Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Diferença de salários de emergentes e países ricos é cada vez menor


Relatórios de consultorias e instituições internacionais vêm chamando a atenção para um fenômeno que promete revolucionar o mercado global: a convergência entre salários dos países emergentes e do mundo rico.
"Mesmo antes da eclosão da crise financeira, os salários já vinham aumentando em países como Brasil e China em função do crescimento dessas economias", explicou à BBC Sangheon Lee, coordenador do Relatório Global dos Salários da Organização Internacional do Trabalho (OIT) 2012/2013, que ressalta essa tendência.

"Do outro lado, nos países desenvolvidos os salários estagnaram, principalmente depois da crise", conta o especialista, mencionando o exemplo dos Estados Unidos, onde a média de salários não sobe há 20 anos.
"O resultado é esse fenômeno da 'convergência salarial', em que os salários ao redor do mundo estão pouco a pouco se aproximando."
Não é a toa que o aumento dos custos da folha de salários tornou-se uma reclamação frequente dos empresários brasileiros. Nem que já seja relativamente fácil encontrar executivos europeus procurando empregos no Brasil.
Um estudo feito pela consultoria Michael Page para a BBC Brasil, por exemplo, mostra que, ao menos nos cargos de gerência, profissionais do Brasil e do México já chegam a ganhar salários maiores que seus colegas da Inglaterra, Alemanha e França.
Nos cargos menos qualificados, os salários ainda são bem maiores nos países ricos, mas segundo Lee também têm convergido em um ritmo significativo.
De acordo com o estudo da OIT, por exemplo, desde 2006 os salários brasileiros cresceram a uma média de 3,4% ao ano.
Já nos países desenvolvidos a alta anual foi de apenas 0,4% no período - e a média estatística ainda esconde dois anos em que houve quedas salariais: 2008 (-0,3) e 2011 (-0,5).
Em 2010 e 2011, o crescimento dos salários brasileiros teria sido de 3,8% e 2,7%, respectivamente, enquanto a média global seria de 2,1% e 1,2%.
Entre os emergentes, porém, o campeão dos aumentos nos contracheques é sem dúvida a China. Lá, os salários triplicaram entre 2000 e 2010, segundo a OIT.
Para se ter uma ideia, não fosse o aumento chinês, a média global calculada pela OIT cairia de 2,1% para 1,3%, em 2010, e de 1,2% para 0,2%, em 2011.

Consequências

As consequências dessa convergência salarial global ainda estão começando a ser debatidas por especialistas.
Segundo Lee, porém, uma delas parece estar clara: ao menos para os países emergentes, o modelo de crescimento baseado no trabalho barato em indústrias intensivas em mão de obra está com os dias contados.
Ele diz que aqueles que não conseguirem aumentos significativos de produtividade, apostando em setores econômicos mais complexos e na qualificação de seus trabalhadores, podem estar condenados a patinar em meio à competição dos mercados globais.
"Os países já entenderam que ninguém consegue se desenvolver com salários baixos. Mas é preciso que haja um equilíbrio entre aumento de salários e aumento da produtividade", diz Lee.
"Se os salários aumentam e a produtividade não, o país se torna pouco competitivo - maior risco entre os emergentes. Já entre as nações desenvolvidas, o problema é que se só a produtividade aumenta e os salários ficam estagnados - caso dos EUA - o mercado interno tende a se comprimir e há mais desigualdade."
Segundo Sen, melhorar a qualificação dos trabalhadores e investir em educação parece ser um dos desafios de alguns países que estão assistindo a um esgotamento do modelo de crescimento que aproveita a vantagem comparativa de uma mão de obra barata - entre eles o Brasil.
"Para outros, como a China, o problema mais urgente ainda é ampliar a proteção e remuneração da força de trabalho, já que os salários baixos reduzem o potencial de consumo interno e aumentam a dependência do mercado externo."
É por isso que, na China, os aumentos salarias são, em grande medida, consequência de políticas governamentais. No ano passado, o governo chinês aprovou um plano para o mercado de trabalho do país que prevê um aumento do salário mínimo de pelo menos 13% até 2015.
O objetivo é fazer com que essa remuneração básica alcance o patamar de 40% do salário médio do país nesse período.

Mudanças nas empresas
Outra possível consequência do aumento dos salários em países emergentes é uma redução de seu poder de atração de investimentos externos em setores intensivos em mão de obra.
Segundo uma pesquisa recente do Boston Consulting Group, por exemplo, em função desses aumentos recentes, o salário industrial médio da China já teria superado o mexicano se consideradas as diferenças de produtividade.
Com isso, o país latino-americano já estaria em condições de reconquistar investimentos americanos que fugiram para a Ásia nas últimas décadas, segundo a consultoria.
E algumas empresas, como a fabricante de armários Viasystems, de fato já decidiram realocar parte de sua produção da China para o México recentemente de olho nesses salários baixos de trabalhadores não-qualificados (embora, nos cargos de gerência, os salários médios no México já estejam maior que os de países europeus, segundo o estudo da Michael Page.)
Alguns países da África também pretendem ganhar com o fenômeno, atraindo investimentos que iam para o gigante asiático - ou ao menos conseguindo que chineses contratem mais mão de obra local ao investir na região.
Para Sen, porém, o mais provável é que os empregos chineses sejam realocados em outros países asiáticos, como o Vietnã, em função da gravidade de algumas deficiências de mercados africanos em áreas como infraestrutura e estabilidade institucional.
É claro que, como ressaltou Sen, o fato de haver um movimento no sentido de uma convergência salarial não significa que os salários estejam perto de ser equivalentes ao redor do mundo - principalmente no que diz respeito aos níveis mais baixos da escala de remunerações.
Segundo a OIT, enquanto um operário ganha US$35 (R$70) por hora na Dinamarca, ou US$13 (R$26) nos Estados Unidos, no Brasil ainda recebe apenas US$6 (R$12) e nas Filipinas, US$1,5 (R$3).
Só para citar um exemplo, trabalhadores do McDonald´s - que realizam mais ou menos a mesma função em diversos países do mundo - ainda recebem um salário inicial de aproximadamente 970 libras, ou R$3.000, em Londres.
Em São Paulo, voltam para casa com um contracheque que não chega a um terço desse valor – ainda que ele tenha aumentado nos últimos anos, seguindo as altas do salário mínimo brasileiro.

Fonte: BBC Brasil


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