Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Educação ajuda indústria a sair da crise mais rápido do que se pensa, diz economista da CNI


Um trabalhador brasileiro produz, em média, um quarto do que produz um alemão, operando máquinas de mesmo padrão tecnológico.

A constatação, do economista Rafael Lucchesi, 48, diretor de Educação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostra que devolver
competitividade à indústria envolve mais esforços do que cortar impostos e aumentar o crédito para a compra de máquinas.

Para ele, é preciso modificar o sistema de ensino e abrir espaço para a formação profissional. Agenda que, na sua avaliação, se tornou tão relevante quanto os programas sociais nos últimos anos.


Folha - Economistas atribuem a crise da indústria à menor capacidade de concorrer com importados, resultado da perda de produtividade [medida de eficiência]. Quais são os motivos da baixa eficiência?

Rafael Lucchesi - O diagnóstico está correto. Vários fatores interferem na produtividade, mas o principal deles é o capital humano. Nossa baixa produtividade é resultado direto do padrão educacional do país. Sondagens feitas pela CNI com empresários mostram que grande parte dos problemas é resultado de deficiências [dos funcionários] em raciocínio abstrato, matemática e domínio de línguas.

Como isso se traduz em menor produtividade?

Em uma indústria que trabalha em três turnos, por exemplo, o trabalhador não sabe redigir um relatório de turno. Não sabe ler o manual de operações e não interpreta corretamente um gráfico.

Atualmente, com os processos digitais, se o trabalhador não tem capacidade de interpretação abstrata, ele tem problemas que vão se traduzir no seguinte: uma mesma máquina, com o mesmo padrão tecnológico, é muito mais bem operada por um coreano.

A produtividade do brasileiro é um terço da produtividade de um coreano, um quarto da de um alemão e um quinto da de um americano.

Outra questão diz respeito à nossa matriz educacional. Cerca de 80% dos alunos não vão para a universidade. E o que o sistema educacional dá a esse indivíduo para ir ao mercado de trabalho? Uma má formação em português, em matemática e em ciência. Dá para exigir mais do nosso sistema educacional.

O que seria exigir mais?

Hoje no Brasil só 6,6% dos jovens de 15 a 19 anos fazem educação regular junto com educação profissional. Esse número na Alemanha está acima de 50%, a média da OCDE [grupo de países mais ricos] está acima de 40%.

Ensino técnico é bom para a indústria...

Para o país, você dá mais competitividade para a indústria. Para a juventude, você dá uma oportunidade de ingressar mais cedo no mercado de trabalho e ter uma profissão estável e que pode, inclusive, permitir uma ascensão profissional e a continuidade dos estudos.

Dessa forma, a gente cria um modelo diferente do atual, em que temos uma pedagogia formada como se todo mundo fosse para a universidade. E não vai.

Precisamos que a estrutura educacional se ajuste às necessidades da sociedade.

O Brasil está experimentando uma transformação demográfica acelerada, a taxa de natalidade está caindo rapidamente. Parte dos nossos ganhos de produtividade estava associada ao ingresso de jovens no mercado de trabalho. Nosso sistema educacional perdia muita gente, mas em um país
de jovens não era problema.

Isso não vai voltar a acontecer com a mesma intensidade. Com a fila se escasseando, não podemos nos dar ao luxo de perder tanto. Então é importante que preparemos melhor quem vai ingressar no mercado de trabalho.

Pode resolver o futuro. Mas a crise da indústria é presente.

A velocidade [de mudança] é um pouco mais rápida do que se imagina. A diferença dos sistemas educacionais é como dois prédios. Na educação regular, você entra no primeiro andar, no ensino fundamental, e só tem uma profissão quando concluir a graduação, 17 andares acima.

Na educação profissional, é diferente. Se você faz um curso de formação inicial, de 200 horas, pode ter resultado de melhor produtividade desde o primeiro curso, ou do primeiro andar desse prédio. Então, os resultados são mais rápidos e efetivos.

Mas qual a proposta prática?

Aumentar os cursos técnicos é um passo. O outro é destravar a educação regular.

Nos últimos anos, o governo teve uma agenda importante dos programas sociais. A educação profissional cria uma agenda de cidadania, de formação de indivíduos e aumenta a produtividade da indústria. É a continuidade de uma agenda promotora do capital humano. Sobretudo para a juventude, pois permite a inserção produtiva e atende à necessidade de dar perspectiva para quem não vai para a universidade.

Grande parte do abandono do estudo ocorre porque os jovens do ensino médio não veem relação entre o que estão aprendendo e a vida. Estão aprendendo física, química e o pai dando esporro porque é improdutivo em casa. Ele não vai para a universidade porque não tem grana para entrar em uma particular e não tem estudo para entrar numa pública. Então, o que ele vai fazer? Vai trabalhar de balconista, no lava-jato...

A falta de inovação é outra lacuna da indústria e o esforço do governo e da CNI foi criar a Embrapii (Empresa de Pesquisa e Inovação Industrial). Por que criar uma estatal?

A Embrapii não é uma estatal, é um fundo que vai certificar instituições de pesquisa com pessoal qualificado, equipamentos e um plano de atendimento a empresas.

Colocar recursos em pesquisa na universidade, acreditando que vai virar inovação... toda a literatura diz que isso é ineficiente. Você melhora se o centro se desloca para o que a empresa precisa. Ela vai aportar recursos e não joga dinheiro fora.

Se pegarmos os principais fatores para impulsionar a competitividade, não vamos ver grandes mudanças na orientação macroeconômica, nas relações do trabalho, no marco legal e jurídico.

Em inovação e em educação é onde podemos responder a essa questão.

Fonte: Folha de S. Paulo

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