Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Manufatura americana dá sinais de renascimento

Depois de passarem mais de dez anos perdendo terreno para a China e outras potências exportadoras, os fabricantes americanos parecem finalmente estar recuperando a competitividade.

O déficit dos Estados Unidos no comércio de bens manufaturados caiu para US$ 225 bilhões no primeiro semestre, comparado com US$ 227 bilhões no mesmo período de 2012, segundo dados compilados por Ernest Preeg, economista e especialista em comércio da Aliança dos Fabricantes pela Produtividade e Inovação, uma grupo de pesquisa mantido pelo setor industrial. A melhora, embora pequena, ocorre após anos de déficits crescentes, à medida que os EUA foram perdendo mercado na manufatura para a China, a Coreia do Sul e outros países.

"É um sinal animador", diz Preeg, que usou em sua pesquisa dados oficiais dos EUA sobre o comércio de produtos manufaturados, deixando de fora outros tipos de mercadorias, como grãos e carvão. "Pelo menos nós ficamos estáveis."
Ao mesmo tempo, o Boston Consulting Group — um dos principais defensores do renascimento da manufatura americana — prevê um aumento nas exportações dos EUA, impulsionado em parte por custos menores de energia e salários estagnados. Num relatório divulgado semana passada, o BCG afirma que a alta das exportações e o "repatriamento" da produção da China para os EUA "poderia criar entre 2,5 milhões e 5 milhões de empregos industriais e de serviços associados ao crescimento da manufatura" até 2020. Isso, afirma o BCG, poderia reduzir a taxa de desemprego, atualmente em 7,4%, em até dois ou três pontos percentuais.

No momento, cerca de 12 milhões de americanos estão empregados diretamente na manufatura, comparado com 17 milhões 20 anos atrás. O governo dos EUA fez da recuperação da indústria sua maior prioridade, e as grandes empresas se empenham em mostrar iniciativas para criar empregos na manufatura.

A longa recessão na Europa, a queda no crescimento na China e a valorização do dólar vêm prejudicando os exportadores dos EUA, mas muitos conseguiram aumentar suas vendas no exterior.

A Harley-Davidson Inc., HOG -0.24% por exemplo, continua aumentando seu número de revendedores em outros países. "Estamos muito animados com as perspectivas de crescimento no nosso negócio internacional", disse o diretor financeiro, John Olin, a analistas no mês passado. A empresa, que é sediada no Estado de Wisconsin, informou recentemente que suas vendas de motocicletas no varejo durante o segundo trimestre subiram 39% na América Latina e 12% na região da Ásia e Oceania, em relação ao mesmo mês de 2012.

Assim como muitos fabricantes americanos, a Harley reformulou suas operações desde a recessão de 2008 e 2009 e criou uma força de trabalho menor e mais flexível, o que resultou em economias de custo anuais de mais de US$ 300 milhões e tornou a empresa mais competitiva.

Evan Smith, presidente da Hypertherm Inc., do Estado de New Hampshire, diz que as vendas de suas máquinas de usinagem de metais estão crescendo este ano na América Latina e no Oriente Médio. Segundo ele, ajudou ter aberto um centro de distribuição no Brasil.

Já a Graco Inc., GGG +0.14% de Mineápolis, aumentou na Europa Central e do Leste as vendas dos seus equipamentos para aplicar tintas em rodovias, pontes e edifícios, disse o porta-voz Bryce Hallowell.

À medida que o boom do gás de xisto reduz os preços do gás natural e da eletricidade nos EUA, e os salários ficam estagnados, "os EUA vão continuamente se tornando um dos países do mundo desenvolvido de custo mais baixo para a manufatura", afirma o relatório do BCG. Os EUA terão uma vantagem sobre seus concorrentes quanto aos custos da energia, além de ter custos de mão-de-obra, ajustados pela produtividade, menores que os de Alemanha, Japão, França, Itália e Reino Unido, afirmou o relatório. Isso vai permitir aos EUA conquistar uma fatia maior das vendas mundiais no setor de manufatura.

"Esta é uma mudança econômica fundamental", diz Harold Sirkin, sócio do BCG que ajudou a redigir o relatório. "As tendências estão se movendo mais rápido do que esperávamos", acrescenta.

Mesmo assim, os EUA perderam muito terreno nos últimos 15 anos, principalmente por causa do crescimento acelerado da China e o foco do país nas exportações. Em 2011, os EUA respondiam por 11% das exportações mundiais de produtos manufaturados, comparado com 19% em 2000, disse Preeg. Durante o mesmo período, a participação da China saltou de 7% para quase 21%, e a da União Europeia caiu de 22% para 20%.

Recentemente, o desempenho da China desacelerou. As exportações de bens manufaturados dos EUA para a China cresceram 19%, para US$ 19,9 bilhões no segundo trimestre, diz Preeg, mas isso representa cerca de um quinto das exportações de bens manufaturados da China para os EUA.

Os fabricantes americanos ainda têm grandes obstáculos pela frente. Muitos não conseguem encontrar um volume suficiente de mão de obra qualificada para operar e reparar equipamentos sofisticados controlados por computador, uma escassez que se agravou com a aposentadoria da geração de trabalhadores nascida depois da Segunda Guerra, conhecida como "baby boomers". Um crescimento econômico mais veloz na China, Índia e Brasil significa que muitas empresas globais ainda querem abrir mais fábricas lá. O foco das empresas americanas nos resultados trimestrais muitas vezes desencoraja o investimento em equipamentos industriais e várias empresas do país afirmam que pagam impostos mais altos e recebem menos subsídios do que suas rivais estrangeiras.

Fonte: The Wall Street Journal

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