Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Crédito fácil seca e afeta economia da China

Inadimplentes, comerciantes fecham as portas e fogem para evitar a cobrança

SHENMU - Enquanto a economia chinesa se expandia, poucas cidades subiram mais rápido ou mais alto do que Shenmu, uma comunidade de quase 500 mil habitantes no noroeste da China.
As lojas de roupas de alto luxo no centro dessa cidade registravam vendas diárias de até US$ 500 mil. As mesas nos melhores restaurantes tinham de ser reservadas com semanas de antecedência. O Clube Jardim da Fortuna para a elite empresarial da cidade ganhou manchetes ao pagar US$ 1 milhão por uma cama de mogno king size para ser usada por membros e suas acompanhantes.
Mas uma dolorosa crise de crédito está se espalhando por Shenmu e cidades próximas acarretando o fechamento de milhares de empresas, a retomada de frotas de veículos BMWs e Audis, que haviam sido financiadas, e a irrupção de inúmeros protestos de rua.

Agora, as principais fornecedoras de artigos da moda ocidentais estão desertas, as vendas mensais em restaurantes chegaram a cair 97% e a entrada de mármore do Clube Jardim da Fortuna está fechada. Todas revendedoras de carros da cidade, menos uma, fecharam.

Fuga. O dono da maior joalheria da cidade foi detido pelas autoridades uma semana atrás quando credores o descobriram empacotando secretamente ouro e joias no valor de milhões de dólares e o acusaram de estar se preparando para fugir da cidade sem acertar suas dívidas.

Um restaurante chique fechou um dia antes, e seu dono também foi embora da cidade, assim como o fundador do Jardim da Fortuna e muitos outros executivos em dificuldades.

"É uma crise econômica como a que os Estados Unidos tiveram; exatamente igual", disse Wang Ting, um operador de um cassino ilegal em Fugu, perto de Shenmu. "Não há dinheiro, todos ficam em casa por falta de emprego, não há maneira de a economia se recuperar."

Shenmu e cidades próximas como Ordos e Fugu são indicadores dos problemas mais gerais que estão começando a afligir toda a economia chinesa.

Desaceleração. Por toda a China, o crescimento perdeu força. Com a desaceleração econômica, vieram os calotes crescentes dos empréstimos feitos fora do sistema bancário convencional, a capacidade ociosa crônica em muitas indústrias como mineração de carvão e produção de aço, e, em cidades particularmente problemáticas como Shenmu, uma forte queda nos preços previamente inflados pelo endividamento de imóveis e outros ativos.

As rachaduras estão aparecendo em muitas cidades de tamanho considerável como a litorânea Wenzhou, onde os empréstimos informais, uma grande parte do chamado sistema bancário paralelo, dominaram o cenário financeiro por um quarto de século.

Cidades com economias relacionadas a commodities com preços em queda também foram afetadas na medida em que mais pessoas deixaram de pagar seus empréstimos. As áreas metropolitanas maiores e mais diversificadas economicamente como Pequim e Xangai parecem consideravelmente menos afetadas, mas também abrigam muitas empresas pequenas e médias que dependem dos empréstimos informais.

Os empréstimos sofreram um colapso aqui na província setentrional de Shaanxi, onde eles eram particularmente especulativos e frenéticos, e onde a indústria local de carvão também vem sendo atingida por uma forte queda nos preços.

Perspectiva. Os chineses estão tendo mais dificuldade de saldar seus empréstimos porque a economia está desacelerando. A maioria das análises da economia chinesa examina apenas a taxa de crescimento da economia real, em torno de 7,5% este ano. Mas para as vendas e lucros de empresas que determinam sua capacidade de saldar dívidas, o que realmente importa é a taxa de crescimento nominal, que é o crescimento econômico real mais a inflação.

Empresas do setor privado podiam captar com taxas de juros de dois dígitos porque o crescimento nominal de 16% a 23% ao ano de 2004 a 2011 excedia as taxas. Mas o crescimento nominal desacelerou para 9,8% no ano passado e caiu novamente na primeira metade deste ano, para um nível anual de 8,8%.

Ao mesmo tempo, o investimento excessivo resultou em capacidade ociosa. Dezenas de novas minas foram abertas em torno de Shenmu na última década e minas mais antigas foram ampliadas. Mas a demanda por eletricidade e aço, os dois principais consumidores de carvão, ficou muito mais lenta do que o esperado.

Por conseguinte, os preços do carvão caíram pela metade nos três últimos anos. Agora, das 90 minas próximas de Shenmu, praticamente as únicas que continuam em operação são nove estatais que não precisam mostrar lucros.

O estouro da bolha imobiliária foi o golpe mais sério na economia local. Os preços dos imóveis haviam inflado em cidades por toda a China. Em Shenmu, apartamentos de 110 metros quadrados que eram vendidos por menos de US$ 20 mil há uma década alcançavam US$ 330 mil no início deste ano.

Os corretores imobiliários locais dizem que estão aconselhando vendedores a evitarem cortes de preços de mais de 10%, mas os donos de empresas locais que compram e vendem apartamentos dizem que os negócios agora estão sendo feitos por até US$ 115 mil por um apartamento de 110 metros quadrados, uma queda de 65%.

A insatisfação pública está alimentando protestos de rua. Muitos milhares de moradores se uniram numa manifestação em meados de julho na praça em frente do edifício da prefeitura local, cobrando a reanimação da economia estagnada.

Mais recentemente, um grupo menor de trabalhadores migrantes protestou, pedindo que o governo local pague seus salários atrasados depois que a construção foi interrompida num série de prédios de apartamento.

No entanto, um mercador de Shenmu, que insistiu no anonimato por causa das tensões locais, disse que tinha muita simpatia pelas autoridades, que até haviam pendurado banners em ruas da cidade no ano passado advertindo os moradores sobre os perigos de participar de esquemas de empréstimos informais.

"Este é um problema nacional , não uma questão local", disse ele.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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