Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Novo cenário marca encontro de líderes dos EUA e China

O encontro hoje entre os líderes da China e dos Estados Unidos marca uma mudança nas relações econômicas entre as duas maiores economias do mundo: o crescimento da China está desacelerando bruscamente após um longo período de forte expansão enquanto a economia americana está lentamente recuperando seu vigor depois de um longo declínio.

As circunstâncias dessa mudança apresentam uma oportunidade para Barack Obama e Xi Jinping reorientararem as relações econômicas e estabelecerem um novo tom que possa levar os dois países a ampliar investimentos e liberar o comércio, embora qualquer ação específica nessa direção deva ocorrer posteriormente, não durante o encontro de hoje na Califórnia.
"Havia um ar de triunfo da China em reuniões recentes entre líderes chineses e americanos", diz Mark Williams, ex-funcionário do Tesouro britânico que hoje é analista da Capital Economics, em Londres. "Isso diminuiu à medida que a China passou a reconhecer mais os desafios que enfrenta no médio prazo."

Da última vez que um presidente chinês foi aos EUA para um encontro de cúpula — a visita de Hu Jintao em janeiro de 2011—, a economia chinesa tinha motivos para comemorar: ela havia crescido 9,3% no primeiro trimestre daquele ano em relação a um ano antes, graças ao massivo estímulo que manteve a rápida taxa de crescimento apesar da crise financeira global. A economia americana, em comparação, tinha crescido apenas 0,1% no mesmo período.

Agora a situação mudou. Os EUA cresceram 2,4% no primeiro trimestre deste ano. A capacidade tecnológica do país está ajudando a ressuscitar dois setores que enfrentavam dificuldades há não muito tempo, o de manufatura e de energia, à medida que a exploração de gás de xisto torna os EUA um poderoso fornecedor de combustíveis.

Enquanto isso, os líderes da China ainda estão procurando uma fórmula para estimular a inovação no mundo da ciência e na indústria e lutam contra bolhas no setor imobiliário e de crédito. De acordo com os cálculos do Goldman Sachs, GS +3.28% o crescimento do PIB da China caiu para 6,4% no primeiro trimestre deste ano, quando medido em uma base anualizada, indicador usado pelos EUA e outros países desenvolvidos, o que torna o desempenho desse trimestre o mais fraco da China desde a crise financeira.

Segundo economistas chineses, Xi está procurando formas de reduzir os temores em relação a investimentos chineses nos EUA, e de convencer seu anfitrião americano de que a China leva a sério as reestruturações. Obama quer incentivar Pequim a concluir as promessas feitas há anos por líderes chineses de que o país vai reformar sua economia, para que possa depender mais do consumo doméstico do que das exportações e investimentos, o que poderia gerar oportunidades às empresas americanas.

"Nós vemos isso [o encontro] como uma oportunidade de obter um melhor entendimento sobre o tipo de políticas domésticas e reformas" que os líderes chineses estão discutindo em casa, disse um funcionário da Casa Branca.

Os novos líderes chineses estão elaborando planos justamente para afastar o país da sua dependência econômica das exportações e dos investimentos em infraestrutura e indústrias que requerem capital intensivo. Isso representa uma oportunidade para os EUA, à medida que a China procura novas ideias. "Esse é um momento de oportunidade para os EUA aprovarem e apoiarem a agenda de reformas da China, que claramente é de interesse de ambos os países no longo prazo", diz Eswar Prasad, especialista em China da Cornell University. "O que a China gostaria de levar para casa são imagens de Xi e Obama arregaçando as mangas e começando a trabalhar como iguais."

Outros dizem que os EUA têm pouca influência sobre o governo de Pequim e que um endosso das reformas pode sair pela culatra caso pareça que Xi esteja se curvando aos EUA.

Líderes anteriores da China também falaram em mudanças, mas fizeram pouco para transformar o discurso em realidade. Ampliar os benefícios sociais para os trabalhadores migrantes, por exemplo, há muito tem sido considerado necessário de forma que eles possam se estabelecer em grandes cidades com suas famílias e passar a ser consumidores ativos. Mas as propostas de extrair das grandes empresas estatais e as regiões ricas recursos adicionais para pagar os benefícios não chegaram a lugar algum.

Além disso, a China poderia se contentar com estratégias que deixam as empresas dos EUA em desvantagem, como a criação de monopólios apoiados pelo governo para reduzir o excesso de capacidade nos setores de aço, alumínio e outras indústrias em vez de estimular a concorrência do setor privado nessas áreas. "As reformas devem ser cuidadosamente avaliadas em relação aos interesses dos EUA", diz a ex-representante comercial dos EUA Charlene Barshefsky.

O que poderia tornar Pequim mais receptivo às inciativas dos EUA é a busca da China de novas bases de crescimento.

"A China passa hoje por uma profunda reestruturação", diz o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Hong Lei. "A meta é promover crescimento rápido e eficiente da economia."

Já a moeda chinesa provavelmente não receberá nenhuma atenção nas conversas dos dois líderes. Desde a visita de Hu, em janeiro de 2011, o yuan se valorizou 11,9% em relação ao dólar, considerando a inflação, segundo o pesquisador Karim Foda, do Brookings Institution, de Washington. A valorização ocorreu em um momento difícil para os exportadores chineses, dando a Xi um forte argumento para que os EUA amenizem suas críticas à política cambial chinesa.
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Fonte: The Wall Street Journal

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