A lenta recuperação do mercado de trabalho dos Estados Unidos desacelerou ainda mais em julho — e muitos dos postos de trabalho criados foram em setores de baixa remuneração.
Os empregadores americanos abriram 162.000 vagas em julho, dado ajustado pela sazonalidade, informou na sexta-feira o Departamento de Trabalho. Foi o menor número desde março, sendo que as contratações em maio e junho também foram revisadas para baixo em relação às divulgadas inicialmente. Além disso, mais da metade dos empregos criados foram em restaurantes e setores do varejo, que em ambos os casos pagam, em média, bem menos do que US$ 20 por hora.
"Estas vagas contam como empregos nos relatórios, mas está sendo dada muito pouca atenção para o tipo de trabalho em questão", disse Arne Kalleberg, professora de sociologia na Universidade da Carolina do Norte e autora do livro "Good Jobs, Bad Jobs" (em tradução livre, "Empregos Bons, Empregos Ruins"). "Eles tendem a ser empregos de baixa remuneração nos setores de varejo e serviços pessoais, muitos deles de meio período."
No entanto, mesmo com a desaceleração no crescimento dos empregos, a taxa de desemprego caiu de 7,6% para 7,4%, a mais baixa desde dezembro de 2008.
A queda na taxa de desemprego reflete, em certa medida, um ritmo de contratação que, embora lento, manteve-se estável ao longo do último ano, mesmo com a economia em geral crescendo aos trancos e barrancos. Os EUA criaram uma média de 192.000 postos de trabalho não agrícolas por mês até agora neste ano, um ritmo longe de ser robusto, mas mais que suficiente para acompanhar o crescimento populacional.
Mas a queda na taxa de desemprego também é resultado de um mercado que se mantém fraco demais para atrair de volta os trabalhadores que saíram da força de trabalho. Cerca de 6,6 milhões de trabalhadores dizem querer um emprego, mas não são contabilizados como desempregados porque não estão ativamente procurando, número que ficou praticamente estável no ano passado. O número de americanos trabalhando ou procurando emprego diminuiu em 37.000 em julho. Como parcela da população, a força de trabalho permanece próxima ao nível mais baixo dos últimos 30 anos.
Os sinais conflitantes do mercado de trabalho dificultam a missão do Federal Reserve, já que o banco central americano leva em conta esse dado para decidir ou não reduzir seu programa de compra de US$ 85 bilhões por mês em títulos de dívida, cujo objetivo é estimular o crescimento. O Fed afirmou esperar que a taxa de desemprego esteja em cerca de 7% quando parar com as compras, taxa que pode ser alcançada até o fim do ano. No entanto, as autoridades do Fed também ressaltaram que estão atentas a outros indicativos da saúde do mercado de trabalho — como a fatia da população que está ativa e a média de horas da semana de trabalho — muitas dos quais têm apresentado uma melhora menor.
"Dada a mescla de dados deste relatório, não acho que muitas pessoas mudarão de opinião" sobre o direcionamento da política do Fed, disse Douglas Handler, economist-chefe nos EUA para a consultoria IHS Global Insight.
As bolsas americanas subiram pela sexta semana consecutiva. A Média Industrial Dow Jones subiu 30,34 pontos, para 15.658,36, registrando seu 30º novo recorde no ano. Os preços dos títulos de dívida também subiram, com o rendimento das notas de dez anos do Tesouro dos EUA, que são referência no mercado, caindo para 2,601% ao ano.
Para complicar ainda mais o quadro, as contratações nos últimos meses têm sido maiores do que os economistas poderiam esperar dado o ritmo lento do crescimento econômico, uma disparidade que pouco provavelmente se manterá no longo prazo. A maioria dos economistas, incluindo os do Fed, estimam que o crescimento irá acelerar modestamente no segundo semestre. Se estiverem errados, o ritmo de contraração pode diminuir à medida que as empresa passem a atender à demanda crescente exigindo mais dos seus funcionários existentes em vez de ampliar a folha de pagamento.
"Em uma economia que cresce menos de 2%, nós não temos muita demanda para contratação porque nossa produtividade excede isso", diz Alexander Cutler, diretor-presidente da Eaton Corp., ETN -5.86% fabricante global de equipamentos elétricos e hidráulicos. O seu número total de funcionários, ajustado às aquisições feitas, é hoje praticamente o mesmo de um ano atrás.
As empresas que estão contratando tendem a ser de setores que não podem facilmente ampliar as vendas sem agregar novos funcionários. Esses setores geralmente pagam baixos salários. Ao longo do ano passado, setores de baixa remuneração como varejo, restaurantes, hotéis e agências de trabalho temporário responderam por mais de 40% do aumento de empregos. Muitas dessas vagas são de meio período. A fração de americanos trabalhando meio período, que disparou durante a recessão, mostrou uma tendência crescente durante a maior parte deste ano.
O presidente Barack Obama tem ressaltado a necessidade da criação de bons empregos, inclusive durante a visita que fez na semana passada às instalações da Amazon.com Inc., AMZN -0.45% no Tennessee.
Um dia antes da visita, a gigante do varejo on-line anunciou que estava criando mais de 5.000 postos de trabalho em tempo integral nos seus centros de distribuição espalhados pelos EUA. Muitas dessas vagas têm remuneração de US$ 11 por hora ou menos, apesar de a companhia ter informado que eles terão direito a benefícios como assistência médica, subsídios para estudo e planos de ações.
"No nosso ponto de vista, são ótimos empregos", disse a porta-voz da Amazon, Kelly Cheeseman.
Mas a proliferação de empregos de baixa remuneração está levando a um crescimento anêmico da renda. A média de salário por hora em julho subiu menos de 2% em relação ao mesmo mês de 2012, dando continuidade ao padrão de baixo crescimento predominante na recuperação. Uma medida mais ampla de renda divulgada pelo Departamento de Comércio na sexta-feira mostrou que a renda ajustada pela inflação na verdade caiu ligeiramente em junho.
Heidi Shierholz, economista do Instituto de Política Econômica, de esquerda, disse que essa tendência deve continuar enquanto o desemprego continur elevado e as contratações permanecerem fracas.
"Não há nada pressionando para o crescimento dos salários", disse Shierholz. "Seu empregador não precisa dar a você grandes aumentos salariais quando sabe que você não tem muitas opções lá fora."
Fonte: The Wall Street Journal
Nenhum comentário:
Postar um comentário