A Itália está considerando permitir que funcionários mais velhos reduzam suas horas de trabalho enquanto empregados mais novos são treinados como forma de diminuir o desemprego, um problema cada vez mais sério na Europa.
O ministro do Trabalho, Enrico Giovannini, disse que planejava discutir esta semana a ideia dos contratos de "transferência entre gerações" com líderes sindicais, que até agora se mostraram bastante favoráveis.
Tal plano poderia gerar economias substanciais para os empregadores e fornecer um atalho crucial para o mercado de trabalho aos jovens a procura de emprego, as maiores vítimas da recessão mais longa da Itália depois da Segunda Guerra.
A iniciativa, entretanto, não criaria novos empregos e os contribuintes teriam que arcar com as contribuições previdenciárias dos trabalhadores mais velhos que decidam participar.
O plano é "caro, mas possível", disse Giovannini.
O governo de coalizão do primeiro-ministro Enrico Letta fez da melhoria da situação dos jovens — 38,4% dos quais estão desempregados, apesar de terem o nível de educação mais alto da história do país — a sua maior prioridade.
Giovannini, um economista que deixou o comando da agência de estatísticas do país para assumir o Ministério do Trabalho, está estudando uma gama de medidas.
Entre elas estão mudanças nas leis para facilitar a contratação de trabalhadores temporários pelas empresas e a renovação dos seus contratos, além de medidas para financiar o programa de suplemento de renda para trabalhadores demitidos durante os períodos de crise.
Mas a "staffetta" entre gerações — que é também a palavra usada em italiano para corrida de revezamento — é a aposta mais notável.
Em suma, uma pessoa próxima da aposentadoria poderia trabalhar meio período por metade do salário, enquanto nas horas restantes o seu trabalho seria feito por um empregado mais novo.
As empresas pagariam menos aos jovens empregados, ao passo que os funcionários mais velhos teriam direito à contribuição integral para a previdência. Essas contribuições, que giram em torno de 10.000 euros (US$ 13.000) por ano, em média, teriam de ser pagas com dinheiro público.
Fiorella Kostoris, uma especialista em finanças públicas que uma vez sugeriu que a Itália abolisse sete dos seus feriados, disse que compartilhar um emprego — em vez de criar um novo — é um grande retrocesso.
"Trabalhar menos de modo que mais pessoas possam trabalhar não vai nos levar a lugar nenhum", disse ela. "Para fazer mais pessoas trabalharem, todos nós temos que trabalhar mais."
Diante de problema semelhante, o presidente da França, François Hollande, criou incentivos fiscais que visam convencer as empresas a contratar jovens ao mesmo tempo que se comprometem a manter aqueles com 57 anos ou mais.
O governo espera que a proposta, aprovada pelo Parlamento em março, possibilite a até 500.000 jovens encontrar um emprego permanente nos próximos cinco anos. Os economistas dizem que o número real de novos postos de trabalho provavelmente vai ser muito menor porque o governo estará subsidiando empregos que seriam criados de qualquer maneira — a um custo anual de 1 bilhão de euros.
Mas a ideia do "revezamento" na Itália tem o possível mérito de oferecer um alívio rápido a uma debilitada economia sob risco de se estagnar ainda mais, já que o pessimismo quanto ao mercado de trabalho vem diminuindo o consumo até dos lares relativamente abastados.
A medida também evitaria o contínuo desperdício de um capital humano jovem e com alto nível de educação em longos períodos de desemprego.
"Precisamos medir o custo disso em comparação ao custo de não fazer nada", disse Giovannini em entrevista ao The Wall Street Journal.
O governo também espera que esse tipo de programa de emprego talvez até aumente o poder de barganha da Itália diante dos guardiões fiscais da União Europeia.
Na próxima grande cúpula do bloco sobre o desemprego dos jovens, marcada para junho em Bruxelas, a Itália pretende argumentar que o investimento em capital humano deveria ser diferenciado de outras formas de gastos públicos e receber tratamento privilegiado, disse Stefano Grassi, um assessor de Letta, numa entrevista coletiva ontem.
Num discurso no Parlamento, também ontem, o próprio Letta disse que a Itália e a Europa precisam agora gastar "a mesma energia na formulação de estruturas políticas que favoreçam o crescimento econômico e a criação de empregos que gastaram exigindo credibilidade nas finanças públicas".
O número de desempregados na Itália está hoje pouco abaixo dos três milhões. Mas quem responde pelo grosso deste desemprego são os jovens italianos que nunca conseguem arrumar um trabalho estável, já que o número de italianos mais velhos com empregos bem remunerados se mostrou notavelmente resistente durante os últimos cinco anos da crise.
Junte a isso aqueles que gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar emprego, mais as pessoas recebendo auxílio-desemprego e o contingente real de desempregados na Itália chega a quase de 4,6 milhões, segundo um estudo divulgado esta semana pelo Ires, uma unidade de pesquisa do sindicato CGIL. Trata-se do dobro do número de 2007, de acordo com o estudo.
Vários empregadores já expressaram interesse na proposta do revezamento, que já vem sendo introduzida em menor escala na região da Lombardia, no norte da Itália.
Enquanto as empresas claramente têm a ganhar, a proposta talvez tenha que ser melhorada para atrair voluntários entre os trabalhadores. Isto porque os salários líquidos na Itália são geralmente baixos demais para convencer os trabalhadores a aceitar um corte na renda.
Por outro lado, se eles receiam acabar ficando sem emprego nenhum, neste caso a situação deles poderia até ser pior: contribuições reduzidas para a previdência ou vários anos esperando até que tenham direito a aposentadoria integral.
Fonte: The Wall Street Journal
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