Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 28 de maio de 2013

A discreta rebelião dos consumidores da China

Em uma noite fria recente, Philip Chow deixou para trás uma longa fila de pessoas à espera de táxis no aeroporto de Pequim ao usar um aplicativo no smartphone que informou a motoristas que ele pagaria gorjeta extra para quem o apanhasse rapidamente.

O app, chamado Didi Dache — Honk Honk, Catch a Cab — é um dos exemplos recentes de uma nova força que está varrendo a China: o poder do consumidor.
As famílias estão ficando impacientes com controles governamentais contrários aos seus interesses. Elas começaram a obter vitórias não só achando formas de contornar as tarifas artificialmente baixas que reduzem o número de táxis nas ruas, mas também alternativas aos altos preços da telefonia celular cobrados por operadoras estatais e os baixos rendimentos oferecidos pelos bancos do Estado à poupança.

A tendência, que com frequência conta com a ajuda da tecnologia, inova em pontos que os líderes chineses têm falhado, redistribuindo a riqueza e repassando para os consumidores mais benefícios gerados pelo desenvolvimento. Isso é crucial para um crescimento sustentável.

O Didi Dache é um pequeno mas importante exemplo dessa tendência. As tarifas de táxi definidas pelo governo não acompanharam a inflação, desmotivando os motoristas a continuar trabalhando. "Se é hora do rush, esqueça os táxis", diz Chow, um consultor de filantropia que vive em Pequim. O novo aplicativo coloca em ação as forças de mercado, permitindo que os clientes paguem um prêmio para conseguir um táxi rapidamente.

Nos últimos dez anos, a combinação de baixos salários, baixas taxas de juros pagas pelos bancos sobre os depósitos e oportunidades limitadas para os empreendedores impediu as famílias chinesas de obter sua parcela na prosperidade crescente do país.
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Economistas dizem que para isso ocorrer seriam necessárias mudanças em tudo, do controle do governo na economia a um sistema financeiro mais baseado no mercado. O governo tem feito algum progresso, tornando o aumento do salário mínimo uma política chave para ampliar a renda familiar.

Mas as estatais chinesas são um grande obstáculo para mais avanços. Elas se beneficiam de acordos existentes para obter lucros de mais de 1,4 trilhão de yuans por ano (US$ 230 bilhões). "As estatais têm muitos meios à sua disposição para impedir reformas", diz Minxin Pei, especialista em política chinesa da universidade Claremont McKenna, da Califórnia.

No entanto, mesmo com as limitadas mudanças na política, o poder do consumidor significa que pequenas mas importantes mudanças estão ocorrendo.

Nas empresas de telecomunicações, há tempos os consumidores são reféns das altas tarifas para mensagens de texto por parte das três estatais que dominam o mercado. Agora, o WeChat, um aplicativo gratuito de mensagem on-line, oferece uma alternativa — permitindo que usários de smartphones troquem mensagens de texto e voz livres de tarifas por meio da internet. O WeChat já conquistou 300 milhões de usuários desde que ele foi lançado há dois anos e meio pela gigante da internet Tencent Holdings Ltd. 0700.HK +1.26% — uma das maiores empresas do setor privado na China.

"Antes, eu gastava 100 yuans por mês para enviar mensagens e telefonar para meus amigos. Agora, a conta do meu celular não chega a 50 yuans", diz Liu Yang, uma vendedora de Pequim de 22 anos que usa o WeChat.

No setor bancário, com as taxas de juros em média abaixo da inflação, as famílias vinham sustentando os gordos lucros dos bancos nos últimos dez anos e permitindo que as estatais obtivessem empréstimos baratos.

Produtos de gestão de fortunas — investimentos de curto prazo que oferecem parte da mesma segurança da poupança, mas retornos mais altos — estão começando a mudar esse cenário.

Os ativos em produtos de gestão de fortuna cresceram de cerca de zero há alguns anos para algo em torno de 7,1 trilhões de yuans (US$ 1,2 trilhão) ao fim de 2012, o equivalente a 8% dos depósitos no sistema financeiro, de acordo com a Comissão Reguladora de Bancos da China. Eles oferecem às famílias retornos de, em média, 4,2% ao ano ante 3% no caso da poupança tradicional.

Esse rápido crescimento também traz riscos, especialmente porque muitos consumidores não sabem no que estão investindo. Em março, o governo restringiu os investimentos mais arriscados e exigiu padrões mais elevados de transparência.

Mas o império estatal chinês ainda pode contra-atacar. O consumo privado foi responsável por apenas 35,7% do produto interno bruto em 2012, em comparação com cerca de 70% nos Estados Unidos. As contas de investimento representam 46,1% do total, um alto índice para os padrões históricos e internacionais. As mudanças recentes, como o serviço alternativo de torpedos e produtos de gestão de recursos permitiram trazer de volta algum dinheiro para o bolso do consumidor, mas não tudo.

Fonte: The Wall Street Journal

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