BRASÍLIA, 3 Jun (Reuters) - A balança comercial brasileira voltou a registrar superávit em maio, influenciada por maiores vendas de commodities, mas mesmo assim teve o pior resultado para meses de maio dos últimos 11 anos, com as importações registrando recorde para o mês.
O saldo ficou positivo em 760 milhões de dólares, revertendo o déficit de 995 milhões de dólares em abril, por conta do aumento de mais de 800 milhões de dólares das exportações de minério de ferro e petróleo em relação ao mês anterior, e do volume recorde de embarque de soja, mostraram dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio nesta segunda-feira.
Mesmo com o resultado positivo de maio, a balança comercial registra o pior desempenho para os primeiros cinco meses do ano da série histórica do Banco Central, iniciada em 1959.
O déficit acumulado é de 5,392 bilhões de dólares e supera o recorde anterior de 3,339 bilhões de dólares registrado nos primeiros cinco meses de 1995 -- início do Plano Real, quando a moeda brasileira valorizada em relação ao dólar favorecia as importações. Nos primeiros cinco meses do ano passado, o saldo estava positivo de 6,261 bilhões de dólares.
"Não é um ano fácil para o comércio exterior", disse a jornalistas a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
O resultado mensal veio bem abaixo do esperado pela mediana dos especialistas consultados pela Reuters, que projetavam um superávit de 1,8 bilhão de dólares.
As importações registraram o valor recorde de 21,064 bilhões de dólares para meses de maio, com alta de 9 por cento pela média por dia útil em relação a maio de 2012. Já as exportações recuaram 1,5 por cento na comparação anual, totalizando 21,824 bilhões de dólares em maio.
No ano, os embarques somam 93,291 bilhões de dólares, queda de 2,8 por cento frente a igual período do ano passado pela média diária, enquanto as importações chegam a 98,683 bilhões de dólares, expansão de 9,8 por cento sobre os cinco primeiros meses de 2012.
O governo credita o pior desempenho da balança à conta petróleo, que tem sido deficitária. A Petrobras elevou as importações de petróleo e derivados e reduziu as exportações para atender a demanda doméstica. Além disso, a estatal deixou para este ano a contabilização da importação de 4,6 bilhões de dólares de gasolina realizada no ano passado.
"Temos a conta petróleo pesando contra o saldo comercial nos dois aspectos: queda das exportações e aumento das importações", disse a secretária de Comércio Exterior, acrescentando que o déficit da conta petróleo chegou a 11 bilhões de dólares entre janeiro e maio.
O diretor de pesquisas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, disse que mesmo expurgado esse fator, há uma deterioração da balança comercial. "Isso atesta a significativa perda de competividade nos últimos anos por conta do aumento dos custos trabalhistas, alta inflação e real sobrevalorizado", afirmou Ramos.
Para os próximos meses, a perspectiva é de melhora no desempenho comercial por conta do aumento dos embarques de commodities e da redução do déficit de petróleo. Os dados de maio mostram uma melhora da conta petróleo, com as exportações saltando 70 por cento em relação a abril, ante um crescimento de 7,2 por cento nas importações.
CÂMBIO MELHOR
Outro fator que pode melhorar o desempenho da balança é a recente desvalorização do real frente ao dólar. A moeda norte-americana subiu 7,04 por cento em maio, fechando o mês a 2,1424 reais -- maior patamar desde maio de 2009.
"As autoridades, preocupadas com o fraco crescimento (do PIB) e a deterioração da balança comercial e da conta corrente, vão, certamente, permitir um real mais desvalorizado", afirmou Ramos, do Goldman Sachs, acrescentando que o governo poderia permitir um real ainda mais desvalorizado não fosse os problemas inflacionários do país.
A piora da balança comercial brasileira é um dos principais fatores para o déficit nas transações correntes do país. Em abril, esse déficit atingiu 8,318 bilhões de dólares, 55 por cento superior a igual mês de 2012, fazendo com que o saldo negativo em 12 meses superasse 3 por cento pela primeira vez em mais de uma década.
A secretária do Comércio Exterior preferiu adotar um tom mais cauteloso, dizendo ainda ser cedo para dimensionar o impacto da alta do dólar nas exportações brasileiras. "Neste momento não dá para falar em alívio", disse.
Fonte: Reuters Brasil
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