SÃO PAULO, 21 Ago (Reuters) - O dólar avançou mais de 2 por cento ante o real, batendo na máxima em quase cinco anos ao chegar ao patamar de 2,45 reais, diante de forte movimento especulativo e após investidores interpretarem a ata da última reunião do Federal Reserve como um sinal de que a redução do estímulo nos Estados Unidos está próxima.
O movimento aconteceu mesmo com a forte atuação do Banco Central brasileiro, que fez dois leilões de swap cambial tradicional --equivalentes a venda futura de dólares--, anunciou mais um para a próxima sessão e, após o fechamento dos negócios, divulgou que fará um leilão de linha na quinta-feira.
O dólar avançou 2,39 por cento, para 2,4512 reais na venda, após tocar 2,4523 reais na máxima do dia. É o maior nível de fechamento desde 9 de dezembro de 2008, quando ficou em 2,473 reais na venda, auge da crise internacional. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro foi muito pequeno, apenas um pouco acima de 750 milhões de dólares.
"O mercado lá fora piorou devido ao Fed e, como aqui o mercado está estupidamente especulativo, a notícia que era um pouco ruim lá fora fica aqui péssima", afirmou o operador de uma corretora internacional.
A ata da última reunião do Fed mostrou que apenas alguns integrantes do banco central norte-americano acreditam que o momento de reduzir o estímulo monetário no país está próximo, mas fez pouco para dissuadir a expectativa disseminada de que isso deve ocorrer já em setembro.
Investidores mantêm os olhos abertos para quaisquer sinais sobre a eventual redução do ritmo de compra de títulos do Fed, uma vez que, quando ocorrer, limitará a oferta de dólares nos mercados globais, catapultando as cotações da divisa dos EUA.
No entanto, o avanço do dólar no Brasil foi mais forte do que o observado em relação a outras moedas de países. Sobre uma cesta de moedas, o dólar tinha alta de 0,5 por cento.
"O negócio perde um pouco a lógica, vendo o tamanho da valorização da moeda comparada com outros países", disse o operador de câmbio da B&T Corretora Marcos Trabbold.
Segundo ele, a pressão de fortalecimento do dólar vem principalmente do mercado futuro, com o que chamou de "ataque especulativo" à moeda, e que as condições de liquidez no mercado à vista estão mais normais. Essa tese é corroborada pelos dados mais recentes do fluxo cambial, que mostraram entrada líquida de 812 milhões de dólares na semana passada.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, cancelou viagem aos Estados Unidos para acompanhar de perto os desdobramentos do mercado local, informou a assessoria de imprensa da autoridade monetária. Tombini participaria de encontro do Fed de Kansas City, que ocorre em Jackson Hole, nos EUA, nesta semana.
INTERVENÇÕES
O dólar já abriu o dia em alta, sob a expectativa da divulgação da ata do Fed, mesmo após atuações do BC. A autoridade monetária realizou um leilão de swap tradicional durante a manhã e, mais tarde, anunciou que ofertará na quinta-feira mais 20 mil contratos de swap tradicional com vencimento em 1º de abril de 2014. O leilão ocorrerá entre as 10h30 e as 10h40 e o resultado será divulgado a partir das 10h50.
Ambas as ofertas têm como objetivo a rolagem de contratos com vencimento previsto para 2 de setembro deste ano.
Durante a tarde, após a divulgação da ata do Fed, o BC voltou mais uma vez aos mercados por meio de um segundo leilão de swap cambial tradicional, com prazo em 3 de fevereiro de 2014, vendendo 35,6 mil contratos do lote total de 40 mil contratos. Desta vez, os contratos não tinham a finalidade de rolar swaps pré-existentes.
Na reta final do pregão, por fim, o BC fez uma pesquisa de demanda para leilão de linha e, pouco após o fim da sessão, anunciou que fará a intervenção na quinta-feira. A autoridade monetária venderá até 4 bilhões de dólares em dois lotes: o primeiro, ofertado entre as 11h15 e as 11h20, tem data de recompra em 1º de novembro de 2013; o segundo, que ocorrerá entre as 11h30 e as 11h35, tem data de recompra em 1º de abril de 2014.
Os investidores também têm reagido devido à desconfiança com a política econômica do país, fazendo com que o dólar suba ante o real. Só em agosto, a valorização já chegou a 7,40 por cento. O BC tem entrado nos mercados para conter essa volatilidade e também para evitar que a alta da divisa norte-americana contamine a inflação.
Fonte: Reuters Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário