A bolsa de valores americana sofreu ontem sua maior queda desde junho, já que aumentaram os temores de que o banco central dos Estados Unidos vai reduzir seu programa de estímulo à economia nos próximos meses, eliminando um dos principais motores da alta do mercado de ações este ano.
Média Industrial Dow Jones caiu 225,47 pontos, ou 1,5%, para 15.112,19. Foi a segunda queda de três dígitos consecutiva, depois de um recuo de 113 pontos na quarta-feira. Após ter atingido 19,5% em 2 de agosto, a alta acumulada do índice este ano caiu agora para 15,3%.
A grande notícia que derrubou as ações foi aparentemente um dado positivo: o número de pedidos de seguro-desemprego nos EUA caiu para um total dessazonalizado de 320.000, o menor nível desde outubro de 2007, o mais recente de uma série de sinais de que o mercado de trabalho está melhorando.
Mas isso reforçou os receios de que o Fed decida, já na reunião de política monetária de setembro, que a economia está forte o suficiente para começar a reduzir seu programa de estímulo, que vem na forma de US$ 85 bilhões em compras mensais de títulos de dívidas.
"As pessoas estão dizendo que essa é a expectativa de consenso" nas maiores firmas financeiras de Wall Street, disse Henry Herrman, diretor-presidente da empresa de gestão de ativos Waddell & Reed Financial Inc., WDR -0.12% que é sediada no Estado do Kansas e tem uma carteira de mais de US$ 90 bilhões.
O problema, acrescentou, é que outros dados econômicos recentes e resultados das empresas indicaram que a recuperação econômica continua frágil. Alguns investidores temem que os cortes no estímulo poderia acontecer logo e que as empresas teriam problemas para continuar gerando lucros.
Os títulos de dívida também reagiram mal às notícias. Os preços caíram, alçando os juros das notas de dez anos do Tesouro americano, referência para o mercado, a 2,755% ao ano, seu maior nível desde 29 de julho de 2011.
Os investidores temem a redução nos estímulos por duas razões. Primeiro, as compras mensais mantêm o preço dos títulos altos e os juros baixos. Isso estimula a economia ao segurar os juros das hipotecas e outros custos de financiamento, o que, por sua vez, impulsiona o lucro das empresas.
Agora, os rendimentos de títulos, taxas de hipoteca e outras taxas de juros já estão subindo devido a expectativas de que o Fed vai reduzir o seu programa de estímulo, o que torna o crescimento econômico mais complicado.
Em segundo lugar, uma parte do dinheiro do Fed acaba chegando ao mercado acionário, aumentando a demanda por ações e elevando seus preços.
Com as bolsas já tendo subido tanto este ano, e com tanta gente preocupada com o que o Fed decidirá fazer na reunião em setembro, alguns investidores de curto prazo optaram por embolsar parte do rendimento.
"Neste momento, os investidores estão acostumados a ter o Fed apoiando os preços dos títulos de dívida. Por isso, no curto prazo, eles estão focados no lado negativo de um fim" desse apoio, diz Peter Jankovskis, um dos diretores de investimentos da americana OakBrook Investments, que administra cerca de US$ 3,5 bilhões.
Entre as outras notícias que provocaram um aumento na ansiedade do mercado está um declínio na produção industrial de julho e notícias decepcionantes de duas empresas que compõem a Média Dow Jones, o Wal-Mart Stores WMT -0.42% e a Cisco Systems.
O Wal-Mart anunciou que suas vendas diminuíram no último trimestre, enquanto que a Cisco informou que vai cortar 4.000 postos de trabalho.
As bolsas dos principais mercados fora dos EUA também registraram queda, incluindo Japão, China, Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha e França. O dólar caiu em relação ao euro e ao iene.
James Bullard, presidente da regional do Fed de St. Louis, disse na quarta-feira que é possível que a economia americana não esteja forte o suficiente para que o Fed decida cortar o estímulo já em sua reunião de setembro.
Alguns investidores interpretaram esses comentários, somados aos dados da produção industrial e a divulgação de resultados de empresas, como um sinal de que o Fed pode optar por adiar quaisquer cortes de estímulo. Mas outros temem que o Fed possa decidir agir de qualquer forma, correndo o risco de que a economia sofra um revés.
Em geral, os relatórios econômicos ontem sugeriram que o crescimento dos EUA continua numa trajetória gradual de recuperação. Um relatório do Departamento de Trabalho mostrou que os preços ao consumidor subiram em uma ampla gama de bens e serviços, em julho, um indicador que poderia amenizar os temores dentro do Fed de que a inflação, que já está em níveis considerados baixos, esteja recuando ainda mais. O índice de preços ao consumidor subiu 0,2% em relação ao mês anterior e subiu 2% ante um ano antes.
Apesar de uma perspectiva favorável, a economia continua crescendo a um ritmo modesto. Empregadores vêm fazendo contratações de forma lenta e uma série de outras medidas sugere que a expansão vai continuar a um ritmo relativamente fraco. De fato, um indicador de atividade manufatureira divulgado pelo Fed ontem caiu em julho — um sinal de como o setor vem batalhando em meio a um crescimento lento da economia global.
Jankovskis, do OakBrook, é mais otimista. Ele diz que veria uma redução no programa de estímulo como um sinal de que a economia está melhorando o suficiente para crescer com menos apoio do Fed.
Mas, pelo menos ontem, o mercado chegou à conclusão oposta. Com índices de ações em níveis próximos a recordes históricos e títulos de dívida também sendo negociados a preços excepcionalmente elevados, os investidores optaram por embolsar parte do lucro e esperar que o cenário econômico e as intenções do Fed se tornem mais claros.
Fonte: The Wall Street Journal
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