O boom de commodities que durou mais de dez anos na América Latina, reforçando o crescimento da região e tirando milhões de pessoas da pobreza, está dando sinais de enfraquecimento, à medida que a demanda da China desacelera, golpeando economias em todo o continente.
A prova mais recente de uma desaceleração regional veio na quarta-feira, quando o governo brasileiro informou que sua economia cresceu apenas 1,9% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior, muito abaixo das estimativas de crescimento de 2,4%. Em comparação com o trimestre anterior, o PIB do país registrou um crescimento modesto de 0,6%, levando o governo a baixar sua previsão do crescimento para este ano, de 3,5% para um percentual não especificado.
"É evidente que não vamos conseguir um impulso do comércio por um bom tempo e que o boom das commodities já passou", disse André Perfeito, economista-chefe da corretora paulista Gradual Investimentos.
O crescimento em outros países da região também está diminuindo, após uma expansão acelerada nos últimos anos.
A China, a maior compradora das exportações da América Latina, vem registrando crescimento menor que o previsto e economistas dizem que a era de expansão de dois dígitos do país chegou ao fim. Na quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional previu que a economia chinesa provavelmente vai crescer 7,75% este ano, abaixo de sua estimativa anterior de 8%.
As importações chinesas do Brasil, por exemplo, alcançaram US$ 44 bilhões em 2011, comparado com apenas US$ 1 bilhão em 2000, mas registraram queda no ano passado.
A China representa cerca de 40% da demanda global de metais, e isso poderia causar problemas para o Chile e o Peru, onde a mineração representa cerca de um quinto da produção econômica. E os preços globais de metais, como o ouro, vêm caindo este ano.
O Chile, que depende fortemente das exportações de cobre, viu sua economia desacelerar no primeiro trimestre, expandindo a uma taxa modesta de 0,5% em relação ao trimestre anterior. A economia do Peru cresceu 2,1% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, a menor taxa de expansão em mais de três anos.
"Se os preços das commodities recuarem aos níveis de 2003, todo o suporte da América Latina pode vir abaixo", diz David Rees, um economista de mercados emergentes da Capital Economics. Na semana passada, ele rebaixou sua estimativa de crescimento para a América Latina este ano, de mais de 3% para 2,8%.
Tom Findley, um californiano de 64 anos, que trabalhou no Peru por mais de dez anos e é diretor-presidente da mineradora Cristal Resources, diz que "alguns projetos que representam grandes investimentos serão adiados e isto vai ter um impacto sobre a economia".
A economia do México também está desacelerando, embora por razões diferentes. A economia do país, centrada na produção industrial e mais intimamente ligada com a dos Estados Unidos, também desacelerou no primeiro trimestre, levando o governo a rebaixar sua previsão de crescimento para o ano, de 3,5% para 3,1%.
A desaceleração na América Latina é uma má notícia para as empresas da região. O Santander SA, o maior banco da zona do euro em valor de mercado, obtém cerca de metade do seu lucro na América Latina. A gigante cervejeira SABMiller SAB.LN -1.39% PLC informou recentemente que uma desaceleração econômica em mercados latino-americanos importantes, como a Colômbia, está pressionando as vendas. A América Latina vinha sendo responsável por mais de 40% do crescimento do lucro da SABMiller desde 2007.
"Neste momento, é difícil pensar em novos investimentos", diz Germán Rodríguez, sócio-gerente da AyG SA de Bogotá, fornecedor local de autopeças para fábricas da General Motors GM -1.20% na Colômbia. As vendas de automóveis no país caíram 23% este ano.
Carlos Rodolfo Schneider, vice-presidente da empresa catarinense Ciser Parafusos e Porcas, a maior produtora de parafusos e porcas da América Latina, diz que suas exportações caíram da média de 20% do total de vendas nos últimos anos para apenas 5%.
"Os lucros estão muitos apertados" e as vendas devem subir ligeiramente este ano, diz Schneider. "Produtos asiáticos estão chegando no mercado com preços muito baixos e temos que adaptar nossos preços aqui para níveis internacionais."
E não é só isso. Temores de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, comece a relaxar suas políticas de estímulo enfraqueceram uma série de moedas latino-americanas, elevando os custos de importação. Isso ocorre em um momento ruim para o Brasil, que está tentando controlar a inflação persistente, agora em 6,5% nos 12 meses encerrados em abril.
Fonte: The Wall Street Journal
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