"O ciclo de alta de juros pode ser mais longo do que o inicialmente esperado", diz o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn.
As taxas de juros finalmente caíram com mais desenvoltura ontem no mercado futuro da BM&F. Elas vinham relutando em acompanhar integralmente o declínio do dólar esta semana.
As baixas mais acentuadas nos CDIs estimados para os próximos meses vieram num dia em que, ao divulgar o seu Relatório Trimestral de Inflação, o Banco Central recusou-se a chancelar plenamente a curva futura de juros.
Após conhecer todas as projeções de inflação e crescimento da economia contidas no RI, o mercado se convenceu de que o Copom fará, no limite, mais três elevações de 0,50 ponto na Selic. Hoje em 8%, a taxa encerraria o ano em 9,5%.
Esperar mais do que isso, como estava embutido na curva dos DIs, significará assumir riscos desnecessários. "O ciclo de alta de juros pode ser mais longo do que o inicialmente esperado. No entanto, entendemos que a manutenção da avaliação do cenário, mesmo diante da maior volatilidade nos mercados nas últimas semanas, sugere que o Copom não vê urgência em acelerar o ritmo de aperto monetário", diz o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, em relatório.
Fundamentais na definição da curva de juros, os contratos longos recuaram com mais intensidade que os curtos. A taxa para a virada do ano cedeu de 8,93% para 8,87%. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 desacelerou de 9,90% para 9,77%.
E a taxa para janeiro de 2017 recuou de 10,88% para 10,77%. Mesmo revendo para baixo sua expectativa de crescimento do PIB este ano, de 3,1% no Relatório de Inflação de março para 2,7% agora, o BC teima em uma previsão mais elevada que a do mercado - de 2,46%, segundo o último Boletim Focus.
Também nesse quesito, o BC discorda das instituições. Embora delimite um teto realista e revelador da disposição em promover o aperto monetário a despeito dos seus impactos negativos sobre a atividade, indica que não pretende, contudo, levar o arrocho às suas últimas consequências.
Mas há mais duas razões para a queda mais acentuada dos DIs, além das sinalizações do RI. A primeira é que, de fato, o mercado internacional acalmou-se após a bateria de declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed).
Convenceu-se de que vinha dramatizando suas aflições antecipatórias à normalização de médio e longo prazo da política monetária americana.
A segunda deriva do fechamento dos balanços semestrais dos fundos de investimentos. Termina hoje o primeiro semestre do ano e eles pretendem atenuar quanto puderem a rentabilidade negativa das carteiras recheadas de títulos públicos.
O IMA, índice criado pela Anbima para medir o desempenho dessas carteiras, vem se recuperando nesta semana de distensão dos mercados, mas ainda permanece negativo no acumulado de junho. Dia a dia, o declínio dos juros futuros vem reduzindo a perda do índice.
Os maiores prejuízos foram contabilizado no dia 19 - dia da reunião de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed -, quando o IMA apresentou variação negativa acumulada no mês de 3,4544%. Na segunda-feira, a cota dos fundos cujas carteiras são parecidas com a do IMA apresentavam rentabilidade negativa de 1,7588% no acumulado de junho.
Ela suavizou-se para 1,3426% na terça-feira e caiu a 1,2996%, último dado disponível, na quarta. As perdas sofridas em junho por causa da turbulência externa anularam o ganho havido nos primeiros meses do ano. O IMA relativo ao semestre mostra, até o dia 26, oscilação negativa de 2,4607%.
O IMA é composto de três índices principais. O primeiro é o IRF-M, que apura a performance de dois títulos prefixados emitidos pelo Tesouro Nacional, as LTN e as NTN-Fs. O segundo é o IMA-S, que captura a variação dos papéis atrelados à Selic, as LFTs. O terceiro é o IMA-B, que mensura o desempenho dos títulos pós-indexados ao IPCA, as NTN-B.
Dos três, apenas o IMA-S apresenta rentabilidade positiva em junho, de 0,5484%, e no semestre, de 3,5166%. O IRF-M perde 0,8867% no mês e 0,2271% no semestre. Os maiores prejuízos ocorreram no IMA-B: 2,2114% no mês e 7,2562% no ano. Os títulos que mais sofreram com a disparada dos juros futuros ocorrida às vésperas e logo depois da reunião do Fed foram os prefixados e os que, como as NTN-B, apesar da indexação ao IPCA, tem uma fatia do rendimento vinculada a juro. Esses títulos são "marcados a mercado": sempre que o juro sobe, o seu preço cai e a cota fica negativa. Quando o juro cai, como nos últimos dias, o preço sobe e a cota é valorizada.
Principalmente quem está carregando posições pesadas em NTN-B - títulos que viraram coqueluche dos investidores desde 2011 justamente por causa da queda do juro básico - precisa ter muito sangue-frio para não "realizar" os prejuízos. Quem entrou em pânico e vendeu o papel no dia 19, quando amargava perda no mês de 6,952%, pode ter-se arrependido depois.
A perda foi diminuindo de tamanho com a recuperação da sanidade pelos mercados. Ela caiu a 5,309% no dia 20, a 4,147% no dia 21, a 2,932% na segunda-feira, a 2,289% na terça e a 2,2114% na quarta. Se o aplicador não sair do papel, as perdas são meramente contábeis, não se "realizam" na prática.
O dólar descolou-se ontem do seu principal mercado de referência, as negociações com títulos do Tesouro americano. As taxas do T-Notes oscilaram ontem de 2,47% a 2,56%, ante 2,54% no fechamento anterior, ao sabor da enxurrada de indicadores sobre a economia americana.
E fecharam na mínima de 2,47%. Se tivesse acompanhado a calmaria dos treasuries, o dólar teria caído, mas fechou em alta de 0,38%, cotado a R$ 2,1970, interrompendo uma sequência de quatro pregões em queda.
Operadores atribuíram a alta a compras feitas por importadores e multinacionais interessadas em fazer remessas, mas, na verdade, ela decorreu da força demonstrada pelos "comprados" nos pregões de derivativos cambiais da BM&F.
Como o mês termina hoje, querem aumentar os seus lucros. Os "comprados", liderados pelos fundos de investimento, estão defendendo posições de US$ 30,92 bilhões. Desde sexta-feira, 21, os "comprados", a despeito das quedas sucessivas contabilizadas pelo dólar no mercado à vista, aumentaram suas apostas em US$ 4,03 bilhões.
Fonte: Brasil Econômico