Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Juros altos são problema para governos e empresas da Ásia

Os governos e as empresas da Ásia estão vivendo um período de aperto de crédito que pode prejudicar as perspectivas de crescimento da região.

Desde a crise financeira, as baixas taxas de juros nos mercados internacionais vêm sendo um importante motor de crescimento para as economias em desenvolvimento da Ásia. Mas agora, a alta dos juros nos Estados Unidos — alimentada pela expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, vai reduzir seu enorme programa de compra de títulos de dívida no fim do ano — está tornando mais difícil para os asiáticos captar dinheiro barato.

Países e empresas em toda a região têm sido obrigados a pagar juros mais altos para se financiarem, ou cancelar emissões de dívida, já que investidores retiraram cerca de US$ 6 bilhões em dívida da região nos meses de junho e julho, segundo a provedora de dados EPFR Global.
É verdade que os juros caíram nas últimas semanas e ainda estão abaixo dos níveis de antes da crise financeira. Mas o custo de captação na Ásia parece ter aumentado diante dos sinais de crescimento nos EUA e em outras economias desenvolvidas.

Os custos mais altos poderiam comprometer o crescimento numa região onde as economias de muitos países já estão desacelerando após anos de expansão movida a dívida.

A Indonésia, que cresceu ancorada na demanda da China por suas commodities, foi um dos países atingidos. Seu crescimento diminuiu para uma taxa anualizada de 5,9% no segundo trimestre, a menor desde 2010, à medida que a economia da China perdeu fôlego.

O déficit em conta corrente da Indonésia aumentou com a queda nas suas exportações, desvalorizando a sua moeda, a rupia, e forçando o governo a aumentar os juros para combater a inflação. Os investidores estão exigindo uma compensação muito mais alta para o risco do país, empurrando para perto de 8% ao ano os juros dos títulos soberanos com vencimento em dez anos, um patamar só atingido mais de dois anos atrás. No início do ano, a taxa estava só em 5% ao ano.

O CIMB Niaga, um banco privado indonésio, suspendeu recentemente seus planos de emitir US$ 240 milhões em títulos de dívida denominados na moeda local. Já a estatal de energia elétrica PT Perusahaan Listrik Negara afirma que agora está tentando levantar só metade dos US$ 240 milhões de uma emissão de dívida que planejava fazer.

"A Indonésia foi a mais prejudicada no processo. Eles sofreram o golpe duplo dos juros que subiram nos EUA e do aumento nos spreads", disse Jim Veneau, diretor de investimentos de renda fixa para a Ásia da HSBC HSBA.LN -0.27% Global Asset Management, divisão do banco HSBC que administra US$ 413 bilhões em ativos. "Eles não têm sido resistentes e isso tem um pouco a ver com a mudança da percepção dos investidores sobre o ambiente macroeconômico."

Na Índia, por sua vez, os investidores foram tolhidos por um crescente déficit em conta corrente, preocupações quanto à dívida do governo e uma moeda em queda livre. A estatal do petróleo Indian Oil Corp. 530965.BY -2.05% pagou juros de 5,75% ao ano numa emissão de US$ 500 milhões em títulos de dívida de dez anos que realizou no fim de julho — taxa muito maior que os 3,75% que uma petrolífera com classificação de crédito semelhante pagou num emissão comparável, em abril.

Dois bancos indianos, o Syndicate Bank e o Canara Bank, 532483.BY -9.96% cancelaram recentemente seus planos de emitir dívida devido aos altos custos de financiamento, disseram pessoas a par do assunto.

Já o governo da Malásia tomou volumosos empréstimos para financiar projetos de infraestrutura à proporção que as exportações caíram. Receios de que a conta corrente do país pode em breve se tornar negativa pela primeira vez desde o fim dos anos 90, aliados à crescente dívida pública, estão afligindo os investidores.

A agência Fitch Ratings alertou no mês passado que a classificação A– da dívida soberana da Malásia poderia ser rebaixada. A dívida pública está em 53% do produto interno bruto, um dos níveis mais altos da região (ainda que relativamente baixo em relação aos países da Europa).

Cerca de metade dos títulos de dívida em moeda local do governo está nas mãos de investidores estrangeiros, o que contribui para a aflição do mercado. Na semana passada, os juros dos títulos de dez anos da Malásia subiram para 4,06% ao ano, a maior taxa em dois anos e meio.

"Se as finanças públicas não forem consolidadas, então a Malásia pode começar a flertar com déficits crônicos em conta corrente", disse Andrew Colquhoun, responsável pela classificação de dívida soberana da Fitch na Ásia, "e isso pode afetar a atitude dos investidores".

Na China, onde um volume de empréstimos cada vez maior de companhias estatais e governos locais aumentou o nível de endividamento, o aperto de crédito também está encarecendo a captação. Os juros de títulos de dívida corporativos de três anos e classificação AAA subiram para 4,9% ao ano no fim de julho, ante 4,4% em abril, segundo dados da câmara de compensação Chinabond.

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É verdade que os juros podem acabar caindo, especialmente se as recuperações dos EUA e da Europa se revelarem fracas e os investidores voltarem a ver a Ásia como locomotiva do crescimento mundial. A região, de fato, continua sendo uma grande fonte de expansão. O governo da China espera que a economia cresça cerca de 7,5% este ano. Embora este seja o ritmo mais lento desde 1990, ainda assim supera em muito os 2% de crescimento da economia americana atualmente. É improvável que as saídas de capital provoquem uma crise de dívida como fizeram em 1997 e 1998, durante a crise asiática, isso porque os governos da região não estão tão expostos a dívidas em moedas estrangeiras como naquela época.




Fonte: The Wall Street Journal

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