Um choque de competitividade. Essa é a agenda que Paulo Skaf tem pleiteado junto ao governo federal e um dos motivos da aproximação do executivo com o Palácio do Planalto.
A emblemática redução das tarifas de energia foi o principal fruto dessa relação. "Uma guerra" que a Fiesp travou por três anos e que foi vencida no final de 2012. Agora, afirma, é preciso reduzir a burocracia e a complexidade tributária.
O segundo tema já está sendo tratado no Congresso, com a proposta de mudança da alíquota interestadual do ICMS. A primeira ainda carece de iniciativas.
Mas o que tem sido feito até aqui, garante, já é suficiente para que a indústria registre números positivos este ano. Para os próximos, a agenda passa até pela sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo.
Segundo ele, é preciso uma cara nova no Palácio dos Bandeirantes para devolver ao estado seu caráter de referência.
Fala-se muito que nossa indústria não tem produtividade suficiente para concorrer com China, ou até mesmo Alemanha e Coreia. Isso é fato, ou não?
Não. Na verdade, há casos na indústria brasileira que são referência no mundo. Não podemos trabalhar com a exceção. Temos que olhar para a regra, a maioria. Não podemos desqualificar uma classe por causa de poucos maus profissionais, quando se tem mais de 90% de coisa boa. Nossa indústria é moderna, com inovação, grande volume de mão de obra formada. Só no Senai de São Paulo temos um milhão de matrículas por ano. Não formamos engenheiros, mas executores.
Mas a produtividade da nossa mão de obra é comparável com a de países ditos competitivos?
É. Entendo que nosso problema não está da porta para dentro. Nas empresas multinacionais, em geral, nossas plantas estão entre as mais eficientes.
Mesmo nas indústrias têxtil e calçadista?
Isso vale para todos. Se pegarmos alguma empresa altamente competitiva na China, ou na Coreia, e colocá-la aqui, no dia seguinte ela perderá sua competitividade. Na China, a moeda é desvalorizada e aqui é sobrevalorizada. Lá os juros reais são negativos, aqui positivos. Lá há custo barato de logística e infraestrutura. Aqui tudo é caro. Não tenho a menor dúvida de que no caso brasileiro os problemas são conjunturais. Nos falta isonomia. O problema não está da porta para dentro. Está da porta para fora.
As medidas tomadas pela Presidente Dilma não tem ajudado a aumentar a competitividade?
Se nós compararmos os inícios de 2012 e 2013, em termos práticos aconteceram coisas importantes. Juros baixaram, câmbio melhorou, tivemos desonerações, o fim da guerra dos portos e a aprovação da MP dos Portos. Mas ainda tem muito a ser feito, a começar pela burocracia. É preciso deixar que as coisas sejam realizadas de maneira fácil.
A logística ainda é um dos principais entraves. Vislumbra alguma melhoria?
Lançamos na semana passada o Índice de Desempenho de Transporte. O estudo é feito a partir dos cinco modais de transporte, (rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos e portos), com 18 indicadores colhidos nos 50 centros urbanos mais importantes e comparamos com o benchmark internacional. Nossa nota, de 0 a 100, é 33. Estamos com um terço do ideal. Agora, o governo quer construir 6 mil quilômetros de ferrovias. Temos um total de 12 mil quilômetros de ferrovias transitáveis . Aumentaremos em 50% a nossa capacidade. Além de 7 mil km de rodovias. Ótimo. Mas isso efetivamente só fará a diferença quando o trem utilizar essas vias com carga.
A parte mais crítica é o efeito sobre as exportações?
É muito desvantajoso exportar no Brasil. Temos impostos sobre impostos. Uma parte do custo do produto são impostos. No mundo inteiro, ninguém exporta impostos, só aqui. Para compensar, foi feito o Reintegra de 3%, mas que não abrange a todos e não resolve o problema. Enquanto se exporta uma geladeira em um país competitivo com custo de R$ 50, aqui é R$ 150.
O governo brasileiro tem procurado nestes dois últimos anos atender a uma agenda de competitividade da indústria?
Não existe competitividade da indústria, somente a do país. Fizemos um estudo que gerou muita polêmica mostrando que uma calça jeans do Paraguai é mais barata que a nossa. Não é por causa da empresa X, Y ou Z, é por causa do país. O custo de produção no Brasil é bem mais caro. A competitividade brasileira está afetada.
No curto prazo, o que pode ser feito?
Acho que as coisas que foram feitas tendem a causar impacto rapidamente. Quando se reduz impostos, preço da energia, há um impacto quase que imediato. Já a burocracia e a complexidade tributária são paradigmas que precisamos quebrar. Nossa principal preocupação precisa ser a competitividade. Existe uma realidade mundial sobre a qual não temos influência. Somos impotentes quanto à economia dos países desenvolvidos. Temos que focar no Brasil. Quanto mais preparados estivermos, ficaremos mais resistentes para enfrentar crises e aproveitarmos o desenvolvimento.
Reclamam que o Brasil se tornou um país demasiadamente protecionista. Concorda?
É muito perigoso para o país não ter qualquer medida de defesa comercial. O que fazemos não é protecionismo. Em um mundo em que existe uma prática clara de dumping por outros países, você precisa de ferramentas de defesa comercial. E ainda estamos usando essas ferramentas com muita demora. Um processo de dumping demora mais de um ano para ser concluído e o estrago é rápido. Mas de qualquer forma, qualquer medida no sentido de proteger uma reserva de mercado não é uma solução para nada. A nossa solução é baixar o custo. Produzimos de forma eficiente, temos qualidade, mas o custo conjuntural não nos permite competir.
Como vê a relação problemática com a Argentina?
Ela passa por problemas políticos e econômicos. Existem empresas argentinas com capital brasileiro e que não conseguem transferir lucro para o Brasil. Uma chegou a mim e mostrou seus problemas para exportar da Argentina para o Brasil. São obrigados a remeter os dólares daqui para lá para pagar a exportação, mas não conseguem remeter os lucros, que seriam usados até para pagar essa exportação. Eles investiram, por exemplo, US$ 100 milhões lá, e exportaram para cá US$ 100 milhões. Agora tem US$ 200 milhões para receber lá e não conseguem pagar a operação. Há também problemas na exportação brasileira para lá. Estes dois problemas precisam ser resolvidos.
Vê o Brasil preso ao Mercosul?
Acho que as relações com países desenvolvidos precisam existir, mas não impedem que o Brasil esteja próximo dos países do Mercosul. Temos superávit com a Venezuela e com a Argentina. Além disso, exportamos para eles produtos de qualidade, manufaturados. Enquanto isso, exportamos commodities para outros mercados. Uma coisa é cobrarmos mais avanço na negociação com a União Europeia, e outra é criticarmos nossa relação com os nossos vizinhos. Há muitos anos o Brasil é superavitário com esses países, o que é bom para nossas empresas.
O que foi feito até agora pela indústria já permite vislumbrar números positivos para este ano e um crescimento sustentado?
Um número positivo teremos. Ano passado caímos 2,5% e a economia cresceu 0,9%. Esperamos crescer 2,5% para o país e para a produção. De menos 2,5%, para mais 2,5%, já é uma bela diferença.
Mas é um número pontual ou sustentável?
Se as medidas tomadas virarem realidade, funcionarem, e outras iniciativas forem tomadas, isso criará uma condição de sustentabilidade de crescimento.
Se o senhor tivesse a caneta na mão, que medida tomaria amanhã?
Algumas coisas têm que caminhar em conjunto. Nenhuma medida sozinha resolve o país. Precisamos garantir que as cadeias produtivas brasileiras tenham um custo isonômico em relação ao mundo. Burocracia, matéria-prima, juros, etc. Alguns produtos já começam no processo produtivo mais caros do que no resto do mundo. Temos que fazer uma planilha com centenas de itens e não sossegar até que todos estejam resolvidos.Quando falávamos, há três anos, sobre competitividade, algumas pessoas nem sabiam se a palavra tinha um ou dois "ti".
Agora, ao menos, todos sabem falar "competitividade"...
Agora há uma consciência sobre isso. Mas precisa ser uma cruzada do Brasil. Além desses pontos, não podemos esquecer a questão da educação. Precisamos de educação de qualidade. Temos o nosso exemplo de São Paulo. Inauguramos cem novas escolas do Sesi somente neste ano.
Como vê a atuação do ministro Guido Mantega?
Falo do governo, não de ministros. A responsabilidade é da Presidente da República. Ela é quem nomeia os ministros. Quando as coisas vão bem ou mal, falamos do governo. Não critico, nem recomendo ministros. Nós tivemos a cruzada da energia, na qual minha postura foi crítica ao governo, que postergava a decisão. Quando foi anunciada a medida, passamos seis meses aliados ao governo. Nossa postura é de independência e de apoiar o que é melhor para o país. Nessa questão da MP dos Portos, a medida enviada pelo governo foi ótima. Aumentava a concorrência e a eficiência. Apoiamos desde o início.
Então não vai fazer nenhum elogio ao Guido Mantega?
Se você quiser elogio... Sinto que o governo não está nas mãos do ministro, e sim da presidente, que tem personalidade forte. Quem manda é ela.
Mas chegou um momento crítico, em que o senhor sequer foi convidado para solenidades no Planalto. Quem cedeu?
Ninguém cedeu. Não tenho a preocupação de agradar, ou de desagradar alguém. O que mudaram foram os assuntos. Quando houve o embate da volta da CPMF, por exemplo, fizemos uma campanha nacional para convencer o congresso e abortar a volta da CPMF. A relação esgarçou por um tempo. Temos esses momentos. Sinceramente, nunca tive nenhum sentimento de oposição à Presidente Dilma Rousseff. Pode ser que alguma crítica possa acontecer, mas nunca senti qualquer desconforto.
Este alinhamento atual é decorrente de demandas que estão sendo atendidas?
A relação entra as pessoas não pode ser assim. Da minha parte, desde o início do governo Dilma, nunca tive dificuldades no trato com a presidente. Às vezes telefone à presidente e obtenho resposta. Me atende quando peço audiências. Nos ministérios também não tenho reclamações. Gosto dela, até pela posição firme dela.
Como manter essa independência com uma candidatura ao governo do estado?
Essa candidatura, se é que vai existir, terá seu momento. Ainda não sou candidato. Tenho toda a minha liberdade. Se isso acontecer, em junho do ano que vem, estarei correndo o estado, falando com o eleitorado, e essas discussões ficam de lado.
É sabido que sua candidatura incomoda o governo do estado. Como vê essa força, antes mesmo de confirmar sua candidatura?
Quando temos uma pré-candidatura e ela incomoda é um bom sinal de que tem consistência. Mas não estou preocupado com isso no momento, porque o trabalho aqui é muito pesado. Minha agenda é só trabalho. Estou cumprindo a minha missão como presidente da Fiesp.
Mesmo se o PT tiver candidato, e é o que tudo indica, o senhor será candidato?
O PMDB terá candidato e teria o maior prazer de receber o PT como vice. É uma decisão do PMDB ser cabeça de chapa. Entendo que o PT tem a prefeitura da capital e a probabilidade enorme da reeleição da Presidente da República. Com a natural tentativa do governador de se reeleger, o eleitor de São Paulo não dará ao PT o governo de São Paulo. Então, o PT terá que tomar uma decisão. Ele quer uma candidatura própria? É legítimo. Mas na história da democracia, em nenhum momento um partido conquistou a capital, o estado de São Paulo e o país.
Já conversou com o PT sobre isso?
Sinto que há muitas conversas, embora eu não tenha tomado parte. Creio que o PT tem consciência do conservadorismo do eleitorado paulista. O PMDB está aberto. Se o PT tiver qualquer intenção, estamos de braços abertos para recebê-lo.
O senhor era filiado a outro partido e foi para o PMDB. Caso ganhe a eleição, em menos de quatro anos o senhor teria uma ascensão meteórica dentro do partido. Como vê a possibilidade de ser o homem mais forte dentro do maior partido do país?
O PMDB, como partido, é maior do que qualquer peemedebista. Tem a vice-presidência da República, a presidência do Congresso, grande bancada de deputados, prefeitos, governadores. Ele é um grande partido e eu só iria contribuir para que o PMDB ficasse ainda maior. Em São Paulo, perdemos um pouco de espaço, e o Palácio dos Bandeirantes é a principal meta. Não é a única, queremos fortalecer a bancada paulista do partido na Assembleia Estadual e na Câmara dos Deputados. Hoje, em São Paulo, ele é um gigante adormecido, embora não seja no restante do país. Mas, lembro, esse projeto para o Palácio dos Bandeirantes não é pessoal, é do partido.
Acha que é preciso uma mudança no governo do estado?
Acho que o Estado de São Paulo precisa de uma cara nova. Se pegarmos um jornal de 15 anos e mudarmos a data, terá uma manchete atual. Tenho um ótimo relacionamento com o governador Geraldo Alckmin, mas o PSDB está no poder há 20 anos. Quando se quer resultados diferentes, é preciso fazer diferente. Tem-se um problema sério na segurança, na saúde, na educação, na mobilidade urbana, na infraestrutura; sinto que há um cansaço. Quem está lá só sabe fazer do jeito que tem feito. É muito vantajoso para o eleitor paulista o PMDB ter um candidato.
Qual a principal necessidade do Estado de São Paulo?
É preciso fazer um planejamento conjunto. O investimento na educação do Sesi/Senai foi uma revolução. A criança chega com 6 anos e sai com 17, pronta para a vida, para cursar uma faculdade ou trabalhar. O que fizemos pode ser feito no estado com as Etecs, Fatecs e escolas estaduais. Com isso, ajudamos também na saúde e na segurança. Isso, se pensarmos no médio prazo. No curto, é preciso atender à saúde. O maior desrespeito que uma pessoa pode sofrer é o mau atendimento na saúde.
Fonte: Brasil Econômico
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