SÃO PAULO, 5 Jun (Reuters) - A intensa volatilidade trazida ao mercado cambial pela mudança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que fez o dólar cair 2 por cento para depois subir quase 1 por cento na manhã desta terça-feira, levou o Banco Central a atuar para conter os ânimos dos investidores.
Ao mesmo tempo em que analistas acreditam que a medida --que zerou a alíquota do IOF sobre recursos estrangeiros em renda fixa-- pode reduzir a pressão de alta sobre o dólar no curto prazo, eles ressaltam que o cenário internacional e fundamentos ruins da economia brasileira devem continuar pesando sobre o câmbio no decorrer do ano.
Às 12h57, a moeda norte-americana tinha leve queda de 0,10 por cento, para 2,1267 reais na venda, depois de bater 2,1496 reais na máxima da sessão e 2,0849 reais na mínima, com queda de 2 por cento logo no início dos negócios --movimento que perdeu força após a euforia inicial com a medida.
Segundo dados da BM&F, o volume negociado estava em torno de 2 bilhões de dólares.
"Embora no curto prazo a medida possa resultar num aumento dos fluxos de entrada, a ausência do IOF provavelmente levará a uma volatilidade maior", informou o banco HSBC em relatório. "Investidores estrangeiros provavelmente ficarão mais dispostos a entrar no Brasil, mas também mais inclinados a tirar investimentos em tempos de aversão ao risco", emendou.
O Banco Barclays destacou ainda que a zeragem da alíquota do IOF pode levar a alguns fluxos de saída, uma vez que certos capitais não estariam deixando o país por causa da taxação de 6 por cento.
Na intervenção desta terça-feira, o BC vendeu 27,5 mil contratos de swap cambial tradicional --equivalentes a uma venda de dólares no mercado futuro-- da oferta total de 40 mil contratos com vencimento em 1º de julho de 2013. A operação movimentou o equivalente a 1,377 bilhão de dólares.
Antes disso, a presidente Dilma Rousseff havia trazido mais gás ao mercado ao ser questionada se haveria mais ações para segurar o dólar no final desta manhã. Ela respondeu: "Nós não temos medida nenhuma para segurar o dólar, eu queria informar que esse país adota o regime de câmbio flexível".
"Essa aceleração (da alta do dólar) foi por causa da Dilma falando que não tem medida para segurar o dólar. Acho que isso está dando fôlego para essa alta", afirmou o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno.
Ao anunciar a mudança no IOF na noite de terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou que a medida visa retirar obstáculos para o ingresso de capital estrangeiro em renda fixa e descartou que haja interesse em combater a alta da inflação via câmbio.
A valorização do dólar tem sido generalizada devido a sinais de recuperação da economia norte-americana, que tem alimentado expectativas de que o Federal Reserve, banco central do país, reduza seu programa de estímulo. Somente em maio, o dólar avançou 7,04 por cento ante o real.
Na terça-feira, o dólar encostou em 2,15 reais no decorrer do dia, mas anulou a alta a poucos minutos do encerramento da sessão e fechou cotado a 2,1289 reais, já devido a rumores sobre o IOF.
Declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, ajudaram a impulsionar a alta do dólar na terça-feira.
REAL AINDA FRACO
Agentes do mercado alertavam, no entanto, para a qualidade desses ingressos e para possível aumento da volatilidade no cãmbio devido à medida.
"Os ingressos não serão da qualidade ideal porque deve vir dólar especulativo. Mas quando se tem necessidade não dá para escolher a qualidade. A perspectiva é que agora tenha fluxo, e isso é fundamental", disse o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.
A estrategista de câmbio da América Latina do RBS, Flavia Cattan-Naslausky, acredita que os fluxos não devem ser suficientes para reverter a tendência de apreciação do dólar e vê a moeda sendo negociada dentro de um intervalo de 2,05 a 2,15 reais.
"Eu acho que a direção continua de um real mais fraco. O Brasil está com uma deterioração nas contas externas", afirmou.
O déficit em transações correntes do Brasil subiu 55 por cento em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, fazendo com que o rombo em 12 meses superasse 3 por cento do PIB pela primeira vez em mais de uma década.
Fonte: Reuters Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário