Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Preços de fábrica em queda são o novo problema da China


Uma queda acentuada nos preços de fábrica — o 14o declínio mensal consecutivo — indica que o excesso de capacidade das indústrias tradicionais virou mais um problema na economia chinesa, já às voltas com o endividamento crescente e a desaceleração do crescimento.

Os preços ao produtor — um indicador dos preços de bens antes de eles chegarem aos consumidores — caíram 2,4% em abril, o maior recuo desde outubro, causado principalmente por grandes recuos nos setores de metais e químicos. Isso pode aumentar os temores em relação à desaceleração do crescimento da China, dizem economistas, porque preços ao produtor em queda prejudicam a lucratividade dos fabricantes e tornam mais difícil que eles paguem fornecedores e outras dívidas em dia.

Parte do grande boom de empréstimos na China vem sendo usada por empresas abatidas pelo excesso de capacidade para refinanciar dívidas ou pagar juros, disse Jian Chang, analista do Barclays BARC.LN +1.06% . "Isso está ajudando a evitar que as empresas quebrem."

A China continua sendo uma das economias que mais crescem no mundo, embora bem abaixo do nível de dois dígitos registrado nos últimos 30 anos. No primeiro trimestre, o PIB cresceu a um ritmo de 7,7% ante o mesmo período do ano anterior, comparado com 7,9% no quarto trimestre de 2012. Ontem, o banco central da China informou, num relatório trimestral sobre as condições monetárias, que ainda não há bases sólidas para um crescimento econômico estável.

A deflação no setor manufatureiro reflete o excesso de capacidade em várias das principais indústrias, inclusive a do aço, carvão, vidro, alumínio, painéis solares e cimento.

As quedas de preço não são da mesma magnitude que a deflação generalizada que se abateu sobre o Japão, onde os preços ao consumidor caíram quase todos os anos desde 1999, corroendo lucros, investimentos e consumo e jogando o país numa recessão que já dura uma década. O declínio na China também tem um efeito positivo para os consumidores porque ajuda a manter baixos os preços para os produtos que compram. A inflação medida pelo índice de preço ao consumidor atingiu um pico de 6,5% em julho de 2011 e vem caindo desde então, chegando a 2,4% no acumulado de doze meses em abril.

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Para as indústrias, no entanto, o efeito da queda dos preços pode ser grave.

A Aluminum Corp. of China, que divulgou um prejuízo de 975 milhões de yuans (US$ 158 milhões) no primeiro trimestre e um aumento de 1,9% na receita, afirmou que mais de 90% do alumínio na China é produzido com prejuízo. "A urbanização da China vai impulsionar o consumo de alumínio no longo prazo", disse um porta-voz, "mas pode levar algum tempo para digerir os estoques".

A indústria de cimento também parece inchada. Li Yequing, presidente da Huaxin Cement Co., 600801.SH +1.11% disse na semana passada que os fabricantes de cimento precisam fechar fábricas antigas para evitar uma "catástrofe" em todo o setor. Analistas dizem, porém, que firmas que têm contatos no governo vão provavelmente receber apoio financeiro.

Em alguns setores, os preços em baixa das commodities têm contribuído para derrubar os preços ao produtor. No ano passado, os preços de petróleo bruto ficaram inalterados e os do minério de ferro caíram cerca de 7,3%. Os custos baixos das matérias-primas refletem a fraca demanda da própria China, o maior consumidor de commodities do mundo, mas também derrubam os preços industriais.

"O menor custo das matérias-primas acabou influenciando os preços de venda", disse Daniel Kang, analista do JP Morgan JPM -1.47% .

No setor de painéis solares, os produtores têm que arcar com um imposto de importação nos Estados Unidos e tarifas semelhantes impostas pela Europa, o que diminui seu mercado mundial, aumenta o excesso de capacidade e prejudica preços e lucros. A LDK Solar Co. LDK -0.84% vem penando com uma dívida de US$ 2,2 bilhões e teve de ser resgatada pelo governo.

Em períodos passados de deflação dos preços de produção, o crescimento econômico da China resolveu o problema. Depois que o país se juntou à Organização Mundial do Comércio, em 2001, as exportações dispararam, aumentando a demanda por matérias-primas e bens manufaturados. Durante a crise financeira global de 2008 e 2009, o governo aprovou um gigantesco plano de estímulo que incluiu empréstimos quase ilimitados para as grandes empresas, geralmente estatais, atualmente às voltas com preços em queda.

Mas agora as exportações recuaram devido aos problemas financeiros na Europa e Japão e à branda recuperação dos EUA. A demanda doméstica já não é tão forte como alguns analistas haviam previsto porque o governo está tentando limitar os gastos com infraestrutura que levaram a altos níveis de endividamento.

Inflação baixa e uma dívida pública limitada significam que o governo ainda tem recursos para estimular o crescimento. Alguns economistas esperam que a nova grande onda de empréstimos dê impulso ao investimento, o que por sua vez aumentaria a demanda por produtos industriais.

Fonte: The Wall Street Journal


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