Recentemente, o Escritório Nacional de Estatísticas da China (NBS) publicou dados referentes a importantes indicadores econômicos do país.
Dois números foram muito significativos: 1) Produção industrial, referente ao mês de julho, cresceu 9,7%, o maior resultado desde janeiro; 2) Vendas no varejo, que alcançaram 13,2% no mesmo mês.
Há poucas semanas, o prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, fez um alerta sobre a economia chinesa, prevendo um período menos alvissareiro.
Também a OCDE projeta um futuro mais nebuloso para o país. Devemos esperar um cenário efetivamente pior?
Com franqueza, sou cético em relação a tal reversão, pelo menos no médio prazo. A despeito das estatísticas do NBS muitas vezes causarem desconforto para alguns, por falta de acurácia nos dados, creio que não há motivos concretos para crer em PIB inferior a 7% até 2015.
Antes da crise de 2008, a contribuição da economia chinesa para o crescimento global era próxima a 20%. Natural, pois, que, com a celeuma internacional, a economia sofresse o chamado "freio de arrumação", uma vez que, nesse mundo globalizado, nenhum país está livre de passar por situações adversas, como a que vivemos no período 2009-2012.
Um aspecto bastante relevante, que gostaria de assinalar, é exatamente essa conexão entre os países, num contexto de globalização, com intensa troca entre os mesmos. Antes da crise, o comércio global crescia a taxas superiores a 7% ao ano.
Com a crise, e a debacle das nações desenvolvidas - mormente aquelas participantes da zona do euro - a velocidade do crescimento do comércio internacional despenca para figuras abaixo de 2% ao ano; uma tremenda redução! Como a China não seria impactada?
O que desejo assinalar é que parte da perda de empuxo da economia do país deve-se à redução do comércio internacional, mais do que por fatores internos adversos. Destaque-se que a Europa é um importantíssimo parceiro chinês e a recessão na região iria impactar, por óbvio, o crescimento.
Ou seja, me parece até certo ponto natural a acomodação que vimos observando nos últimos anos por lá. Todavia, a meu juízo, à medida que a economia global se reorientar, algumas condições anteriores se restabelecerão, e os chineses voltarão a apresentar uma performance um pouco mais parecida com aquela de outrora.
É claro que uma debacle do país asiático seria ruim para o retorno das condições pré-crise. Entretanto, penso que uma redução da velocidade de crescimento é salutar para os chineses. Expandir-se ao ritmo de 10% ao ano, como ocorria anteriormente, era preocupante, pois julgo impensável admitir que tal situação não afetasse para pior a inflação, no longo prazo.
Assim sendo, penso que não devamos considerar, com alto grau de probabilidade, uma mudança de rota significativa na economia chinesa. O cenário mais provável, a meu juízo, ainda contempla crescimento do mercado imobiliário, aumento de consumo das famílias e manutenção dos projetos de infraestrutura, o que requererá commodities em grande escala.
Se meu diagnóstico estiver correto, com a recuperação gradativa das economias desenvolvidas, e uma política cambial que mantém favorável os termos de troca, teremos um futuro menos traumático para a China - e para o mundo - do que essas projeções atuais dos analistas.
Fonte: Brasil Econômico
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