Em artigo publicado ontem no Financial Times, com direito a chamada no alto da primeira página da edição online, o economista sueco Anders Aslund, da Georgetown University, afirma que a festa dos Brics chegou ao fim.
Para ele, o mais grave é que os países emergentes comportaram-se como cigarras nos últimos anos. Referindo-se a Brasil, Rússia, China e Índia, Aslund explica que essas economias se beneficiaram da política monetária frouxa dos Estados Unidos, mas pouco fizeram para consolidar os fundamentos econômicos.
Os Brics não aproveitaram o período de fartura para fazer o dever de casa e agora, que o FED vai retirar seus incentivos, caíram em desgraça. Brasil e Rússia também são prejudicados pela queda nos preços das commodities. A fatura chegou e está sendo paga com a desvalorização de reais, rublos, ienes e rúpias. "The party is over" e os emergentes já torraram US$ 81 bilhões para sustentar suas moedas.
Trata-se, obviamente, de uma interpretação bastante contaminada pelo pessimismo. E é sempre bom lembrar que os mesmo analistas que hoje descem o malho no Brasil teciam loas à criatividade da política anticíclica que ajudou nossa economia a passar ao largo das dificuldades no momento mais agudo da crise de liquidez provocada pela quebradeira do mercado imobiliário americano.
Naqueles dias de bonança, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, era recebido com pompa e circunstância nos fóruns internacionais. E a presidente Dilma Rousseff também era saudada como a grande revelação de estadista da década atual. A economia brasileira foi tema de capa de jornais e revistas especializadas em economia e, no fim de 2009, "The Economist" chegou a pôr o Cristo Redentor na forma de um foguete rumo ao espaço com o título "o Brasil decola".
De lá para cá, muita coisa mudou. E otimismo exagerado deu lugar a um pessimismo igualmente exacerbado. A biruta virou de tal maneira que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, teve de cancelar sua participação na tradicional reunião anual dos presidentes de BCs em Jackson Hole nos Estados Unidos, para prosseguir no monitoramento do ataque especulativo ao real.
Tombini ficou em Brasília e ontem sentou-se no Conselho Monetário Nacional com Mantega e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para discutir como estancar a sangria. Ao que tudo indica, o melhor a fazer, em vez de queimar reservas, é esperar o mercado se acalmar. Afinal, o próprio ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, diz que R$ 2,50 por dólar é uma cotação saudável para as exportações.
O problema é o impacto do dólar na inflação e na vida dos consumidores. O câmbio está virando o atual vilão da economia. É o tomate da vez. Além do inevitável reajuste dos combustíveis, já provocou aumento do pãozinho e está afetando os viajantes da classe média com férias programadas no exterior. O Facebook tornou-se um muro de lamentações de turistas desenganados. Uma carioca com viagem marcada há três meses para Nova York, que ainda não comprou dólares, postou a seguinte mensagem: "Eu vou convocar uma manifestação na Avenida Rio Branco pedindo a queda do dólar e a queda do Mantega... que política econômica é essa!!!". Longe dos humores do mercado financeiro, essa é a voz do povo.
Fonte: Brasil Econômico
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