Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Dados imprecisos distorcem peso do consumo na China

À medida que o crescimento da China desacelera em direção ao nível mais baixo em 20 anos, os economistas estão pedindo que os consumidores se responsabilizem por uma parte maior do fardo de sustentar a segunda maior economia do mundo.

Mas cada vez mais os líderes do país estão afirmando que os consumidores chineses não estão se esquivando da responsabilidade, apenas os dados não estão sendo contabilizados devidamente.
"Os dados oficiais subestimam severamente o consumo das famílias", argumentou o vice-presidente do Banco Popular da China Yi Gang, durante uma reunião do governo e economistas do setor privado da China e dos Estados Unidos, em abril. Yi também minimizou o papel das baixas taxas de juros do país — há muito vistas como um fator que deprime o consumo — na geração de desequilíbrios, de acordo com os presentes na reunião.

O baixo consumo das famílias chinesas — em 2012, ele representou 35,7% do produto interno bruto, em comparação com cerca de 70% nos EUA — é amplamente visto como uma barreira para o crescimento sustentável. Com a participação do consumo no PIB encolhendo, segundo dados oficiais, a China é forçada a depender do investimento, muitas vezes em infraestrutura desnecessária ou projetos industriais concebidos de maneira precária, para apoiar sua economia.

Yi diz que a situação real não é tão sombria. Ele cita números da Universidade da Pensilvânia, mostrando que, medidos com base em preços comparáveis em nível internacional, o consumo da China é maior e mais estável do que os dados oficiais sugerem. Isso porque, em comparação com outros países, os bens de consumo da China são baratos. Os números da Universidade da Pensilvânia mostram que a participação do consumo das famílias no PIB da China foi de 43,8% em 2010, o último ano incluído no estudo.

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Se Yi estiver certo, a China deve continuar a ser um motor de crescimento global, com forte demanda impulsionando empresas globais, como a Apple vendendo iPhones à classe média e as mineradoras do Chile fornecendo matérias-primas para a expansão da rede elétrica do país. Se estiver errado, há o risco de que um governo complacente evite as reformas necessárias e cause uma desaceleração mais acentuada, com repercussões globais.

O banco central não respondeu a pedidos de comentários.

Yi não é o único economista chinês a afirmar que o consumo da China está subestimado. Em um artigo recente, Li Daokui, um ex-membro do Comitê de Política Monetária do banco central, argumentou que o consumo das famílias como proporção do PIB da China em 2011 foi na verdade de 38,5%, em comparação com o dado oficial de 35,7%.

Li vê um ponto de inflexão em 2007, com o consumo das famílias aumentando sua participação de forma estável desde então. Como a mudança coincide com mercados de trabalho mais disputados que elevaram os salários e a renda familiar, Li diz que a economia está se autocorrigindo, sem precisar de grandes mudanças na política econômica.

A raiz da discórdia entre a agência oficial de estatísticas da China e seus críticos está na fórmula oficial para somar renda e consumo, que muitos economistas independentes consideram falha. A agência calcula o consumo através de uma pesquisa que abrange milhares de famílias em todo o país. Mas críticos dizem que uma amostra distorcida e a dificuldade em medir certos tipos de gastos acabam empurrando os resultados para baixo.

Uma das falhas é a dificuldade de medir os gastos dos ricos — que provavelmente estão sub-representados na pesquisa e não têm interesse em relatar detalhes de seu estilo de vida.

A pesquisa também não consegue identificar a parte do consumo das famílias paga por empresas. No enorme setor estatal da China, que emprega milhões, é comum que as empresas paguem por uma série de bens e serviços dos funcionários.

A Agência Nacional de Estatísticas não respondeu aos pedidos de comentários.

Os críticos dizem que as baixas taxas de juros afetaram a renda das famílias ao reduzir os retornos da poupança e, assim, limitar o consumo. O Fundo Monetário Internacional calcula que os juros baixos transferem anualmente cerca de 4% do PIB dos bolsos dos cidadãos para os cofres de empresas estatais que tomam empréstimos a taxas preferenciais. Mas se a parcela do consumo no PIB está subavaliada, a defesa de uma reforma fica enfraquecida.

"Não concordo com Yi Gang", diz Zhang Ming, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, um centro de estudos do governo. "A regulação da taxa de juros é o principal instrumento de repressão financeira na China, e a taxa de referência de depósitos é um fator-chave para o lento crescimento da renda e do consumo das famílias."

Essa opinião é compartilhada por muitos economistas dentro e fora da China. Mas, pelo visto, o banco central não concorda.

Fonte: The Wall Street Journal

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