A melhora da confiança do consumidor americano sustenta a teoria de que a economia do país está se reanimando.
As suspeitas do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que a economia americana enfim começa a se reanimar, após quase cinco anos em que oscilou entre a recessão e a letargia, receberam ontem uma confirmação enfática, embora ainda não definitiva.
O índice de confiança do consumidor dos EUA deu um salto para 76,2 em maio, o nível mais elevado desde o início de 2008, ano do colapso de Wall Street, superando largamente a expectativa média dos analistas. Estes esperavam um índice melhor que os 69 de abril, mas nem tanto. A aposta era de um indicador na casa de 72.
Como a maior economia do mundo é movida pelo consumo do seu gigantesco mercado doméstico, se os consumidores estão confiantes no futuro o restante da economia vai atrás, principalmente o investimento. Isso mexe poderosamente com todos os mercados mundo afora. E o Brasil não é exceção.
O retorno do otimismo com a economia americana provocou vigorosas altas nas bolsas mundiais. O principal índice da bolsa de Londres avançou 1,62%, o pregão de Paris subiu 1,39% e o de Frankfurt, 1,16%. Na Ásia, o Nikkei valorizou-se 1,2% e o Xangai Composite, 1,2%. Em Nova York, o Dow Jones evoluiu 0,69% e o Nasdaq, 0,86%.
Internamente, a Bovespa destoou, caindo 0,64%, a 56.036,26 pontos. Falta à bolsa paulista o seu combustível vital: investidores estrangeiros.
O dólar ampliou o seu ritmo de alta. Ao contrário das valorizações tímidas exibidas nas sessões anteriores, temerosas de atrair intervenções do Banco Central, a de ontem, amparada por forte argumento externo, foi desinibida. A moeda fechou com alta de 0,88%, cotada a R$ 2,074, maior preço desde 24 de dezembro, quando fechou a R$ 2,078.
Antes de segurar o ímpeto da arrancada do dólar, danoso à inflação, o BC pode querer saber os efeitos da alta que o Copom irá determinar hoje na taxa Selic sobre a disposição dos investidores estrangeiros em aplicar recursos no Brasil.
Mas, agora, o juro brasileiro terá a pesada concorrência dos títulos do Tesouro americano. Ontem, as taxas dos treasuries subiram com desenvoltura, antecipando a já prometida retirada gradual dos estímulos monetários ao crescimento criados pelo Fed. O juro dos T-Notes de 10 anos avançaram de 2,01% para 2,16%. As taxas para o papel de 30 anos subiram de 3,17% para 3,32%.
Os analistas defendem que o BC não se limite a esperar pela reação dos estrangeiros à nova Selic. Deveria, antes mesmo do início da reunião do Copom de hoje, zerar a alíquota do IOF, atualmente em 6%, que incide sobre a aquisição de títulos de renda fixa brasileiros por parte de estrangeiros.
Mais ainda: para acelerar o ingresso de capitais e tornar desnecessário o uso dos dólares das reservas cambiais, o diretor-executivo da NGO Câmbio, Sidnei Nehme, sugere ao BC reduzir de um ano para 90 dias o prazo dos empréstimos externos sujeitos ao recolhimento do imposto.
A reconfiança na economia americana afetou também o mercado futuro de juros da BM&F. As taxas dos contratos mais longos - as que mais refletem os juros internacionais - dispararam.
Quanto mais longínquo o vencimento, maior a alta, pois a taxa passa a incorporar vários riscos, principalmente o de o câmbio precipitar algum descontrole inflacionário. O contrato para janeiro de 2015 subiu de 8,60% para 8,62%. A taxa para janeiro de 2016 avançou de 9,05% para 9,14%. E, para janeiro de 2017, de 9,37% para 9,49%.
O novo dado sobre a economia dos EUA pode desempatar o jogo no Copom. O principal elemento de incerteza em relação ao resultado da reunião de hoje - se o ritmo de alta de 0,25 ponto seria mantido ou se haveria opção para um aumento mais contundente, de 0,50 ponto - vinha da divisão interna entre os oito membros do Comitê a respeito do cenário externo.
O diretor de Assuntos Internacionais Luiz Awazu Pereira da Silva, para justificar seu voto pela manutenção da Selic em 7,25% no encontro de abril, invocou o cenário desinflacionário prevalecente nos EUA, Europa e Ásia. Se a economia americana sair de fato do atoleiro, Europa e China podem ser içadas juntas.
Esse fator de incerteza desapareceria, abrindo as portas para a construção de um consenso dentro do Copom em torno de uma alta de 0,50, puxando a taxa básica para 8%. Retirado o obstáculo externo, prevaleceriam duas variáveis internas propícias a um aperto monetário mais incisivo: atividade em retomada e esforço fiscal mais brando.
Grande prejuízo para o Brasil poderá causar o choque de políticas contraditórias, na avaliação do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Enquanto a política monetária é contracionista, a fiscal é expansionista.
"De um lado, o BC se esforça para colocar a trajetória da inflação em um curso declinante e convergente para o centro da meta de 4,5%, seja com a elevação da Selic ou nos recentes discursos severos de seu presidente. De outro, para garantir êxito na estratégia de política econômica, a política fiscal executada pelo ministro da Fazenda Guido Mantega míngua sem dó os esforços do BC ao estimular o consumo doméstico por meio de desonerações fiscais e turbinando o crédito nos bancos públicos federais, resultando na equação onerosa de aumento do endividamento público", diz Agostini.
Está na hora de alinhar as políticas monetária e fiscal num viés contracionista, "mas ainda em doses homeopáticas, para não matar o doente". Tanto que Agostini defende que o Copom sustente o compasso mais suave de alta da Selic, de 0,25 ponto.
Não se pode, na sua visão, correr o risco de a economia retroceder justamente nesse início de recuperação, mas é necessário preservar os ganhos da estabilidade conquistados ao longo dos últimos 18 anos.
"O ônus das políticas monetária e fiscal conflitantes está na acomodação da taxa de inflação em níveis acima dos toleráveis por tempo maior que o permitido. Já são quatro anos com inflação média acima de 5,5% ao ano. A perda de poder de compra da população atinge 25% nesse período. Enquanto isso, aumenta o endividamento público via emissão de títulos para aportar recursos nos bancos públicos federais", diz Agostini.
Ele lembra que o capital social da Caixa Econômica Federal (CEF) subiu 169%, de R$ 9,3 bilhões para R$ 25 bilhões, entre 2009 e 2013. Esses aumentos foram feitos por meio de aportes do Tesouro e de transferências de ações de empresas estatais. No ano passado, a Petrobras concedeu R$ 1,5 bilhão à Caixa por meio desta modalidade.
Fonte: Brasil Econômico
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