SÃO PAULO, 16 Ago (Reuters) - O dólar disparava ante o real nesta sexta-feira, tocando o patamar de 2,38 reais no intradia pela primeira vez em mais de quatro anos, na medida em que investidores aproveitavam a alta generalizada da moeda dos Estados Unidos para pressionar o Banco Central a atuar com mais intensidade nos mercados.
A divisa norte-americana vem registrando forte escalada ante o real devido ao pessimismo dos investidores com os fundamentos da economia brasileira, aliado à expectativa de que os Estados Unidos comecem em breve a cortar seu programa de estímulo monetário, reduzindo o apetite do mercado por ativos de risco.
Às 15h11 o dólar avançava 2,2 por cento, para 2,3901 reais na venda, após tocar 2,3908 reais na máxima do dia, maior patamar intradiário desde 6 de março de 2009. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro estava em torno de 777 milhões de dólares.
"As empresas não têm interesse em swap com dólar neste nível, então quem está comprando os contratos são os especuladores. Além disso, o mercado à vista está sem liquidez. A pressão vem daí", afirmou o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme. "O BC precisa mudar de estratégia".
Os swaps vinham atendendo à demanda de empresas que buscavam proteger seus ativos em dólar do esperado fortalecimento da divisa norte-americana. Para Nehme, no entanto, essa operação deixou de ser interessante num momento em que o dólar renova constantemente máximas em anos. "Quem já fez (hedge), fez. Quem não fez, prefere ficar nessa taxa".
O BC atuou em dois momentos nesta sessão. O primeiro, logo no início do pregão, fazendo leilão de rolagem de contratos de swap cambial tradicional --equivalente a venda futura de dólar-- que vencem em setembro deste ano. Na quinta-feira, O BC anunciou que irá rolar 100.800 contratos de swap cambial, no valor similar a 5,04 bilhões de dólar .
Nessa primeira intervenção, foi vendido o lote total de 20 mil contratos com vencimento em 1º de abril do ano que vem. O volume financeiro foi equivalente a 989 milhões de dólares.
No segundo leilão, no entanto, o BC vendeu 21,6 mil contratos para 1 de novembro de 2013 e 1 de abril de 2014, pouco mais da metade da oferta total de 40 mil contratos. O volume financeiro foi equivalente a 1,076 bilhão de dólares.
DÚVIDAS SOBRE ESTRATÉGIA
Analistas do mercado têm destacado que a autoridade monetária não conseguirá reverter a tendência de alta sem atuar no mercado à vista. Na quinta-feira, no entanto, o BC afirmou em comunicado que "continuará com sua política de intervenções pontuais no mercado futuro de câmbio", declaração que foi interpretada por investidores como um sinal de que, por enquanto, o BC não pretende vender dólares no mercado spot.
Segundo Nehme, a autoridade monetária pode escolher, ainda, voltar aos mercados por meio de leilões de linha. "Dessa maneira, ele pode convencer os bancos a fornecer essa liquidez que está faltando", emendou Nehme.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta sexta-feira que o Brasil tem armas para enfrentar a volatilidade cambial e ressaltou que o país ainda não fez uso de suas reservas.
Apesar de as preocupações sobre o rumo da política monetária dos Estados Unidos afetarem todas os mercados emergentes, o real tem se enfraquecido mais do que outras moedas devido à falta de confiança dos investidores no desempenho da economia brasileira.
Para o banco Barclays, o dólar terá elevação gradual chegando a 2,45 reais nos próximos 12 meses. Já o banco Brasil Plural prevê que, no curto prazo, o dólar pode bater o patamar de 2,50 reais.
"Estamos preocupados que a deterioração dos fundamentos brasileiros (conta fiscal pior, aumento do déficit em conta corrente e falta de planejamento de longo prazo do governo) levará a um downgrade (da nota brasileira) de crédito no primeiro trimestre de 2014, o que pressionará mais o real", disseram os analistas do banco.
Fonte: Reuters Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário