Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

FMI admite ter cometido sérios erros no resgate da Grécia

O Fundo Monetário Internacional admitiu ter cometido grandes erros ao longo dos últimos três anos na forma como conduziu o resgate financeiro da Grécia, a primeira faísca da crise de dívida que se espalhou pela Europa.

Em um documento interno, marcado como "estritamente confidencial", o FMI informou que subestimou o dano que suas prescrições de austeridade podiam causar na economia da Grécia, que está há seis anos atolada numa recessão.
Mas o fundo também destacou que a resposta à crise, coordenada com a União Europeia, permitiu ganhar tempo e limitar as consequências para o resto da zona do euro.

O FMI admitiu ter ignorado suas próprias regras para fazer com que a crescente dívida da Grécia parecesse sustentável e que, em retrospecto, o país não se enquadrava em três dos quatro critérios necessários para se qualificar para receber ajuda.

Uma versão do documento, preparado pela equipe do FMI, foi divulgada publicamente ontem, depois de uma reportagem do The Wall Street Journal sobre o relatório.

Ao longo dos últimos três anos, algumas das principais autoridades do FMI, incluindo a atual diretora-gerente, Christine Lagarde, disseram repetidamente que o nível de dívida do país era "sustentável" — com a possibilidade de ser paga integralmente e no prazo.

Mas o documento descreve as incertezas em torno do resgate da Grécia como "tão significativas que a equipe foi incapaz de comprovar que a dívida pública tinha alta probabilidade de ser sustentável".

Dois ex-funcionários do FMI disseram que o principal advogado do fundo, Sean Hagan, alertou repetidamente em meados de 2010 que o programa grego estava bem próximo de violar as regras da instituição.

O FMI mudou regras em 2010 para permitir "um acesso excepcional" para suas linhas de crédito ou empréstimos muito maiores do que o normal.

Em retrospectiva, o que aconteceu, "é que nem todos os critérios de acesso excepcional [para assistência] da época foram cumpridos", disse Lagarde em uma entrevista. "Mas havia uma necessidade premente de apoio no momento", disse. Se o FMI não tivesse alterado suas regras", provavelmente não haveria resgate do FMI naquela época."

Ela disse que a revisão feita pelo fundo "provavelmente vai nos levar a reavaliar as exceções aos critérios de acesso excepcional" e "certamente nos levará a calibrar melhor como trabalhamos com contratos de financiamento regionais."

O documento admite que o FMI foi otimista demais com relação às perspectivas do governo grego de voltar a se financiar no mercado e à sua habilidade política de cumprir as condições impostas pelo programa de resgate.

O documento é o mais importante de uma série de análises do FMI durante os últimos meses que tenta avaliar o envolvimento da instituição na crise financeira da zona do euro.

O documento sugere que o maior beneficiário do resgate de 2010 não foi tanto a Grécia, mas a zona do euro. Ele descreve o resgate como uma operação que "deu à área do euro tempo para construir uma rede de segurança para proteger outros membros vulneráveis e evitar efeitos potencialmente severos na economia global".

O FMI uniu forças com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu em 2010, formando a chamada troica, para gerenciar o primeiro resgate da Grécia, de 110 bilhões de euros (US$ 143 bilhões) — um dos maiores resgates internacionais de todos os tempos.

Os três continuaram a dar andamento ao segundo resgate do país, concedido em 2012. Além da Grécia, a troica está gerenciando ainda os resgates da Irlanda, de Portugal e do Chipre.

Embora o fundo venha reduzindo seus compromissos financeiros com as economias da zona do euro, ele injetou um total de US$ 47 bilhões na Grécia, o maior empréstimo já concedido pelo FMI proporcionalmente ao tamanho da economia do país.

O fundo criticou o atraso na reestruturação da gigantesca dívida da Grécia, que finalmente ocorreu em maio de 2012, dois anos após o resgate inicial. Mas admitiu que reduzi-la antes desse prazo era "politicamente difícil" devido à resistência de alguns países da zona do euro cujos bancos detinham muitos títulos de dívida da Grécia.

O FMI também informou que a sua própria análise sobre a evolução futura da dívida estava errada "por uma ampla margem".

No relatório, o fundo recomendou que os credores europeus da Grécia acelerem o alívio de dívida do país.

Autoridades da zona do euro haviam se comprometido a diminuir o valor da dívida grega se Atenas cumprir os cortes no orçamento, aumento na arrecadação e reestruturação econômica prometidos. A meta do programa é reduzir a dívida para 124% do PIB até 2020 e substancialmente menos que 110% até 2022, de um pico de 175% neste ano.

Mas o FMI diz que há dúvidas sobre a capacidade da Grécia de pagar suas obrigações se continuar com níveis insustentáveis de dívida pelos próximos anos.

O ministério da Fazenda da Grécia e a Comissão Europeia não quiseram comentar o relatório.

Fonte: The Wall Street Journal

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