, este pré-requisito não foi cumprido. Como resultado do atraso na execução das atividades previstas, não existe hoje na região uma estrutura específica para o atendimento à população migrante (central de triagem e casas de acolhida) que se enquadre nos critérios de vulnerabilidade social. O atraso no projeto prejudica, ainda, a avaliação de suficiência da estrutura de assistência social disponibilizada pelos municípios de Altamira e Vitória do Xingu.

Projeto de Saneamento
De acordo com o cronograma físico deste Projeto apresentado no PBA, a implantação dos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e do aterro sanitário deveria ter sido iniciada ainda no segundo trimestre de 2011. Cabe destacar que até o momento nenhum destes projetos começou a ser efetivamente implantado no município de Altamira.

Plano de Articulação Institucional
O EIA já havia identificado que as municipalidades da região não estão devidamente estruturadas e capacitadas para planejar e gerir o processo de desenvolvimento municipal e urbano. O EIA apresentou com muita propriedade o caráter antecipatório dos programas componentes do Plano de Articulação Institucional, influindo na própria viabilidade do empreendimento (grifo do Ibama).O relatório entregue evidencia que o Plano, além de ter perdido seu caráter antecipatório, tem sua implementação muito aquém do esperado. O reflexo desta situação pode ser percebido no atraso nos cronogramas de diversos planos, programas e projetos, causados por insuficiências técnicas das Prefeituras.

Programa de Educação Ambiental de Belo Monte
Ao contrário do informado no relatório [da norte Energia], não foi realizada nenhuma atividade prevista no âmbito deste programa. Além do atraso na implementação do PBA, a Norte Energia deve ser responsabilizada por ter apresentado informação enganosa no Relatório Semestral.

Programa de Registro e Armazenamento Cartográfico, Fotográfico e Acervo de Elementos Espeleológicos
As ações previstas no cronograma do PBA para o período contemplado pelo 1º Relatório de Acompanhamento são (i) levantamento topográfico exocárstico; (ii) levantamento topográfico endocárstico; e (iii) documentação fotográfica. Tais atividades não foram desenvolvidas.

Projeto de Aquicultura de Peixes Ornamentais
Para o período contemplado pelo 1º Relatório de Acompanhamento o cronograma apresentado no PBA prevê a execução de duas ações: (i) formação de parcerias e licenciamento da atividade; e (ii) formação da equipe de trabalho. O relatório apresentado não apresentou nenhum resultado para essas duas ações.

O documento traz ainda uma análise do cumprimento das condicionantes da Licença de Instalação. Até a data da publicação do relatório, apenas uma condicionante havia sido atendida. Quatro condicionantes não foram cumpridas (os documentos apresentados não atendem o disposto no item da licença), quatro apresentaram pendências e 11 ainda estão em atendimento.
Veja aqui a íntegra do  Parecer Tecnico sobre andamento do PBA

Fonte:
JMA-Jornal Meio Ambiente | Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS)

China terá Centro Nacional de Energias Renováveis

O governo chinês oferecerá mais incentivos ao desenvolvimento sustentável. Será criado um centro de pesquisa de políticas de energias renováveis, que também será parte dos programas realizados para o bem de toda a comunidade internacional.
Chamado de Centro Nacional de Energias Renováveis, o espaço será dedicado ao estudo e elaboração de estratégias de desenvolvimento para este setor, conforme informado pela agência oficial chinesa Xinhua.
Todo o projeto terá o financiamento do governo e mais uma parceria com a Dinamarca. Além disso, este programa dever ser o pontapé inicial para a criação de um plano para as energias fotovoltaicas e eólicas, biocombustíveis, entre outros recursos alternativos.
O vice-diretor da Administração Nacional de Energia, Liu Qi, acredita que as medidas políticas desenvolvidas podem auxiliar nas questões relacionadas à indústria de energias renováveis.
Atualmente, a China lidera o investimento mundial em recursos energéticos renováveis. Só em 2010 foram investidos US$ 47,6 bilhões no país. No final do ano passado, foi divulgada uma nota afirmando que três por cento da eletricidade anual da China virá de energia eólica, em 2015.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente Com informações do G1.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

G-20 adia decisão de ajudar a Europa

Autoridades das economias mais importantes do mundo adiaram para daqui a meses decisões cruciais sobre a ajuda internacional para a Europa. Pois eles esperam mais ações da zona do euro para combater a crise da dívida no continente.
G20
O secretário do tesouro dos EUA, Timothy Geithner (centro), disse que a Europa deve persistir nas suas ações para sair da crise.
Os ministros da Fazenda e banqueiros centrais do Grupo das 20 economias avançadas e em desenvolvimento, após uma reunião de dois dias aqui, indicaram que estão prevendo um acordo para ampliar o fundo europeu de resgate no próximo mês.
Essa iniciativa "dará um impulso essencial às nossas considerações atuais de mobilizar recursos" para o Fundo Monetário Internacional, disseram as autoridades do G-20 em um comunicado conjunto no domingo.
A falta de progressos significativos coloca em suspenso novas discussões sobre apoio internacional até a nova reunião dos ministros do G-20, em abril. As autoridades esperam que isso leve a um acordo final na reunião de cúpula dos líderes mundiais, em junho, o que aumentaria o clima de confiança.
As autoridades do G-20 reconheceram uma longa lista de possíveis obstáculos à frente. A Grécia deve cumprir numerosas condições para receber seu mais recente resgate, dentro de semanas. Os representantes europeus reconheceram também a relutância da Alemanha em aumentar rapidamente a capacidade do "muro de contenção" financeira da zona do euro — um fundo de resgate grande o suficiente para garantir aos mercados que outras economias problemáticas da zona do euro conseguirão administrar suas dívidas. O G-20 impôs essa ampliação como condição para aumentar os recursos do FMI destinados à Europa. Ao mesmo tempo, as autoridades observaram que o aumento do preço do petróleo, em parte devido a tensões com o Irã, ameaça deprimir uma recuperação global já enfraquecida pela crise europeia.
As autoridades do G-20 incentivaram os líderes europeus a agir com rapidez, ainda que as melhores condições de mercado tenham relaxado a pressão sobre a zona do euro. Nos últimos dois anos, os líderes europeus rotineiramente diminuíam seus esforços logo que os mercados melhoravam.
"Seria um erro nos consolarmos muito com o impacto cumulativo" do esforço feito até agora, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner."Parte do progresso que temos visto na confiança dos mercados baseia-se na expectativa, criada pelos próprios europeus, de que eles têm mais a mostrar."
Os líderes europeus planejam discutir esta semana juntar o dinheiro deixado em um fundo de resgate temporário com uma linha de crédito permanente a ser lançada em meados do ano, criando assim um fundo combinado de 750 bilhões de euros (US$ 1 trilhão) que poderia sustentar economias em dificuldades, como Itália e Espanha. Mas a relutância da Alemanha deve deixar essa decisão para março, ou mesmo abril.
Ao mesmo tempo, o FMI quer expandir sua capacidade de empréstimo de US$ 500 bilhões para quase US$ 1 trilhão, captando o dinheiro de seus países membros. Juntos, os fundos da Europa e do FMI poderiam fornecer US$ 2 trilhões em capacidade de resgate, como proteção contra mais convulsões mundiais.
"A economia global não está fora da zona de perigo", disse a diretora do FMI, Christine Lagarde. "Ainda há grandes vulnerabilidades econômicas e financeiras."
A crise europeia fez com que o G-20, que serve como conselho administrativo da economia mundial, adiasse outros debates sobre problemas de longo prazo. Os representantes do G-20 aqui mencionaram outras preocupações, como a volatilidade cambial e os desequilíbrios entre as nações avançadas e em desenvolvimento. Mas as preocupações com o crescimento no curto prazo deixam os países relutantes em tomar decisões de prazo mais longo.
"Há um círculo vicioso aqui, em que cada um fica esperando que o outro faça a coisa certa", disse o diretor do Banco do Canadá, Mark Carney, numa conferência para o Instituto de Finanças Internacionais, um grupo do setor bancário, realizada em paralelo à reunião do G-20.

Fonte: The Wall Street Journal

Europa na direção errada

Por Denize BACOCCINA e Luís Artur NOGUEIRA

Novo pacote de ajuda à Grécia exige mais arrocho fiscal e complica a economia da zona do euro, que caminha para mais um ano recessivo.

Era início da madrugada da terça-feira 21 e o público presente à Marquês de Sapucaí delirava com o desfile da Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Naquele mesmo instante, em Bruxelas, o terno e a gravata eram o figurino utilizado pelos ministros das Finanças da zona do euro, numa estressante reunião. Em pauta, o novo acordo de resgate de € 130 bilhões à Grécia,  anunciado após 13 horas de intensas negociações. O dinheiro, que será emprestado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a juros baixos, servirá para dar algum fôlego ao governo grego, que precisa pagar em março uma parcela de € 14,5 bilhões da sua dívida. “O acordo fecha a porta ao cenário de um calote”, disse, em tom de alívio, o português José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia.
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A Grécia, que já havia recebido € 110 bilhões em 2010, é alvo do maior plano de resgate desde o socorro americano a países europeus após a Segunda Guerra Mundial. A ajuda, no entanto, não sairá barato para os gregos – ao contrário, pressupõe inúmeros sacrifícios. O primeiro deles é abrir mão de sua autonomia e permitir que técnicos de Bruxelas e do FMI supervisionem de perto o arrocho fiscal. O governo do primeiro-ministro Lucas Papademos terá de cortar ainda mais os salários de servidores e aposentados, demitir funcionários públicos, tocar um programa de privatizações e flexibilizar as leis trabalhistas. Na teoria, as medidas tornarão a economia local mais competitiva, atraindo novos investimentos. Mas, na prática, o resultado será outro. 
 
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Carnaval da crise: bonecos de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy são alvo de ironias
e manifestações de foliões europeus.
 
“É a fórmula da recessão. Não há demanda privada, não há demanda externa e ainda cortam-se os gastos públicos”, diz Cristiano Souza, economista do Banco Santander. A retomada do crescimento é uma peça crucial para que a Grécia alcance a meta de reduzir a relação dívida-PIB de 160% para 120,5% até 2020. O problema é que as premissas (veja quadro ao final da reportagem) para que isso ocorra são muito otimistas não apenas na avaliação de economistas do setor privado. Os próprios líderes da troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia) deixaram vazar um documento no qual reconhecem a necessidade de novos pacotes nos próximos anos. Para o analista da consultoria Eurasia Group, Mujtaba Rahman, os recursos acertados na semana passada não serão suficientes para resolver a crise e a Grécia vai acabar pedindo mais dinheiro dentro de algum tempo. 
 
“A economia grega precisa crescer, e acho pouco provável que isso aconteça”, afirmou Rahman à DINHEIRO. Em recente artigo publicado no jornal The New York Times, o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman questiona a política austera conduzida pela chanceler alemã Angela Merkel. “Alguns líderes europeus estão casados com a doutrina econômica responsável por esse desastre”, escreveu Krugman, que defende estímulos fiscais para reaquecer as atividades e, consequentemente, aumentar a arrecadação. Na segunda-feira 20, os primeiros-ministros de 12 países, incluindo o britânico David Cameron e o italiano Mario Monti, enviaram uma carta ao Conselho Europeu e à Comissão Europeia pedindo alterações na política econômica. “A crise que estamos enfrentando é também uma crise de crescimento”, diz o texto. 
 
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Chega de arrocho: gregos e portugueses protestam contra os cortes
de gastos públicos, salários e aposentadorias.
 
Não por acaso, os governos da Alemanha e da França não subscreveram o documento. Enquanto o presidente francês Nicolas Sarkozy está preocupado com a provável derrota  nas eleições de maio, a todo-poderosa chanceler Angela Merkel dá de ombros aos apelos dos demais países e goza de elevada popularidade entre os alemães, que não querem bancar o salvamento de nações que foram irresponsáveis na administração de suas finanças públicas em períodos de bonança. “Merkel está conduzindo a Europa na direção errada”, afirmou o megainvestidor George Soros, em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel. “Se não oferecermos mais estímulos, muitos países serão empurrados para uma espiral deflacionária de endividamento.” Com tantos cortes de gastos em curso na zona do euro, os economistas estão cada vez mais convencidos de que a região caminha para mais um ano recessivo. 
 
E não é apenas o sempre etéreo “deus mercado” que acredita nessa possibilidade. Na quinta-feira 23, a própria Comissão Europeia alterou a sua projeção de alta de 0,5% do PIB para uma retração de 0,3% em 2012. Nesse clima de desânimo, o Carnaval europeu foi marcado por protestos contra os políticos, principalmente a dupla Merkozy. Na Quarta-Feira de Cinzas, enquanto as escolas de samba do Rio de Janeiro aguardavam as notas dos desfiles, a Grécia teve a sua avaliação de risco rebaixada pela Fitch de CCC para C, ficando a um passo do calote. A decepção do governo grego foi equivalente à das agremiações cariocas rebaixadas para a segunda divisão. Os “jurados” da Fitch avaliam que a renegociação da dívida feita com o setor financeiro não foi um ato voluntário, ou seja, os credores teriam sido obrigados a abrir mão de 53,5% do valor dos títulos gregos. 
 
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Diante de tal situação, a Fitch declarou que um calote “é altamente provável no curto prazo”. O pacote de ajuda à Grécia não cessou as manifestações nas ruas de Atenas.  A economia grega encolhe há quatro anos consecutivos e o desemprego já supera os 20% da população economicamente ativa. Preocupado com esse quadro, o ministro da Ordem Pública da Grécia, Christos Papoutsis, disse recentemente que o país está no limite. “A população não aguenta mais austeridade”, desabafou Papoutsis. Em meio à situação caótica da economia, a população grega vai às urnas em abril para as eleições legislativas. O voto é a última esperança de uma nação que definha e agoniza sob a indiferença dos principais líderes europeus. 
 
Alguns analistas avaliam que o acordo com a Grécia serviu apenas para dar mais tempo para a Europa se preparar para uma futura moratória de 100% dos títulos gregos. “Foi uma grande ajuda aos bancos europeus, pois, ao aceitarem as perdas, eles ficaram mais seguros, independentemente do que acontecer com a Grécia no futuro”, afirma à DINHEIRO o economista Jacob Funk Kirkegaard, do Instituto de Economia Internacional. Nesse cenário de calote unilateral, a Grécia seria expulsa da zona do euro, ressuscitaria o dracma como moeda e reconstruiria  sua economia. Para sair do fundo do poço, os gregos bem que poderiam se inspirar num verso do samba da Mangueira, que ecoou na mesma madrugada em que o novo socorro foi anunciado. “Sou imortal e vou dizer: agonizar não é morrer.”
 
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Fonte: IstoÉ Dinheiro

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Relatório influente sugere à China reformas profundas

A China poderá enfrentar uma crise econômica, a menos que implemente reformas profundas, de acordo com um relatório do Banco Mundial e um influente centro de estudos do governo chinês, que exorta Pequim a reduzir suas vastas estatais e fazê-las operar mais como empresas comerciais.
A recomendação é feita no relatório "China 2030", cujo lançamento está programado para segunda-feira, de acordo com seis pessoas envolvidas na preparação e análise do relatório.
Reuters
Trabalhadores separam pedras e carvão numa mina na China. No setor de mineração, estatais empregam 44% da força de trabalho, enquanto crescem pressões para reformas no modelo de economia estatizada
O relatório, que aborda algumas das questões econômicas politicamente mais sensíveis da China, foi projetado para influenciar a próxima geração de líderes chineses que assumirá o poder a partir deste ano, dizem essas pessoas. Ele desafia a forma como o modelo econômico da China se desenvolveu nos últimos dez anos, sob o comando do presidente Hu Jintao, quando o papel do Estado na segunda maior economia do mundo foi constantemente ampliado.
O "China 2030" adverte que o crescimento do país está em perigo de desacelerar de forma rápida e imprevisível, como ocorreu com muitos países em desenvolvimento depois de atingirem um determinado nível de renda, um fenômeno que economistas do desenvolvimento chamam de "armadilha da renda média". Uma forte desaceleração poderia aprofundar os problemas no setor bancário e em outras áreas, adverte o relatório, e poderia levar a uma crise, segundo os envolvidos com o projeto.
[wsjamb1feb23]
O estudo recomenda que empresas estatais sejam supervisionadas por firmas de administração de ativos, dizem os envolvidos no relatório. Também insta a China a reformar as finanças de governos locais e promover concorrência e empreendedorismo.
"O setor estatal da China está numa encruzilhada", disse Fred Hu, diretor-presidente da Primavera Capital Group, uma firma de investimentos de Pequim. O governo chinês deve decidir "se quer capitalismo liderado pelo Estado e dominado por estatais gigantescas ou pelo empreendedorismo do livre mercado".
Mesmo antes de seu lançamento oficial, o relatório já provocou uma feroz resistência dos burocratas que administram estatais, de acordo com vários indivíduos envolvidos nas discussões.
O herdeiro aparente da liderança política da China, o atual vice-presidente Jinping Xi, deu até agora poucas pistas sobre suas políticas econômicas. Analistas esperam que o influente relatório encoraje Xi e seus aliados a discutirem alterações num modelo econômico que é liderado pelo Estado, alarma os empresários chineses, e está se tornando uma fonte de crescente tensão entre a China e seus principais parceiros comerciais.
Os autores do relatório dizem que ter o imprimatur do Banco Mundial e do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento chinês, ou CPD — subordinado ao Conselho de Estado, o poder executivo da China — vai adicionar peso político às propostas. O Banco Mundial é amplamente admirado nos círculos governamentais chineses, particularmente pelo assessoramento que deu à China na fase em que projetou suas primeiras reformas de mercado.
"O relatório apresenta recomendações para um caminho de crescimento e desenvolvimento no médio prazo, ajudando a China a fazer a transição para ser uma sociedade de alta renda", disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, em um comunicado no qual anunciava o lançamento do estudo.
Nem o Banco Mundial nem o CPD quiseram comentar especificamente sobre as constatações do "China 2030".
O vice-premier chinês, Li Keqiang, que, muitos esperam, será promovido a premier no próximo ano, aprovou o projeto conjunto entre o Banco Mundial e o CPD, quando Zoellick o propôs durante uma viagem a Pequim em setembro de 2010. Seus autores estão contando também com o segundo no escalão do CPD, Liu He, que também é conselheiro sênior do todo-poderoso Comitê Permanente do Politburo, para ajudar a garantir que as suas conclusões sejam consideradas seriamente pelos líderes chineses. Liu não quis comentar.
Entre as áreas mais polêmicas do relatório estão sugestões sobre como gerir as empresas estatais, que dominam os setores de energia, recursos naturais, telecomunicações e infraestrutura e têm fácil acesso a empréstimos com juros baixos de bancos estatais. O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, e outras autoridades ocidentais dizem que os subsídios para as empresas prejudicam a concorrência internacional. Internamente, os críticos reclamam que as estatais sufocam a concorrência, utilizam os lucros do monopólio para se expandir para outras áreas, e pagam minguados dividendos.
O Banco Mundial e o CPD argumentam que as estatais devem ser supervisionadas por firmas de administração de ativos, dizem os envolvidos no relatório. Os gestores de ativos tentariam garantir que as empresas sejam dirigidas no mesmo estilo de empresas comerciais e não para fins políticos.
"A China precisa restringir o papel das estatais, acabar com os monopólios, diversificar a propriedade, e reduzir as barreiras para a entrada de empresas privadas", disse Zoellick em uma palestra para economistas em Chicago no mês passado.
O relatório também recomenda um aumento acentuado nos dividendos que as estatais pagam, o que aumentaria a receita do governo e poderia financiar programas sociais, disseram os envolvidos com o relatório.
"É uma proposta inovadora", disse Yiping Huang, um economista da Barclays Capital. Mas outros argumentam que as propostas não vão longe o suficiente. Nem o Banco Mundial nem o CPD propuseram a privatização de estatais, concluindo que isso seria politicamente inaceitável.

Fonte: The Wall Street Journal