O vento passou a soprar forte contra a economia brasileira. Queridinho dos investidores internacionais até meados do ano passado, quando foi capa de revistas e jornais estrangeiros, o Brasil agora é tratado como filho pródigo.
Algumas vozes mais radicais chegam a dizer que a sigla Brics não faz mais sentido, deveria perder o B. A profecia original de que os países emergentes de grande dimensão iriam se transformar em locomotivas do crescimento mundial ficaria restrita à contribuição da China e da Índia. Nessa versão ácida, com a inflação no teto, PIB magro e contas externas ameaçadas, o Brasil perdeu fôlego e deixou de ser uma opção de primeira grandeza. Isso justifica em parte a desvalorização do real. Enfim, a carruagem teria virado abóbora.
O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou se levar pela incerteza em declaração sobre a disparada do dólar. "Esse câmbio não é definitivo, pode subir mais um pouco, cair um pouquinho, ou ficar onde está, eu não sei dizer", disse ele, ressaltando que vivemos um momento de alta volatilidade.
Paulo Nogueira Batista Jr., diretor pelo Brasil e mais dez países no FMI, em artigo no fim de semana, também mostrou que a hora não é de brincadeira. "A euforia passou também. Estamos ainda longe das condições que nos levaram a crises cambiais, instabilidade e recessão. Mas a nossa posição já não é tão forte. E pior: vem se deteriorando com certa rapidez". Na conclusão do texto, ele adverte: "A última coisa que um economista da minha geração gostaria de reviver é a volta do país a uma situação de fragilidade externa".
Nessa toada, o melhor a fazer seria mesmo comprar dólares. Mas essa edição do Brasil Econômico mostra que ainda há bons motivos para acreditar no real. Em entrevista exclusiva, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, declara sua inamovível fé na economia brasileira. Diz que há pessimismo demais no ar e lembra que o país desfruta de pleno emprego, o que é motivo de inveja no resto do mundo.
Conta também que existe enorme interesse no exterior pelos futuros leilões de concessão de rodovias e ferrovias. Ao falar sobre o gigantesco projeto de expansão de Carajás, que vai gerar mais 90 milhões de toneladas de minério de ferro, prevê que não faltará mercado para o aumento de produção. E lembra que a inclusão social no Brasil, na China e na Índia vai garantir a demanda por produtos acabados que consomem aço. Com base no que viu pela Ásia, Murilo faz apenas uma ressalva: o país precisa investir mais em educação, de preferência no ensino em tempo integral.
Em seminário sobre pequenas e médias empresas, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, confirmou que não param de crescer as consultas sobre o programa de concessões na área de infraestrutura. E garantiu que os desembolsos do banco estatal vão atingir o recorde de R$ 195 bilhões este ano.
Mas um dado chama a atenção dos técnicos do BNDES: descontadas as liberações para infraestrutura e exportações, os desembolsos para pequena e média empresa já são responsáveis pelas maiores liberações do banco, com 32% do total. E a maior parte desses investimentos vai para inovação tecnológica, com a aquisição de equipamentos de ponta. O BNDES deve injetar no segmento cerca de R$ 70 bilhões, ou seja, mais que o dobro em relação a 2012. Portanto, apesar da onda de pessimismo, a roda da economia real está se movendo.
Fonte: Brasil Econômico
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