Quando esta pequena cidade no nordeste da China lançou um plano para construir uma cidade satélite em sua zona metropolitana, o projeto começou de forma promissora.
Os planejadores urbanos gastaram milhões de yuans para limpar a área pantanosa do entorno que tinha se tornado um depósito para o esgoto não tratado. Um cenário limpo, acreditavam, ajudaria a atrair empresas que elevariam a renda e aumentariam a população do município.
Quatro anos depois, Tieling New City é praticamente uma cidade fantasma.
Canais de água limpa circundam prédios públicos e residenciais vazios. Blocos habitacionais que ganharam o reconhecimento da Organização das Nações Unidas por oferecer casas a preços acessíveis estão vazios. As empresas que supostamente criariam empregos não se materializaram. Sem trabalho, há pouco incentivo para as pessoas se mudarem pra lá.
Tieling simboliza os enormes desafios enfrentados pelo primeiro-ministro Li Keqiang à medida que ele apregoa a urbanização — processo que analistas calculam que levará cerca de 250 milhões de pessoas das zonas rurais para as cidades ao longo de 20 anos — como a força que irá garantir o crescimento da economia do seu país no futuro.
"A urbanização não vai apenas motivar um enorme consumo, a demanda de investimentos e a criação de oportunidades de emprego, mas também afetar diretamente o bem-estar da população", disse Li em março durante sua primeira entrevista coletiva como primeiro-ministro chinês.
Ele ainda não apresentou uma visão detalhada sobre como pretende atingir suas metas econômicas.
Em teoria, a urbanização estimula o crescimento porque os moradores da cidade normalmente ganham mais do que os trabalhadores rurais, o que lhes permite gastar mais em bens e serviços. Mas para que isso aconteça, o governo tem que promover a criação de empregos.
Tieling revela essa dificuldade.
Entre os poucos empresários atraídos para Tieling New City está Bo Yuquan, proprietário de uma loja de pisos. "Onde estão as pessoas? Não tem ninguém aqui", disse. "Eu vou sair da empresa logo. Meus funcionários e eu estamos conversando sobre nos mudarmos para Pequim para encontrar trabalho."
O setor exportador da China guiou no passado ondas de urbanização, mas é improvável que promova isso novamente, com a demanda ainda fraca por parte das economias desenvolvidas e o aumento dos custos na China, o que torna os produtos fabricados no país menos competitivos. O excesso de capacidade em alguns setores, como a indústria siderúrgica, vai restringir ainda mais a criação de empregos.
Nos últimos anos, as cidades têm preenchido essa lacuna com os empregos criados pelo boom da construção civil. Embora isso tenha dado vitalidade à economia, também deu origem a subúrbios vazios e cidades fantasmas. Os inúmeros investimentos no segmento imobiliário ameaçaram ainda alimentar a inflação e atolar o setor com empréstimos ruins.
De fato, a China tem um histórico de primeiro construir imóveis e depois criar a demanda por eles.
"Com mais e melhores oportunidades de emprego nas cidades com um perfil mais elevado, muitas de nível inferior têm na verdade vivenciado uma perda líquida de população, enquanto a venda de terras [para construtoras] ali aumentou rapidamente, agravando o excesso de oferta de imóveis", escreveu Du Jinsong , analista do setor imobiliário do banco Credit Suisse, CSGN.VX -0.77% numa nota de análise recente.
Tieling, uma cidade de cerca de 340.000 pessoas, lançou em 2005 seu plano de construir uma nova cidade, parte de uma estratégia mais ampla para reavivar a economia local.
A ideia era que empresas fossem atraídas para cidades satélites devido às terras e à mão de obra mais baratas, beneficiando-se ainda da proximidade das cidades maiores. A expectativa era que a nova cidade tivesse 60.000 moradores em 2010 e mais tarde triplicasse esse número.
Em 2009, grande parte das obras já estava pronta. Mas com o cair da noite, nota-se que as luzes dos apartamentos, um após o outro, estão apagadas. Corretores, seguranças e os poucos moradores dizem que quase todos os imóveis estão vazios.
Um parque comercial estabelecido para atrair prestadores de serviços de suporte para grandes instituições financeiras, como armazenamento de dados, foi projetado para empregar entre 15.000 e 20.000 pessoas até o fim deste ano, segundo o site do empreendimento. Mas ele abriga apenas duas empresas que empregam menos de 20 funcionários, disse um segurança.
As autoridades locais têm tentado aumentar a população, pressionando os moradores da cidade antiga a irem para a nova. Esse esforço tem envolvido a transferência de escritórios do governo para a nova cidade e também o fechamento de escolas na parte antiga do município, com os alunos sendo deslocados para estabelecimentos na parte nova.
Apesar de toda essa situação, a cidade de Tieling optou por continuar construindo novos imóveis. O governo municipal anunciou planos de gastar mais US$ 1,3 bilhão este ano em projetos na nova cidade, incluindo uma galeria de arte, um ginásio e uma piscina coberta. Isso apesar da crescente pressão sobre as finanças municipais.
"Os custos do financiamento estão subindo o tempo todo e levantar recursos tem se tornado cada vez mais difícil", disse o governo da cidade na previsão de orçamento ano deste ano. Ele não informou como pretende financiar esses novos empreendimentos.
Fonte: The Wall Street Journal
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