Os principais bancos centrais dos mercados emergentes estão elevando as taxas de juros num esforço para conter o êxodo de dinheiro, uma medida que ameaça intensificar a desaceleração econômica dos países em desenvolvimento.
A Indonésia elevou ontem sua taxa de juros de referência em 0,5 ponto percentual, um dia depois do aumento de também 0,5 ponto percentual promovido pelo Banco Central do Brasil, que elevou a taxa Selic para 9% ao ano. O BC sinalizou que outros aumentos virão.
Os títulos de dívida, moedas e mercados acionários de muitos países em desenvolvimento, incluindo Índia, Turquia, África do Sul, Brasil e Indonésia, foram atingidos nas últimas semanas à medida que os investidores se preparam para o momento em que o Federal Reserve, o banco central americano, comece a reduzir seu programa mensal de US$ 85 bilhões de compra de títulos de dívida.
A política do Fed de dinheiro ultrafácil ao longo dos cinco últimos anos enviou uma enxurrada de dinheiro para os países em desenvolvimento, já que os investidores partiram em busca de retornos maiores, valorizando moedas e bolsas desses mercados emergentes. Agora, o cenário se reverteu.
Os investidores estão particularmente preocupados com relação aos países mais dependentes de financiamento estrangeiro barato. "Quanto mais dinheiro sai, piores são as perspectivas desses lugares e mais as pessoas passam a temer que não serão capazes de sacar seu capital", diz Adam Posen, presidente do Instituto Peterson para a Economia Internacional, um centro de estudos de Washington.
Elevar a taxa de juros pode ajudar a brecar a fuga de capitais ao aumentar os retornos dos ativos do país para os investidores. Às vezes, esses aumentos também são indicados para combater o disparo da inflação gerado pela desvalorização da moeda, que eleva os preços dos bens importados.
Mas taxas de juros mais altas podem frear o crescimento. Na Indonésia, por ora, não se espera que o efeito seja tão severo. A Capital Economics, firma de pesquisa econômica, cortou sua estimativa de expansão para o país este ano de 6% para 5,5%.
Mas o Brasil e muitos outros países em desenvolvimento já estão lutando para evitar que o avanço de suas economias seja interrompido em consequência da desaceleração na China, que pode afetar o apetite do gigante asiático pelas matérias-primas do resto do mundo.
No ano passado, o Banco Central do Brasil derrubou a taxa de juros para níveis historicamente baixos, em um esforço para reavivar o crescimento. Mas a inflação tem sido a vilã de uma economia que já teve de lidar com aumentos de preços de quatro dígitos nos anos 90. Dessa vez, o banco central está optando por não correr nenhum risco. O aumento da Selic na quarta-feira foi o quarto consecutivo.
"É verdade que você precisa de aumentos de juros para combater a inflação", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do banco Itaú. "Mas juros altos também tornam os investimentos das empresas mais arriscados. Até agora, caminhamos rumo a um crescimento de não mais de 2% este ano."
Outros mercados emergentes importantes também estão sendo pressionados a aumentar suas próprias taxas de juros, mesmo em momentos em que o crescimento de suas economias cambaleia.
A rúpia indiana perdeu cerca de 20% do seu valor em relação ao dólar desde o início de maio. A reação do banco central indiano foi suspender as políticas monetárias de dinheiro fácil, mantendo estáveis em junho e julho as taxas de juros de referência. Quando a rúpia continuou a cair, o BC indiano limitou a quantidade de dinheiro que os bancos poderiam tomar emprestado da instituição, elevando os custos de empréstimos acima desse limite.
Os investidores viram a medida como um aumento efetivo dos juros, num momento em que a economia indiana estava crescendo em seu ritmo mais lento dos últimos dez anos. Os títulos e as ações caíram fortemente após as medidas do banco central indiano. Os rendimentos dos títulos de dívida de curto e longo prazo denominados em rúpia subiram bruscamente.
Alguns analistas dizem que o novo presidente do banco central indiano não tem alternativa, a não ser elevar fortemente as taxas de juros, assim como Paul Volcker fez nos anos 80, quando era presidente do Fed.
A África do Sul está em um dilema semelhante: as autoridades querem interromper a rápida desvalorização de sua moeda, mas relutam em desacelerar o já fraco crescimento. Desde julho de 2012, o rand, a moeda do país, perdeu cerca de 25% do seu valor em relação ao dólar. Isso tem ajudado a aumentar a inflação, que alcançou uma taxa anual de 6,3% em julho. Mas é provável que o BC sul-africano relute em elevar os juros na reunião do próximo mês, em meio a uma economia que batalha para cumprir a estimativa de crescimento de 2% este ano, dizem analistas.
Muitos investidores temem uma repetição da crise asiática de 1997 e 1998, ou o desmoronamento das moedas dos mercados emergentes que ocorreu dez anos depois. Mas há razões para crer que não será assim tão ruim.
A maioria das moedas dos mercados emergentes hoje flutua livremente, então as autoridades dos bancos centrais não precisam defender um câmbio fixo como fizeram durante a crise asiática. O nível da dívida pública de países como Indonésia, Índia e Brasil não está particularmente alto e são majoritariamente em moeda local.
"Embora a fuga de capitais esteja sendo acentuada, não vemos os dois últimos meses como o início de uma crise mais ampla [nos países emergentes], escreveu o Bank of America BAC +0.35% Merrill Lynch em um relatório a clientes.
Fonte: The Wall Street Journal
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