Bancos centrais de vários países, da Indonésia ao Brasil, estão intensificando seus esforços para combater a queda acentuada de suas moedas e proteger economias vulneráveis à medida que investidores retiram recursos dos mercados emergentes.
O papel crescente que os formuladores de políticas monetárias estão desempenhando no mercado de câmbio adiciona mais incerteza aos mercados financeiros, que já estão tendo dificuldade para absorver a rápida mudança nas perspectivas de crescimento da economia mundial e o possível fim iminente da política de relaxamento monetário do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
O banco central da Turquia leiloou US$ 350 milhões das suas reservas, cumprindo sua promessa de manter vendas diárias de dólares para apoiar a lira. O Brasil informou que fará leilões de contratos de swap cambial quatro dias por semana até o fim do ano. Espera-se que o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, anuncie hoje um "pacote de medidas" para estabilizar a economia.
Dos três, apenas o Brasil conseguiu segurar a desvalorização de sua moeda, com o real se valorizando 0,6% O dólar fechou a R$ 2,43, pouco abaixo de seu ponto mais alto em quatro anos. Na Indonésia, o valor do dólar disparou. O dólar fechou acima de 11.000 rúpias pela primeira vez em quatro anos, enquanto na Turquia, o dólar subiu 0,7%, atingindo o recorde de 1,9972 lira.
O rápido declínio dessas e outras moedas são sintomas de uma ampla debandada dos mercados emergentes que fez com que os preços de ações e títulos caíssem em todo o mundo emergente. Os investidores estão se desfazendo de operações que vinham dando impulso ao mercado desde a crise financeira, à medida que as economias desenvolvidas começam a se recuperar e muitos países em desenvolvimento perdem o fôlego. Espera-se que a mudança atinja um auge em setembro, quando o Fed poderia considerar a economia americana saudável o suficiente para começar a reduzir o programa de estímulo que inundou o sistema financeiro mundial de dinheiro por quatro anos.
As atas da última reunião de política monetária do Fed, divulgadas na quarta-feira, mudaram muito pouco as expectativas dos investidores. As ações de mercados emergentes novamente despencaram na jornada de ontem. O índice composto PSE das Filipinas caiu 6%, e a bolsa da Indonésia e da Turquia acumulam perdas na semana de 9% e 8%, respectivamente.
À proporção que o dinheiro volta às economias ricas, surgem dúvidas sobre como os países em desenvolvimento vão continuar a financiar seu crescimento econômico e a pagar suas dívidas. Uma moeda mais fraca pode ajudar nesse sentido, estimulando as exportações. Mas pode também provocar inflação, já consideradas altas no Brasil e na Índia.
Alguns países já queimaram suas reservas com pouco resultado. A Turquia gastou 15% das suas divisas este ano, enquanto as da Indonésia estão 24% abaixo de seu pico. As reservas nas 21 economias emergentes acompanhadas pelo Nomura diminuíram US$ 153 bilhões ante o seu pico nos primeiros meses do ano, um nível de gastos não visto desde 2008, afirmou o banco.
Os investidores dizem que os bancos centrais tiveram mais sucesso contendo oscilações bruscas de câmbio do que tentando criar uma certa banda cambial.
"Nem todos os bancos centrais estão ativamente tentando defender e fortalecer suas moedas", diz Yacov Arnopolin, gerente de portfólio de dívidas de mercados emergentes da Goldman Sachs GS -0.48% Asset Management, que administra US$ 849 bilhões. "Existem BCs que querem reduzir a volatilidade."
Alguns gerentes de fundos de investimento, entretanto, veem uma oportunidade de mergulhar de volta nos ativos dos mercados emergentes que foram vendidos em grande volume, numa aposta que os governos terão mais sucesso quando os mercados se acalmarem. Arnopolin comprou títulos de dívida em moedas locais depois de uma venda generalizada em maio e junho.
Binqi Li, gerente de portfólio do HSBC HSBA.LN +0.32% Global Asset Management, que tem US$ 413 bilhões sob gestão, comprou real neste trimestre e títulos da dívida pública brasileira. Ele diz que os juros altos dos títulos os tornam atraentes, e que o BC brasileiro tem reservas suficientes para amparar a moeda.
"O banco central ainda está do nosso lado. Você só precisa ter estômago", diz.
Ainda assim, investidores e analistas dizem que até o Fed agir — ou haja uma mudança no cenário ecônomico —, a trajetória da maioria das moedas emergentes ainda será de queda, não importam o que os BCs façam.
"Não creio que eles tenham poder de fogo para ter influência significativa no mercado", diz Yannick Naud, gerente de portfólio da Glendevon King Asset Management, que tem US$ 200 milhões investidos. "O tamanho do influxo aos mercados emergentes foi tão grande que, se os investidores reduzirem suas posições, só isso já será um volume enorme. A única coisa [que os BCs têm] a fazer é amenizar o processo."
Fonte: The Wall Street Journal
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