Dirigentes de bancos centrais de todo o mundo estão se preparando para mais turbulência financeira à medida que o Federal Reserve se prepara para encerrar as suas políticas de relaxamento monetário.
Os mercados globais vêm cambaleando desde maio, quando o banco central americano começou a dar sinais de que em breve pode começar a reduzir seu programa de US$ 85 bilhões por mês em compras de títulos de dívida. Os juros das hipotecas subiram nos Estados Unidos e as moedas e ações de muitas economias em desenvolvimento despencaram.
Essa volatilidade é "um forte lembrete" de que os efeitos da retração do Fed "podem não ser suaves", disse Charles Bean, diretor de política monetária do banco central britânico, em um discurso na conferência de pesquisa organizada no fim de semana pela regional do Fed de Kansas City.
O título oficial do encontro, "Dimensões globais de políticas monetárias não convencionais", se tornou real demais para pelo menos um convidado. O presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, cancelou seus planos de participar da conferência na última hora, em meio à desvalorização da moeda brasileira. O banco central brasileiro anunciou na sexta-feira um progama de US$ 60 bilhões visando interromper a queda do real.
No lugar de Tombini, o banco central enviou Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos, que no sábado assegurou aos presentes que o Brasil tem condições de controlar a situação. "Nós nos preparamos" para os efeitos das políticas de relaxamento monetário empregadas pelo Fed e outras economias avançadas para estimular um crescimento mais forte, disse. "Acredito que também seremos capazes agora de mitigar os riscos ligados à reversão dessas medidas."
Os investidores vinham injetando dinheiro em mercados emergentes nos últimos anos, enquanto a recuperação dos EUA era lenta e as taxas de juros do país estavam em níveis historicamente baixos. Agora, eles estão retirando seus investimentos diante da perspectiva de alta dos juros e um fortalecimento da economia americana.
A incerteza sobre quando e como o Fed vai começar a reduzir as suas compras de títulos de dívida tem gerado mais volatilidade no mercado. As autoridades do Fed estão estudando a possibilidade de agir em sua próxima reunião de política monetária, nos dias 17 e18 de setembro.
As compras de títulos têm a meta de estimular o crescimento econômico dos EUA ao baixar as taxas de juro de longo prazo, o que pode levar a mais consumo, contratações e investimentos.
Os dados econômicos mais recentes mostram ambiguidade, deixando as autoridades divididas sobre o que fazer. Muitos acham que a economia está melhorando o suficiente para que possam começar a reduzir lentamente as compras já no próximo mês. Mas como o primeiro passo pode ter um grande impacto no mercado, alguns creem que é preciso cautela, o que pode significar esperar um pouco mais.
Com a diferença de opiniões, a liderança do presidente do Fed, Ben Bernanke, que não participou da conferência, vai importar muito, mas publicamente ele não tem dado indício de como agirá.
Dennis Lockhart, presidente da regional do Fed de Atlanta, disse ao The Wall Street Journal: "Eu não estou fazendo um endosso retumbante, mas certamente me sentiria confortável com um primeiro passo" no próximo mês, que pode ser bastante modesto. Mas ele alertou que um início em outubro também é possível.
O presidente da regional do Fed em St. Louis, James Bullard, disse ao WSJ que gostaria de ver "mais dados" antes de decidir o que o Fed deve fazer com o programa antes do encontro de setembro. "Eu tenho dito que não acho que temos que ter pressa [para começar a redução da compra de títulos] devido à configuração de dados que temos", disse.
Vários acadêmcios e formuladores de políticas presentes na conferência disseram que economias menores e de mercados emergentes devem agir para se proteger dos efeitos dos planos do Fed. As recomendações incluiam permitir que o câmbio se ajustasse livremente e fortalecer seus sistemas financeiros por meio de ferramentas regulatórias, como exigir que instituições financeiras reforcem suas reservas de capital e restrinjam o crescimento excessivo do crédito.
O presidente do banco central mexicano, Agustín Carstens, disse que seu país tinha permitido o ajuste da moeda e a acumulação de reservas para lidar com a grande entrada de capital, "mas chega um ponto que o que é demais é demais". Ele disse ao WSJ que o México tem se saído melhor do que outras economias recentemente devido a fundamentos fortes, como o baixo endividamento do governo e um sistema financeiro saudável.
Fonte: The Wall Street Journal
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