Operação conjunta para tentar acalmar os mercados não surte efeito. Banco Central vende US$ 4 bilhões, e órgão da Fazenda faz recompra extraordinária de títulos públicos. Medo de descontrole da inflação aumenta as apostas em juros maiores.
O governo sentiu ontem o baque da desconfiança que está minando a economia do país. Com os investidores à beira de um ataque de nervos, o dólar rompeu de vez o teto psicológico de R$ 2,40 — bateu em R$ 2,42 — e as taxas de juros dos títulos públicos dispararam. Para tentar conter o estrago, o Banco Central e o Tesouro Nacional foram obrigados a fazer operações coordenadas, mas fracassaram. Mesmo com a venda de US$ 4 bilhões pelo BC, por meio de três leilões (nesta terça-feira (20/8), haverá uma oferta de linha de crédito), a moeda norte-americana cravou o sexto dia seguido de valorização, cotada a R$ 2,416, com elevação de 0,83%. No ano, a alta chega a 18,5%.
A forte arrancada do dólar decorreu da falta de clareza do governo em relação à política econômica — o Ministério da Fazenda e o BC andam se atropelando — e das perspectivas ruins para o país. Agora, os investidores se perguntam qual será o impacto da moeda norte-americana sobre a inflação. No entender deles, com o custo de vida retomando o fôlego, o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, poderá pesar a mão na taxa básica de juros (Selic) e, em vez do aumento consensual de 0,5 ponto percentual, o salto poderá ser de 0,75 ponto, para 9,25% ao ano.
Diante desse quadro, os juros nos mercados futuros tiveram forte alta. A taxa dos contratos com vencimento em janeiro de 2015 atingiu 10,66% ao ano, encostando nos 10,75% registrados pela Selic em janeiro de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff tomou posse. Esse avanço fez com que os investidores puxassem os custos dos títulos públicos para cima, a ponto de os negócios serem interrompidos por falta de parâmetros. O Tesouro teve que fazer leilões extraordinários de recompra de papéis com nove vencimentos — só teve sucesso em três —, como forma de minimizar os prejuízos dos investidores. Esses leilões só ocorrem em momentos de muita incerteza, quando a desconfiança atinge níveis insuportáveis. O Tesouro já avisou que fará operações semelhantes hoje.
Fonte: Correio Braziliense
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