O que as empresas brasileiras estão fazendo e o que deveriam fazer, em cada região, para melhorar a competitividade do setor.
As reclamações dos industriais com o chamado Custo Brasil são antigas e bem conhecidas. No entanto, como notou o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mansueto Almeida, em entrevista ao Brasil Econômico na última segunda-feira, há outra agenda, a da competitividade interna das empresas, que não depende de governos. E que deveria estar centrada na inovação tecnológica e na gestão.
Ao federações estaduais da indústria sobre os principais déficits das companhias, gestão, treinamento, inovação e formalização foram palavras muito repetidas. Porém, em diversos casos, os investimentos das empresas não estão alinhados com as necessidades do mercado.
Com o crescimento rápido das últimas décadas, é possível notar a dissociação de dois tipos de indústria no país - uma mais moderna, outra nem tanto. As mais novas plantas estão cada vez mais distantes dos principais centros consumidores. Valem-se de benefícios fiscais e de mão de obra mais barata para aumentar a competitividade.
Já a antiga, composta, muitas vezes por empresas centenárias e familiares, ainda patina em questões relevantes para quem quer sobreviver em um ambiente altamente competitivo: tecnologia e gestão, como aponta a receita de Almeida.
A inovação, um mantra entre as federações industriais, ainda é algo estranho entre as empresas, principalmente para as que não estão nas regiões Sul e Sudeste do país. O principal foco ainda são os investimentos em gerenciamento de pessoal, além da aquisição de máquinas e equipamentos.
Também é possível enxergar diferenças nas demandas, a depender da localização geográfica das empresas. Enquanto os déficits mais nítidos nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais estão relacionadas à inovação, em Goiás o problema é a falta de formalização. Apenas o treinamento de pessoal está se consolidando atualmente no estado.
Já em Pernambuco, o atraso é tecnológico. Enquanto Fiat, Petrobras e o porto de Suape trazem plantas "dignas de um filme de ficção científica", como diz o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Singer, cerca de 95% das companhias precisam investir na renovação do parque industrial.
Diferentemente do que pregam as federações, a saída para aumentar a competitividade, na visão das empresas, está em reduzir o custo de produção. Apenas a federação de São Pauo, a Fiesp, partilha dessa visão. Todas as demais entidades ouvidas entendem que o essencial é a diferenciação.
Filipe Cassapo, gerente de inovação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) do Paraná, trabalha para aumentar a geração de conhecimento nas indústrias do estado. Ele conta que apenas 25% dos cientistas brasileiros trabalham no setor produtivo, enquanto, em países como a Coreia do Sul, o índice é de 75%. "A questão não é quem produz mais barato, mas sim quem tem o melhor produto por preço acessível", opina Cassapo.
Mesmo em São Paulo, a inovação não é uma unanimidade. "Antes se falava em reengenharia, sustentabilidade. Hoje, inovação é a palavra mágica. Isso nem sempre traz bons resultados", avalia José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de competitividade da Fiesp.
Em Minas Gerais, Lincoln Fernandes, presidente do conselho de Política Econômica da Fiemg, aponta a escala de produção como a grande dificuldade. "A inovação não dá respostas imediatas. É um processo de longo prazo até que aquele novo produto ganhe escala de produção", argumenta.
Já em Goiás, Welington Vieira, coordenador técnico da Fieg, ressalta que a falta de treinamento deixou empresas desatualizadas. "O Senai está se consolidando só agora no interior do estado com parcerias com as empresas", afirma ele.
São Paulo
No que investem:
■Produtividade
■Melhoria de Processos
■Modernização tecnológica
O que precisam:
■Inovação
■Produtividade
Goiás
No que investem:
■Treinamento
■Produtividade
■Logística
O que precisam:
■Gestão
■Treinamento
■Formalização
Minas Gerais
No que investem:
■Escala
■Gestão
■Inovação
O que precisam:
■Inovação
■Gestão
Paraná
No que investem:
■Produtividade
■Melhoria de processos
■Modernização tecnológica
O que precisam:
■Inovação
■Produtividade
Pernambuco
No que investem:
■Equipamentos
■Gestão
■Marketing
O que precisam:
■Tecnologia
■Gestão
Grandes empresas compensam o desempenho ruim da economia com corte de custos
Grandes companhias brasileiras conseguiram resultados acima do esperado pelo mercado no segundo trimestre, mesmo diante de um cenário mais desafiador para a economia. Mas o desempenho, calcado em ganhos de eficiência, ao invés de indicar uma perspectiva de melhora econômica, mostra que o setor privado do país está se preparando para tempos difíceis à frente.
Empresas ligadas a diversos ramos industriais responderam à desaceleração da economia dos últimos meses com corte de custos e redução de investimentos, e têm se mostrado reticentes sobre o desempenho da futuro da economia.
Projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do país este ano continuam caindo e, nesta semana, os economistas consultados pelo Banco Central estimaram crescimento de 2,21% em 2013, ante estimativas acima de 3% no início do ano. A perspectiva para 2014 também foi reduzida, para 2,5%. "Se consultar qualquer setor brasileiro, vão dizer que há uma reacomodação dos negócios", diz o superintendente da CGD Securities, Raffi Dokuzian.
"O que mais me preocupa é o mercado interno. O endividamento das famílias está muito grande, a margem das empresas tem caído muito", avalia.
No setor de aço, a Companhia Siderúrgica Nacional teve resultado melhor que o esperado no segundo trimestre, mas reduziu em R$ 600 milhões a estimativa de investimentos em 2013, para R$ 3 bilhões, mesmo nível de 2012.
Entre as construtoras, um setor incentivado por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, o cenário ainda é de tentar reverter grandes prejuízos incorridos com a construção desenfreada de empreendimentos voltados à população de renda mais baixa nos últimos dois anos. Gafisa e PDG, por exemplo, fecharam o segundo trimestre com prejuízos, mas informaram cancelamentos de projetos que devem ajudar a reduzir custos de construção.
Já a maior fabricante brasileira de bens de consumo não duráveis, a Hypermarcas, afirmou no início do mês que viu uma melhora na demanda dos consumidores em julho, mas isso ocorreu após as grandes manifestações nas principais cidades do país em junho. A companhia teve lucro de R$ 19 milhões no segundo trimestre, acima do esperado pelo mercado, depois de uma forte revisão de seus negócios no ano passado.
No setor aéreo, a Gol também teve resultado no segundo trimestre melhor do que previa o mercado, reduzindo o prejuízo em quase 40%, valendo-se de menor oferta de voos e aumento dos preços de tarifas.
Para a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, as empresas precisarão continuar focando em melhoria de processos e redução de custos, pois a economia não deverá servir de apoio pelo menos até 2015.
"A economia não vai ajudar muito no segundo semestre, nem em 2014", afirmou ela. "A desconfiança é mortal para o investimento e a percepção é que vai ter de haver um ajuste na economia em 2015."
Fonte: Brasil Econômico
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