Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Será o fim do Bric? Investimentos no bloco mostram fraqueza


E m apenas duas semanas, a cidade de Manchester, na Inglaterra, viu partir dois de seus mais famosos representantes. Um deles é conhecido mundialmente: Sir Alex Ferguson, que anunciou sua aposentadoria na semana passada, depois de 26 anos no comando do time de futebol Manchester United.

O outro, que interessa mais a Wall Street, é Jim O'Neill, economista do Goldman Sachs Group Inc. GS +3.18% que inventou o termo "Bric", unindo Brasil, Rússia, Índia e China no conceito de uma grande potência composta por mercados emergentes.

O'Neill, de 56 anos, torcedor do Manchester, adiantou-se em uma semana à aposentadoria de Sir Alex e disse ao amigo: "Alex, você está me imitando."

O economista, cujo último cargo no Goldman Sachs foi de presidente do conselho da divisão de gestão de ativos, está acostumado a ver outras pessoas o imitarem. Desde 2001, quando lançou a ideia do bloco Bric, o termo vem sendo usado e abusado por investidores, banqueiros, políticos e comentaristas.

Recentemente, porém, o conceito vem sofrendo fortes críticas, em parte devido ao mau desempenho dos investimentos.

"Espero que o conceito de Bric se aposente junto com Jim O'Neill", disse Sara Zervos, que administra cerca de US$ 18 bilhões como diretora da equipe de dívida global da OppenheimerFunds, resumindo o sentimento anti-Bric em uma recente conferência com investidores.
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Não é só ela que pensa assim. O economista Nouriel Roubini já alertou sobre a louvação excessiva do Bric, criticando o alto grau de intervenção governamental nessas economias. Estrategistas de investimentos já exaltaram as virtudes de outros mercados emergentes, como México e Indonésia, enquanto outros mais ousados estão dirigindo o olhar para os chamados "mercados de fronteira", como Nigéria, Sri Lanka e Kuwait. E até mesmo Antoine van Agtmael, o pai do investimento em mercados emergentes, indicou os Estados Unidos como o próximo mercado "quente".

Será que o Bric acabou? Sim e não. O conceito de Bric é uma poderosa bússola para se navegar na economia global, mas uma ferramenta de investimento pobre. O Bric é mais uma moda passageira que uma palavra de ordem.

Não há como negar o poder dos países Bric. Pelos cálculos de O'Neill, o PIB do bloco vai ultrapassar o dos EUA em até 18 meses e superar a produção econômica do G-7, as sete principais economias mundiais, até 2032.

O mais importante: os países Bric vão gerar a maior parte do crescimento econômico mundial por muitos anos — graças, em grande parte, à China.

"A noção de que o Bric já acabou é estúpida", disse-me O'Neill. "Quando tive essa ideia, a concebi como um conceito econômico, não de investimento."

Mesmo assim, a intuição de O'Neill foi transformada em produtos de investimento pelos bancos e gestores de fundos, inclusive por seu antigo empregador, o Goldman Sachs. Os resultados recentes não têm sido muito bons. Desde 2008, o índice MSCI Bric caiu cerca de 13% em comparação a uma queda inferior a 5% nas ações de mercados emergentes e um aumento de mais de 17% nas ações dos EUA.

Bilhões de dólares já saíram dos fundos de investimento dedicados ao Bric desde 2011, enquanto os fundos dos "mercados de fronteira" e os bons e velhos fundos mútuos dos EUA têm recebido influxos robustos.

Veteranos dos Brics como Mark Mobius, que ajuda a administrar cerca de US$ 50 bilhões como presidente executivo do conselho do grupo de mercados emergentes da Franklin Templeton Investments, considera que esse é um fenômeno de curto prazo. "Houve algumas saídas de dinheiro dos Bric à medida que o chamado 'dinheiro quente' vai atrás de ganhos de curto prazo; mas isso em geral sinaliza que o mercado bateu no fundo ou está perto do fundo", disse Mobius por e-mail.

De fato, os defensores dos Bric apontam para os grandes descontos nas ações desses países em comparação com índices como o Standard & Poor's 500.

Os céticos não confiam tanto. Para quem investe em títulos, como Zervos, o problema é que "nem todos os mercados emergentes são iguais". Mesmo entre os países Bric há diferenças no crescimento econômico (em 2012, compare os 7,8% da China com o 0,9% do Brasil), na situação política (da economia controlada da China à democracia caótica da Índia e o governo de um só homem na Rússia).

Os que investem em ações também receiam apostar todas as fichas no Bric. "Se há uma classe de ativos que deve ser ativamente administrada, são as ações de mercados emergentes", diz Adrian Mowat, estrategista-chefe para ações asiáticas e de mercados emergentes do J.P. Morgan Chase JPM +1.09% & Co. "São lugares onde os fatores políticos mudam e há maior nível de risco em termos de governança corporativa e outras questões."

Sir Alex, profeta do chamado futebol de ataque, quase certamente iria discordar dessa abordagem cautelosa. Mas às vezes, tanto nos investimentos como no futebol, a melhor forma de ataque é a defesa.

Fonte: The Wall Street Journal


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