Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Empresas preferem aplicar a investir na produção

Empresas preferiram, no primeiro semestre, as aplicações financeiras, em detrimento da expansão da capacidade produtiva.

As cinco empresas de capital aberto com maior receita líquida - Petrobras, Ambev, Vale, Telefônica e Cemig- no primeiro semestre deste ano, deram prioridade aos investimentos em aplicações financeiras, em detrimento da expansão da capacidade produtiva.

A constatação, que contraria as expectativas do governo de alta do investimento do setor produtivo para impulsionar a recuperação da economia, faz parte de levantamento preparado pela agência de classificação de risco Austin Rating a pedido do Brasil Econômico. No estudo, foi considerado o conjunto dos balanços financeiros divulgados até o dia 15 deste mês.

Em média, o investimento dessas companhias no mercado financeiro, comparado ao período de janeiro a junho de 2012, cresceu 94,6%, enquanto o aporte nos ativos relacionados ao negócio fim de cada uma delas avançou em ritmo muito mais lento, 2,6%.

O exemplo mais gritante é o da empresa de telecomunicações Telefônica. Nesse caso, as aplicações saltaram 313,3%, de R$ 2,06 bilhões para R$ 8,5 bilhões. Na contramão, o investimento em imobilizado caiu 0,3%, passando de R$ 17,13 bilhões para R$ 17,08 bilhões.

A Telefônica informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que o grupo prevê investimento de R$ 24,3 bilhões de 2011 a 2014, "um montante expressivo, que demonstra o compromisso de longo prazo que a empresa mantém com o Brasil". Neste ano, serão R$ 6,2 bilhões, com destaque para a ampliação e modernização das redes e sistemas. Além disso, afirma que o nível de investimento operacional é um dos maiores do setor.

"Essas grandes empresas não abandonaram suas atividades. Mas, em um momento de desaceleração da economia e retração do consumo, estão preferindo direcionar os recursos ao mercado financeiro. O resultado é uma recomposição dos investimentos, com as aplicações ganhando espaço antes ocupado pelos imobilizados", afirma o economia Alex Agostini, responsável pelo levantamento da Austin Rating.

Para a média das cinco companhias, a participação das aplicações financeiras nos investimentos passou de 12,4% no primeiro semestre do ano passado para 20,7% em igual período de 2013.

O aporte mais inibido dessas empresas em novos equipamentos ou na melhoria da capacidade já instalada tem repercussão direta sobre o desempenho dos fabricantes de máquinas e equipamentos, ressalta o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza.

"Embora haja um investimento, há uma expectativa maior no lado financeiro. Mas é preciso ressaltar que, no ano passado, o setor financeiro teve problemas. O que está ocorrendo, neste momento, pode ser um efeito de retomada às bolsas por essas empresas", destacou.

Em sua opinião, a amostra das cinco maiores empresas é bastante significativa por causa da dimensão que possuem e da repercussão de suas decisões de investimento para a economia como um todo. Além disso, a amostra inclui distintos segmentos produtivos, dois deles relacionados a serviços de infraestrutura concedidos pela União, cujos desempenhos têm impacto direto na competitividade da indústria e na qualidade de vida da população - caso da telefonia e da energia elétrica distribuída pela Cemig.

Apesar de enxergar o deslocamento do capital para o mercado financeiro, o economista-chefe do Iedi aposta em uma mudança na estrutura do investimento das empresas no segundo semestre deste ano. As perspectivas otimistas de Souza são ancoradas na divulgação recente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de que o financiamento a bens de capital está em trajetória ascendente. Além disso, aponta para o esforço do governo em resolver os gargalos que emperram a continuidade do programa de concessões de infraestrutura - rodovias, ferrovias, aeroportos, energia elétrica e petróleo e gás.

Para Marcelo Torto, analista da Ativa Corretora, no entanto, o cenário para o próximo semestre é também de retração do investimento, seguindo o já ocorrido no período de janeiro a junho. "Diante de um ambiente de queda da confiança e ritmo lento da retomada, o padrão para todo o ano de 2013 ou para o intervalo de tempo em que perdurar a desaceleração da economia é de menos investimento em ativos", argumenta.

A falta de perspectiva é o elemento comum que explica a preferência dada às aplicações financeiras pelas cinco grandes empresas. Em geral, diz ele, as empresas estão tentando se desfazer de ativos considerados não estratégicos. Fora isso, "a alta dos juros tende a reduzir a atratividade dos projetos". Porém, ele aponta também motivos particulares para as decisões de investimento.

No caso da Vale, a opção foi por focar no negócio de minério de ferro. No segundo trimestre deste ano, o lucro líquido da mineradora despencou 84,2% por conta, sobretudo, da piora do mercado internacional - principalmente do comércio com a China e de perdas contábeis decorrentes do câmbio.

A Petrobras recorreu ao mercado financeiro neste ano de olho nos investimentos em projetos prioritários que deverá desenvolver daqui para frente, por causa da necessidade de melhorar os resultados da atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural. Graça Foster, presidente da companhia, informou em palestra realizada no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), no dia 7 de junho, que a petroleira captou US$ 19,2 bilhões neste ano.

Não há, segundo Graça, perspectiva de recorrer ao mercado financeiro até dezembro. Em contrapartida, o processo de venda de ativos tidos pela empresa como de menor importância para o seu negócio permanece em andamento. A companhia anunciou, na última sexta-feira, a transferência de ativos no valor de US$ 2,1 bilhões.

No caso da Ambev, segundo Torto, há uma concentração na melhoria da eficiência produtiva. Porém, o mercado de cerveja se contraiu no primeiro semestre deste ano, o que pode explicar a falta de estímulo para a ampliação da capacidade de suas fábricas.

Já a distribuidora de energia de Minas Gerais, a Cemig, teve o resultado financeiro influenciado por mudanças contábeis exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A empresa, ao contrário do que fazia no ano passado, passou a incluir os ativos referentes às suas participações na distribuidora fluminense Light e na transmissora Taesa no item Investimentos, e não mais no Imobilizado, o que explicaria a retração dos aportes em ativos de produção. O fato não explica, entretanto, o crescimento das aplicações financeiras, de 34,2%.

Para o economista-chefe da Órama, Álvaro Bandeira, "a Europa em recessão e a situação interna de mudanças em marcos regulatórios explicam boa parte da parada nos investimentos, da contenção de custos e da redução de exposição ao risco pelas empresas"

Fonte: Brasil Econômico

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