Para o economista brasileiro Otaviano Canuto, consultor do Banco Mundial para economias emergentes, o período de ganhos "caídos do céu" para a economia brasileira, com a valorização do preços das commodities no mercado internacional, chegou ao fim. E agora é preciso que o país busque outras formas de crescimento.
Folha - Houve uma deterioração importante no ano passado dos termos de troca do país [relação entre o preço do que o país vende e o custo do que compra]. O que explica o novo cenário?
Otaviano Canuto - Faz parte do ciclo das commodities, cujos preços variam ao longo do tempo de uma maneira mais acentuada que a dos demais produtos. O preço chegou ao topo, é natural que caia.
Mas o superciclo de alta das commodities não se reverteu completamente e não acredito que vamos caminhar para algo catastrófico, com preços no chão como os que dominaram os anos 80 e 90. Vamos ter uma fase menos brilhante.
Esta nova realidade, com termos de troca menos favoráveis, pode comprometer o crescimento da economia brasileira?
As boas regras de gestão econômica de países com PIB baseado na exploração de recursos naturais dizem que, durante o período de festa, têm de ser feitas reservas, inclusive fiscais, para serem usadas em época de baixa. A questão é o que país faz com esses ganhos caídos do céu na época de alta dos preços.
O país que mais evoluiu nessa direção na América Latina foi o Chile. Lá existe uma regra clara de que, quando os preços dos produtos exportados estão em alta, uma parte do ganho fiscal do governo é colocada à parte para ser utilizada na época de preço em baixa.
O Brasil conseguiu empregar bem os ganhos obtidos no período de bonança?
É a questão do copo meio cheio ou meio vazio. O país acumulou reservas externas e aproveitou para melhorar sua situação fiscal. Mas é preciso ter clareza de que esse período extraordinário acabou. Não teremos certamente num futuro próximo os ganhos vistos a cada ano com a melhora dos termos de troca.
No caso do Brasil, teria sido interessante que tivessem sido introduzidas regras orçamentárias mais rígidas, reservado ainda mais dos ganhos da bonança. Mas, de qualquer maneira, não há uma situação fiscal delicada e não houve uma onda de crédito insustentável. Tem que ter claro apenas que agora será preciso buscar outras frentes de crescimento.
O país tem deficit recorde na balança comercial neste ano. Quanto desta situação pode ser explicada pelo desaquecimento da economia mundial?
Tem o quadro externo menos favorável, mas tem também uma erosão acentuada da competitividade industrial. Como ocorre em economias bem dotadas em recursos naturais, no período de alta, há expansão no emprego, encarecendo os custos de outros setores, como a indústria manufatureira.
Fonte: Folha de S. Paulo
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