Às terças-feiras pela manhã, professores e estudantes de pós-graduação enchem uma sala de aula aqui na Universidade Harvard para assistir à provação econômica dos alunos de doutorado. Durante uma hora e meia, os palestrantes explicam para os muitos presentes como suas teses estão progredindo e são então bombardeados com perguntas, críticas e sugestões.
As sessões não eram sempre tão animadas, disse o professor da universidade Benjamin Friedman, que há anos participa dos seminários de Pesquisas em Macroeconomia. As salas de aulas lotadas de hoje em dia — em contraste com as audiências minguadas de dez anos atrás — ilustram como a crise financeira de 2008 e a recessão subsequente reviveram o academicismo em macroeconomia.
"Os acadêmicos estão olhando [...] para áreas que têm um monte de perguntas não respondidas", disse James Poterba, professor do Instituto Tecnológico de Massachusetts, o MIT, e presidente da Agência Nacional de Pesquisa Econômica. Houve "um aumento substancial no interesse e entusiasmo em torno da pesquisa macroeconômica".
A pesquisa vai além dos seminários da Harvard. Seguem três das principais questões levantadas pelos recentes problemas econômicos e fiscais que afligiram os Estados Unidos:
Quais são as consequências de um endividamento muito alto das famílias?
A alavancagem, ou o uso de dinheiro emprestado, disparou no momento anterior à crise. Os consumidores contraíram dívidas, geralmente para comprar imóveis.
Essas elevadas obrigações deixaram as famílias particularmente vulneráveis quando o mercado imobiliário entrou em colapso, disse Amir Sufi, professor da Faculdade de Administração Booth, da Universidade de Chicago. Sufi e seu colega Atif Mian, agora na Universidade de Princeton, estudaram como os empréstimos lastreados em imóveis contribuíram para a inadimplência depois do colapso.
"Quase toda grande recessão nos últimos cem anos, em qualquer país, foi precedida por um grande aumento no endividamento das famílias e foi precipitada por um colapso nos preços dos imóveis", disse Sufi.
O que vai acontecer quando o Fed recuar?
À medida que a crise se desenrolava, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, empregou um conjunto de ferramentas econômicas, levando o banco central americano a injetar dinheiro para manter os mercados financeiros funcionando, bem como a reduzir as taxas de juros de curto prazo para quase zero e prometer conservá-las assim por algum tempo. A crise foi o "grande teste" destas medidas, disse o português Ricardo Reis, professor da Universidade Columbia.
O banco central vem comprando títulos de dívida do governo e investimentos lastreados em hipotecas desde a crise e mais do que triplicou sua carteira, que já ultrapassou a casa dos US$ 3 trilhões.
Reis está estudando as implicações da expansão do portfólio do Fed. O grande risco está não em comprar os títulos, mas em se desfazer deles, concluiu Reis num estudo recente com Robert Hall, da Universidade de Stanford.
Quando o banco central finalmente elevar os juros de curto prazo, os preços dos títulos de dívida vão cair. O Fed "vai perder dinheiro", disse Reis. "Como ele vai lidar com tal prejuízo?"
Que forma o estímulo fiscal deve tomar — e ele ajuda?
Antes da crise, a política monetária era vista por muitos como uma resposta mais hábil para as recessões do que a política fiscal, que geralmente leva mais tempo para gerar efeito. Enquanto o banco central pode reduzir taxas de juros rapidamente, os políticos podem levar meses para chegar a um acordo quanto à legislação para estimular a economia. Alguns economistas já questionaram se o pacote de estímulo de US$ 787 bilhões que o Congresso americano aprovou no início de 2009 foi grande ou pequeno demais e se foi empregado da maneira mais eficaz.
"Você poderia esperar que, dado o imenso volume de dinheiro gasto no estímulo fiscal [...], teríamos mostras de como ele funcionou, mas a verdade é que não é bem assim", disse Emi Nakamura, professor da Columbia. "Nos últimos anos, houve uma grande expansão no modo como as pessoas estão tentando usar vários tipos de experimentos naturais para examinar os efeitos do estímulo fiscal."
Estímulos podem assumir diversas formas, como cortes de impostos e transferências para seguro-desemprego nos Estados. Acadêmicos divergem sobre se o estímulo teve um efeito "multiplicador" durante a recessão, se levou ou não as empresas e as pessoas a gastarem mais. Alguns economistas dizem que gastos maiores do governo inibiram investimentos que poderiam de outra forma ter sido feitos pelo setor privado.
Para medir os efeitos do estímulo, Nakamura e Jón Steinsson, também da Columbia, estudaram como os gastos militares afetaram as economias dos Estados. A pesquisa concluiu que, quando as taxas de juros estavam próximas de zero e a economia sob estresse, US$ 1 em gastos do governo pode gerar mais de US$ 1,50 em demanda.
Embora as respostas finais a essas perguntas — e a muitas outras — talvez ainda estejam bem distantes, um benefício da recessão foi ter levado os economistas a procurar por elas.
Fonte: The Wall Street Journal
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