Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Consumo na China recua e pressiona resultados de multinacionais

Empresas tão variadas como redes de varejo e fabricantes de eletrônicos estão divulgando resultados mais fracos na China, num momento em que a desaceleração da economia do país mina os esforços do governo de tornar o consumo o principal motor do crescimento.

No mês passado, a japonesa Cannon Inc. reduziu sua previsão de lucro no ano para 380 bilhões de ienes (US$ 3,89 bilhões), 16% menor que sua estimativa de três meses atrás, citando como um dos motivos a desaceleração da China. A Nike Inc. NKE +0.09% divulgou vendas menores na China no seu último resultado, enquanto a cadeia britânica de supermercados Tesco TSCO.LN +1.83% PLC está negociando com uma empresa local, a China Resources Enterprise Ltd., 0291.HK +0.22% uma sociedade que absorveria suas 131 lojas no país, que vêm tendo um baixo desempenho.

A Apple Inc. AAPL +1.36% afirmou no mês passado que sua receita na região da Grande China durante o trimestre encerrado em 29 de junho caiu 14% ante o mesmo período do ano anterior, para US$ 4,6 bilhões. O número representa um declínio de 43% em relação ao trimestre anterior.

"Boa parte da história sobre a China que as empresas contavam a seus acionistas era sempre um crescimento nominal de 15% do produto interno bruto e 20% nas vendas", disse Derek Scissors, especialista em economia chinesa da Fundação Heritage, um centro de estudos americano. "Essa história generalizante perdeu força."

Muitas estão culpando a lentidão da economia da China por pelo menos parte de seu desempenho. O crescimento do país no segundo trimestre caiu para 7,5% ante um ano atrás, comparado com 7,7% no primeiro trimestre.

Isso prejudicou as iniciativas do governo para dar poder aos consumidores chineses. O crescimento das vendas do varejo diminuiu 12,8% em julho na comparação ano a ano, contra 14,3% em julho de 2012. A confiança do consumidor subiu em comparação com a de junho, segundo a Agência Nacional de Estatísticas, mas continua próximo de seu nível mais baixo nos 23 anos desde que começou a ser oficialmente medida.

O mercado imobiliário também perdeu fôlego em relação ao começo do ano, quando o governo relaxou os controles e mais gente comprou imóveis, e esse desaquecimento atingiu os gastos com consumo. De fato, as vendas de eletrônicos subiram 7,5% em julho ante um ano atrás, menos que o ganho de 20,9% registrado nos primeiros dois meses do ano, segundo dados oficiais. O crescimento das vendas de móveis também diminuiu, de 20,9% para 17,6%.

O cenário não é igualmente nebuloso para todo mundo. As vendas na região da Grande China da empresa alemã de artigos esportivos Adidas AG ADS.XE +1.18% aumentaram 6% no segundo trimestre fiscal, enquanto a rede franco-taiwanesa Sun Art Retail Group Ltd., 6808.HK +1.14% que tem 284 supermercados na China, divulgou um crescimento de 15% no lucro, para 1,58 bilhão de yuans (US$ 258 milhões), no primeiro semestre. As vendas de carros de passageiros também se mantiveram robustas.

Alguns analistas estão otimistas que a desaceleração no consumo será temporária.

"Não creio que toda a fraqueza nas vendas ao consumidor seja devida a uma fraqueza estrutural na China", disse Xiaopo Wei, analista da corretora CLSA, sediada em Hong Kong. "Quando o cenário macroeconômico perde força, a demanda discricionária é suprimida. Mas quando o cenário macro melhorar, essa demanda terá uma recuperação.

O receio do governo da China é que haja fatores de longa duração em atividade.

Os líderes chineses anunciaram a necessidade de diminuir a histórica dependência da economia dos instáveis mercados de exportação e de altos níveis de investimento e deslocá-la para os gastos do consumo. Até agora essa mudança vem demorando a se realizar. O consumo respondeu por 45% do crescimento do PIB no primeiro semestre do ano, menos que os 60% do mesmo período de 2012.

Ajustada pela inflação, a renda das famílias aumentou 6,5% no primeiro semestre comparado com um ano atrás, um crescimento menor que os 9,7% registrados no mesmo período de 2012. Um aumento menor na renda combinado com os ainda altos níveis de poupança poderiam atenuar o consumo no longo prazo.

Mas nem todos os problemas são provocados pela desaceleração econômica. A concorrência acirrada vem apertando as empresas. Uma guerra de preços entre dois fabricantes de macarrão instantâneo, a Tingyi Holding Corp. TCYMY -1.12% e a Uni-President Enterprises Corp., 1216.TW +1.70% vem prejudicando ambas. Após seu lucro no primeiro semestre ter ficado abaixo das expectativas dos analistas, a Uni-Present culpou a lentidão da economia e a competição ferrenha no setor. E as redes de eletrônicos, como a Suning Appliance Co., cujo lucro caiu 58% no primeiro semestre, sofreram com a migração das compras para a internet. A Alibaba Group Holding Ltd., dona do site de comércio on-line Taobao, afirmou que sua receita no primeiro trimestre aumentou 71% ante um ano atrás.

"O bolo continua crescendo, mas a sua fatia talvez não", disse Paul French, estrategista chefe da firma de pesquisas de mercado Mintel. "O nível de concorrência em quase todos os setores torna muito difícil construir uma participação de mercado."

Fonte: The Wall Street Journal

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