Comunicação das autoridades monetárias pelo mundo tem trazido volatilidade aos mercados de câmbio, juros e bolsas de valores.
A instabilidade das economias em todo mundo, que ainda reflete a enorme crise financeira de 2008, tem dado importância excepcional às declarações dos representantes dos bancos centrais, que passaram a ser motor dos níveis de volatilidade dos mercados.
Qualquer frase que sinalize uma tendência de política monetária tem o poder de fazer despencar ou disparar bolsas, juros, câmbio, títulos, e outros ativos, levando investidores, consequentemente, a perder ou ganhar muito dinheiro.
Por isso a comunicação dos bancos centrais ganhou maior relevância nos últimos tempos, fazendo com que gestores de investimentos se juntem aos economistas no exercício da previsão econômica baseada na interpretação das declarações dos BCs. O impacto na volatilidade dos mercados vem aumentando na medida em que, além dos presidentes, diretores dos BCs ou presidentes regionais, no caso americano, manifestam suas opiniões sobre as políticas adotadas.
Uma entrevista de um dirigente regional do Fed, que sequer tem poder de voto na próxima reunião do Comitê Federal de Capital Aberta (FOMC, na sigla em inglês), Dennis Lockhart, no dia 03 de junho, foi capaz de fazer as ações das bolsas americanas reverter as perdas de quase 2% e encerrar o dia em alta. No Brasil, um dia depois, a declaração do diretor de política econômica do BC, Aldo Mendes,de que era inevitável que o dólar se valorizasse imediatamente, fez o câmbio disparar, subindo 1,03% e chegando à máxima do dia de R$ 2,15.
Esses são apenas dois exemplos, mas o falatório recente tem sido grande e é dos Estados Unidos que vem o maior exemplo de impactos nos mercados globais por declarações da autoridade monetária. Nas últimas semanas, pronunciamentos do presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, e de diversos presidentes regionais da instituição têm causado alta volatilidade em todos os mercados do mundo, afetando principalmente os países emergentes.
A preocupação dos investidores globais é captar exatamente quando e com qual intensidade começará a redução do atual programa de ajuda à economia do país, o Quantitative Easing (QE), que injeta mensalmente US$ 85 bilhões na compra de títulos lastreados em hipotecas. Na medida em que o Fed reduzir o estímulo, os juros americanos sobem e com isso atraem os investidores mundiais, fazendo com que a liquidez global escasseie. É por isso que as falas recentes do Fed têm causado sobe e desce nas bolsas de valores e elevado os preços dos títulos do Tesouro norte-americano e valorizado o dólar pelo mundo.
Entre a reunião e a ata do Copom
Captar o real significado dos discursos, que às vezes exigem um exercício de adivinhação, passou a ser rotina dos executivos, que monitoram com lupa as falas que podem alterar significativamente o rendimento de seus portfólios.
A gestora Humaitá Investimentos, por exemplo, mapeia a tendência de cada presidente regional do Fed, integrantes do FOMC, identificando os que votam e os que votarão futuramente nas decisões sobre o programa. "Olhamos mais os que não têm posição definida", diz o sócio-sênior da empresa, Guido Chagas.
No Brasil, um episódio significativo foi o discurso do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, feito no Rio de Janeiro no XV Seminário Anual de Metas para a Inflação, dia 16 de maio. Ressaltando a vigilância do banco para baixar a inflação, ele disse que o BC já tinha agido iniciando um ciclo de alta da Selic, quando aumentou a taxa em abril de 7,25% para 7,5%.
Bastou este sinal de continuidade do ciclo para os juros dispararem no mercado futuro: o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 passou de 7,97% para 8,06% e, os de 2015, de 8,27% para 8,37%. A interpretação do mercado foi confirmada na reunião seguinte do Comitê de Política Monetária (Copom), que em 29 de maio subiu a Selic de 7,5% para 8% ao ano.
Após a decisão, Tombini concedeu entrevistas à imprensa para explicar a iniciativa, antes mesmo da divulgação da ata da 175ª Reunião do Copom que decidiu pelo aumento, quebrando o que costuma ser a rotina de comunicação do banco: não se falar entre a reunião e a divulgação da ata.
A aposta na alta dos juros já tinha ocorrido em abril, quando o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, protagonizou outra inovação na comunicação. No dia 25 de abril, quando saiu a ata da 174ª Reunião do Copom, que elevou a Selic de 7,25% para 7,50%, Hamilton falou num evento que o BC poderia ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso da Selic para combater a inflação, levando o mercado a apostar na alta mais forte da Selic, diferentemente do que sinalizada a ata divulgada pela manhã.
Para o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, hoje chefe do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), os bancos centrais precisam aprimorar sua comunicação, pois hoje detêm muito poder de decisão sobre os mercados. "Acho que os bancos centrais devem ter uma comunicação mais afinada, deve ter uma liturgia", disse Freitas. Ele acrescentou que, para evitar ser mal interpretado, o banco deve preferir falar pelas atas.
No BC o entendimento é de que a comunicação atual da instituição não está quebrando regra escrita mas seguindo uma nova linha de transparência já informada ao mercado. "Essa regra de não falar entre a reunião e a divulgação da ata é uma regra de governança, que não impede o banco de falar em entrevistas públicas", disse uma fonte do banco.
Ele lembrou que Tombini já se manifestou publicamente que os bancos centrais evoluíram para uma maior transparência na comunicação, avançando na saída do hermetismo que prevaleceu no passado, em alguns casos com indicações explícitas sobre a evolução quantitativa projetada de suas taxas básicas.
Fonte: Brasil Econômico
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