Pouco antes do anúncio da alta de 1,5% do PIB no Brasil, outro emergente que integra o grupo dos BRICS, a Índia, também divulgou o seu índice de crescimento no segundo trimestre. Se no Brasil a expansão da economia surpreendeu e ficou acima do esperado, o resultado indiano - apesar de mais expressivo - causou decepção.
A correspondente Nitin Srivastava, da BBC Hindi em Déli, analisa abaixo os desafios da economia na Índia.
O anúncio do crescimento de 4,4% no segundo trimestre decepcionou muitos indianos que esperavam que uma recuperação estava próxima. Mas por enquanto isso parece muito distante. O ritmo de crescimento indiano está em seu pior nível desde 2009 e os últimos dados do PIB (Produto Interno Bruto) confirmaram a apreensão de que a economia do país está sofrendo uma desaceleração ainda maior. As razões para isso são poucas e simples.
Primeiro, a Índia tem lutado com um déficit na conta corrente. Em termos simples, isso significa que a Índia está importando mais do que exportando. Quanto mais há esse tipo de desequilíbrio, o déficit ou a diferença aumentam.
A resposta para a questão de por que a Índia está dando ênfase à importação é muito simples e histórica.
Ouro e derivados do petróleo representam a maior fatia das importações da Índia. Investimentos em ouro são um conceito tradicional na Índia. Além do fetiche por jóias, muitos indianos têm carregado por muito tempo a noção de que o outro é uma commodity que pode ser guardada em casa.
Mas eles esquecem que investir em ouro não adiciona nenhum valor à economia. Apesar de repetidos avisos do governo no passado recente, a demanda por ouro tem aumentado.
Além do ouro, o petróleo cru é responsável pela outra grande fatia das importações. Mais de 70% dos produtos de petróleo consumidos na Índia são importados, e as petroleiras indianas têm que fazer esses pagamentos em dólares.
Essa é precisamente a razão do crescimento constante do custo do combustível, que lidera a alta dos preços das commodities básicas na Índia.
Com a crise na Síria, o preço internacional do petróleo cru deve aumentar e agravar as dificuldades das petroleiras indianas para fazer pagamentos em dólares.
Produtos básicos
Em segundo lugar, a Índia tem testemunhado um aumento nos preços das commodities básicas, como vegetais, cereais e bens de consumo.
Considere a cebola, por exemplo. Os indianos amam seu curry desde os tempos antigos. E qualquer curry indiano não está completo sem cebolas ou tomates. Apesar da Índia ter tido boas monções neste ano, o preço da cebola subiu mais de 300% no varejo.
Olhando para a desagradável história da cebola – que derrubou dois governos que falharam em reduzir seu preço – esses não são bons sinais para a saúde da economia indiana.
Até recentemente a Índia era considerada uma das economias com crescimento mais rápido do planeta. Entretanto, enquanto fatores globais certamente desempenharam um papel importante, muitos na Índia culpam o governo por não introduzir reformas corajosas para atrair investimentos.
Com eleições programadas para o próximo ano, há poucas chances de uma mudança de planos. O governo anunciou recentemente mais de US$ 20 bilhões em investimentos para garantir alimentos mais baratos para os pobres.
Porém, o que o governo ainda precisa mostrar é quanto destinará para melhorar a infraestrutura e reconquistar a confiança do indiano médio.
Fonte: BBC Brasil
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