Por Júlio Gomes de Almeida*
Em um ciclo de expansão no qual uma forte evolução do consumo decorrente da política de redistribuição de renda esteve associada ao boom dos preços das commodities, o Brasil pôde se dar ao luxo de permitir a desindustrialização.
O ônus dessa orientação econômica não foi desprezível, pelo contrário, dela decorreu a fraca geração de empregos de maior qualificação e rendimentos. Um crescimento econômico anêmico nos três últimos anos, incluindo 2013, é outra de suas consequências.
Tendo os ciclos de consumo e de serviços mostrado já há algum tempo sintomas de desaceleração e diante de um quadro menos favorável para as commodities, a indústria ressurge como centro propulsor para que a economia volte a crescer.
Algo nesta direção já deve estar ocorrendo em razão da desvalorização do real e das ações da política industrial para a redução dos custos e para baratear o financiamento dos investimentos de modernização da economia. Ou seja, possivelmente já teve início o jogo da reindustrialização, muito embora pareça indiscutível que seu desfecho esteja ainda distante.
Vão nesta direção os últimos resultados da produção industrial. O aumento de 1,9% na passagem de maio para junho é positivo. Mas, em uma perspectiva mais ampla a indústria mostra muitas debilidades.
A primeira e a mais notória dentre elas é a alternância praticamente a cada mês de índices muito negativos e índices extremamente positivos de produção. Assim, em maio a produção retrocedera 1,8% e crescera outros 1,8% em abril após ter declinado 2,2% em fevereiro.
Isto é revelador de um quadro em que prevalecem dúvidas mesmo nas avaliações empresariais de curto prazo. Com pouca confiança no futuro próximo, as decisões de produzir reagem exageradamente diante de modestos sinais de acumulação ou desacumulação de estoques, daí a aguda instabilidade que estamos vivenciando.
Outro ponto: o crescimento industrial continua dependente de estímulos fiscais do governo. A indústria como um todo teve recuperação no primeiro semestre com um aumento de produção de 1,9% sobre o mesmo período do ano passado, depois de uma queda de 3,8% em 2012.
Em grande parte, isto se deveu ao avanço de 4,9% na produção dos bens duráveis de consumo beneficiados pelos incentivos tributários. Bens não duráveis ou semi-duráveis, refletem mais de perto o consumo básico da população e caíram 0,6%, certamente como reflexo da aceleração inflacionária.
Bens intermediários, um segmento da indústria que representa quase metade da produção total, teve baixo desempenho no período (+0,4%), dado o fraco dinamismo interno e o contexto externo. É possível que uma nova onda de importações esteja subtraindo dinamismo desse setor que, ao mesmo tempo, se depara com dificuldades crescentes nos mercados de exportação.
Resultado inquestionavelmente positivo somente foi verificado em bens de capital, um setor que teve no primeiro semestre de 2013 um acréscimo de produção tão alto (13,8%) quanto a retração sofrida no primeiro semestre de 2012 (12,5%).
Não nos parece, todavia, que a base de comparação especialmente desfavorável seja o único fator a explicar a magnitude da retomada em bens de capital. Incentivos tributários e de financiamento ao investimento tiveram impacto nas decisões de investir e ajudaram a economia a reagir mesmo em um contexto de piora nas expectativas empresariais.
*Julio Gomes de Almeida é professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Fonte: Brasil Econômico
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