Poucos mercados emergentes têm levado tanta pancada como o Brasil.
Uma combinação de turbulência interna e preocupação com as decisões do Federal Reserve, o banco central americano, castigou um dos maiores mercados emergentes do mundo mais do que seus similares.
O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário, está no nível mais baixo em quatro anos e o mesmo acontece com o real em relação ao dólar.
Mas será que esses problemas criam oportunidades de compra? Ou os investidores devem esperar a poeira baixar antes de voltar para a maior economia da América Latina?
Ações
Desde 22 de maio, quando o presidente do Fed, Ben Bernanke, deixou os investidores preocupados com o possível fim do afrouxamento monetário, o Ibovespa caiu 17,1%. Em comparação, a Índia e o Peru, dois mercados emergentes com elevados déficits de conta corrente e classificação de crédito pairando acima do nível de alto risco, tiveram quedas de 7,1% e 8,3% nos seus índices de referência, respectivamente.
Mas os problemas do Brasil vêm de antes do mês passado. No último ano e meio, os fundos de ações de mercados emergentes sediados nos Estados Unidos receberam, em média, US$ 3,5 bilhões mensais em aplicações, segundo dados da Thomson Reuters. Já os fundos de ações brasileiras sediados nos EUA sofreram hemorragia de US$ 179 milhões, em média, a cada mês desse período. Enquanto o índice MSCI de ações de mercados emergentes ganhou meio ponto percentual desde o Natal de 2011, o Ibovespa despencou 19%.
A queda preocupou até mesmo os maiores fãs dos mercados emergentes. Win Thin, diretor global de mercados emergentes na Brown Brothers Harriman & Co., que se considera um otimista em relação a esses mercados, disse que está alertando os clientes para ficar longe do Brasil por três a seis meses, pelo menos.
"A política de afrouxamento monetário dos EUA (e, aliás, também em outros países do grupo G10) foi um grande fator que alavancou os mercados emergentes", escreveu ele num e-mail. "Mas agora que o dinheiro fácil já não está tão fácil, prevemos saídas de capital da maioria dos ativos de mercados emergentes nos próximos dois trimestres."
Aberturas de capital
O mercado brasileiro de ofertas públicas iniciais de ações (designadas pela sigla IPO, em inglês) teve um início recorde este ano e parecia estar a caminho de se recuperar de um 2012 fraco. Mas a baixa nas ações brasileiras esfriou o mercado de ofertas iniciais. Nas últimas semanas, a Votorantim Cimentos desistiu de ir às bolsas, citando más condições de mercado, e o blog MoneyBeat, do WSJ, informou que empresa aérea Azul também engavetou seus planos de venda de ações.
Michael Fitzgerald, especialista em abertura de capitais e diretor de assuntos latino-americanos do escritório de advocacia Paul Hastings, não vê tão cedo uma recuperação.
"Em relação à América Latina, já desisti de consultar a bola de cristal", disse ele. A melhor estimativa que ele oferece é: "Estou falando de um período de pelo menos dois anos."
Economia
Enquanto o Brasil está sendo pego pela fuga de capitais dos mercados emergentes, seus fundamentos também estão contribuindo muito para as quedas no mercado, como mostra a possibilidade iminente de um rebaixamento de sua classificação de crédito pela agência Standard & Poor's.
"O Brasil foi apanhado numa 'tempestade perfeita', provavelmente com cinco ventos contrários", disse Fitzgerald.
Rafael Dix-Carneiro, professor assistente de economia da Universidade de Maryland, disse que o país tem problemas que vão mais fundo do que os muito alardeados protestos contra a corrupção e o aumento das tarifas de ônibus. Inflação alta, preços das commodities em baixa e erros de um governo intervencionista estão pesando sobre o crescimento, disse ele.
"O Brasil ainda tem sérios problemas estruturais, que geram dúvidas sobre seu desempenho econômico a curto e médio prazo", disse ele.
Conclusão
Embora a reação do mercado à possibilidade de aumento dos juros nos EUA tenha agravado a situação, os problemas econômicos subjacentes do Brasil também preocupam.
"A combinação de dois fatores — inflação acima da zona de conforto do banco central e as projeções de crescimento econômico recentemente revisadas para baixo — trouxe nuvens negras sobre os mercados brasileiros", escreveu Rick Harper, analista da Wisdom Tree, em nota aos investidores.
O Brasil já foi um garoto-propaganda dos mercados emergentes, mas a atual atividade do mercado mudou essa visão.
"Há um sentimento crescente de que a fábula de Cinderela do Brasil saiu dos trilhos", disse Thin.
Fonte: The Wall Street Journal
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